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Comércio de Campo Grande não está disposto a ceder ao bloqueio parcial

Medidas restritivas podem gerar desemprego e fechamento de lojas, dizem empresários

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Com o aumento de casos do novo coronavírus (Covid-19) em Campo Grande, o governo do Estado, por meio do Programa de Saúde e Segurança da Economia (Prosseguir), recomendou que a Prefeitura de Campo Grande adotasse medidas mais restritivas. 

Entidades e associações que representam o comércio não se mostram dispostas a adotarem as recomendações e apontam como “desnecessário” o fechamento das atividades não essenciais (lockdown).

A Capital está classificada no nível extremo do programa desenvolvido pelo governo do Estado, em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), desde a segunda quinzena de julho. Com este nível de classificação, são recomendadas medidas mais agressivas de distanciamento social. Hoje, o assunto será discutido judicialmente entre os envolvidos.

Para o gerente de Relações Sindicais da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de MS (Fecomércio-MS), Fernando Camillo, não há necessidade de adotar medidas mais rígidas. 

“Nós entendemos que o prefeito elaborou essas medidas paulatinamente, de acordo com as necessidades. O comércio é o motor da economia e acaba sendo prejudicado com restrições. Concordamos plenamente com ele [prefeito] que não há necessidade de lockdown: fechar o comércio todo é impraticável. O comércio já está obedecendo rigorosamente as medidas de biossegurança. Quem vai ser prejudicado? Empresas e empregados, porque muitos terão de demitir. Fechar não resolve, se não houver fiscalização dos outros setores”, disse Camillo.

Levantamento do Instituto de Pesquisa Fecomércio-MS (IPF-MS), em parceria com o Sebrae-MS, aponta que muitas empresas se adaptaram à nova realidade e registraram recuperação nos meses de junho e julho. 

De acordo com a terceira edição da pesquisa “Impactos do Coronavírus no Comércio de Bens e Serviços de MS”, entre maio e junho, 24% dos empresários do Estado demitiram funcionários, enquanto em março e abril o número era de 37,33%. A perspectiva é a de que nos próximos três meses haja uma amenização ainda maior e o porcentual chegue a 8%.

A pesquisa mostra ainda que a maioria dos empresários (67%) realizou alterações nos canais de comercialização: passaram a vender pelas redes sociais (34%); utilizaram ou intensificaram o uso de plataformas on-line de comercialização (22%); e investiram no atendimento em domicílio ou a distância (11%). 

E, destas mudanças, a maioria (80%) disse que serão mantidas no pós-crise. Conforme a pesquisa, muitas empresas ampliaram as vendas. Entre os segmentos que tiveram ampliação mais significativa, estão os eletrônicos e as peças para automóveis.

RESTRIÇÕES

Entre março e abril, Campo Grande vivenciou o fechamento das atividades econômicas. O primeiro-secretário da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG), Roberto Oshiro, diz que o setor ainda não se recuperou. 

“As empresas ainda não se recuperaram das duas semanas de março. A nossa economia é dependente dos pequenos comércios e serviços. Se fechar de novo, vai ser o caos. O ‘minilockdown’ [fechamento nos fins de semana] já trouxe o fim de empresas e funcionários demitidos. A falta de renda e o desemprego trazem outros problemas sociais. O desastre econômico é muito grave: o lockdown é um remédio que mata toda a sociedade”.

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-MS) disse, por meio de nota, que vê com extrema preocupação um possível lockdown, pois o setor não tem fôlego para se manter totalmente fechado, uma vez que as restrições impostas, como redução de horário de atendimento e fechamento nos fins de semana, já trouxeram inúmeros prejuízos. 

“Até agora, já foram fechados mais de cinco mil postos de trabalhos e o grosso das demissões ainda está por vir – no fim de agosto, início de setembro, quando começam a vencer os períodos de estabilidade oriundos dos afastamentos pelas suspensões dos contratos de trabalho. Mesmo com a abertura parcial, já tivemos fechamentos de estabelecimentos do setor e isso poderá se intensificar”, informou.

COMPORTAMENTO

Para os empresários, o que precisa mudar é o comportamento da população, não a abertura das lojas. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Campo Grande (CDL-CG), Adelaido Vila, disse que parte dos negócios vão morrer caso haja nova medida de restrição. 

“Vivemos isso nos dois sábados que ficamos fechados: as pessoas tratam como um feriado. Quem está trabalhando, está cumprindo as medidas no ambiente de trabalho. Com as restrições, corremos o risco de aumentar o índice, sem falar nas reuniões de família e festas clandestinas. Há necessidade de entender os hábitos das pessoas que estão contaminadas: tem gente que está em casa há muito tempo e fica doente do mesmo jeito. Quem prova para nós que essa é a melhor saída? Qual o dado que o comércio é o responsável pela contaminação? Será que o caminho não é abrir mais leitos? Nos shoppings, por exemplo, de um universo de 10 mil trabalhadores, 12 foram contaminados pela Covid-19. A solução não é fechar, é ter um outro olhar sanitário”, explicou.

A ideia foi reforçada pelo presidente da Associação dos Lojistas dos Shoppings Campo Grande e Norte Sul, Kermson Martins. De acordo com o empresário, nos dois fins de semana de “minilockdown” as pessoas não respeitaram o distanciamento.  

“Quando as pessoas estão trabalhando, estão respeitando as medidas de segurança. Se estão em casa, vão à casa de amigos e familiares e não se cuidam. O consumidor no shopping também cumpre todos os regramentos, tem de usar máscara, aferir temperatura, as lojas respeitam a capacidade por metro quadrado, então esse consumidor está protegido. Sem shopping, comércio, essa pessoa pode estar na casa de outras”, reiterou.  

O representante da ACICG também frisa que o ambiente do comércio é controlado. Oshiro afirma que, se as pessoas respeitarem as medidas, o contágio será menor. 

“A própria experiência de Campo Grande mostra que quanto mais restritivas as medidas, mais a curva de contágio aumentou. Já estamos passando do pico, para quê vamos penalizar a economia? Não há nenhum fato que mostre que fechar o comércio vai resolver. A nossa população precisa é mudar os hábitos”, destacou.  

Economista ouvido pelo Correio do Estado acredita que restrições por um período maior agora estimulariam uma retomada até o fim do ano. 

“Antes fechar de uma vez só agora do que ficar abrindo e fechando, que é mais difícil de fechar um planejamento para a recuperação”, explicou economista, que preferiu não ser identificado.

META FISCAL

Governo Lula revê trajetória das contas e adia ajuste fiscal para próximo presidente

A meta fiscal será zero para 2025, igual a este ano, com uma alta gradual até chegar a 1% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2028.

15/04/2024 18h00

Após o déficit zero no ano que vem, o governo prevê um superávit de 0,25% do PIB em 2026, 0,50% do PIB em 2027 e 1% do PIB em 2028. Gabriela Biló/Folhapress

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O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai propor uma revisão na trajetória das contas públicas que, na prática, adia o ajuste fiscal para o próximo presidente da República.

A meta fiscal será zero para 2025, igual a este ano, com uma alta gradual até chegar a 1% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2028.

Os números sinalizam uma flexibilização em relação à promessa feita no ano passado, na apresentação do novo arcabouço fiscal, de entregar um superávit de 0,5% do PIB no ano que vem e alcançar um resultado positivo de 1% do PIB já em 2026, último ano de mandato de Lula.

A opção do Executivo pela meta zero no ano que vem também indica ainda a possibilidade de novo déficit, já que há uma margem de tolerância de 0,25% do PIB para mais ou menos. Para este ano, o governo já prevê um resultado negativo de R$ 9,3 bilhões.

Além da piora do cenário, o Executivo também reduziu a velocidade do ajuste fiscal. Se antes o esforço adicional era de 0,5 ponto percentual ao ano, a melhora do resultado agora será de 0,25 ponto ao ano em 2026 e 2027.

Após o déficit zero no ano que vem, o governo prevê um superávit de 0,25% do PIB em 2026, 0,50% do PIB em 2027 e 1% do PIB em 2028, já no primeiro biênio do mandato do próximo presidente da República.

A piora no alvo da política fiscal deve ter consequências negativas sobre a trajetória da dívida pública. Segundo estimativas da própria área econômica, é preciso um superávit de 1% do PIB para estabilizar a dívida -patamar que, agora, só deve ser alcançado no próximo governo.

A intenção do governo de perseguir uma meta menos ambiciosa foi revelada pela Folha de S.Paulo. O número constará no PLDO (projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2025, a ser apresentado nesta segunda-feira (15) ao Congresso.

Na tarde desta segunda, a poucas horas da divulgação oficial, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) confirmou à Globonews a meta zero em 2025, em uma inusual entrevista exclusiva concedida pelo chefe da pasta antes de uma coletiva à imprensa convocada para tratar justamente do PLDO.

Nem Haddad nem a ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) participarão da coletiva para justificar a piora no cenário fiscal, tarefa que caberá a secretários das duas pastas.

"Nós não costumamos antecipar os dados da LDO antes da entrevista oficial, mas vazaram esses dois dados [meta de 2025 e salário mínimo], e aí a imprensa toda está dando. Até me desculpo por estar falando disso antes das 17h, que é o horário combinado. Mas, sim, os dados que eu tenho são esses", disse o ministro.

Além da meta, ele fez referência à previsão de salário mínimo de R$ 1.502 no ano que vem, como antecipou a Folha de S.Paulo.

Apesar da revisão do cenário fiscal dos próximos anos, Haddad disse não desistiu de alcançar um superávit ainda neste mandado do governo Lula. "Tem 2026 ainda", afirmou.

A flexibilização da trajetória fiscal se dá diante de um quadro desafiador para continuar aumentando a arrecadação e alcançar o superávit de 0,5% do PIB, como prometeu o ministro da Fazenda.

Embora o governo tenha aprovado uma série de medidas de receitas ao longo de 2024, boa parte delas são extraordinárias e não se repetirão no ano que vem.

Além disso, membros do Executivo têm a avaliação de que a agenda de arrecadação está se exaurindo, o que dificulta ir atrás de novas receitas.

Um sinal disso são as resistências enfrentadas pelo governo na discussão de medidas enviadas ao Legislativo no fim de 2023, como a reoneração da folha de pagamento de empresas e prefeituras, o fim do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos) e a limitação do uso de créditos judiciais pelas empresas para abater tributos.

A Fazenda precisou abrir as negociações e flexibilizar boa parte dessas iniciativas para melhorar sua aceitação no Congresso. Consequentemente, isso afeta a capacidade do governo de reequilibrar as contas públicas.

Na entrevista à Globonews, Haddad disse que o governo vai manter a interlocução com o Congresso Nacional em busca de novas fontes de receitas. "Vamos rever os gastos tributários", disse. "Vamos fazer a arrecadação voltar um patamar razoável, acima de 18% [do PIB]. A gente está mirando em 18,5% [do PIB]."

Para este ano, a meta já é de déficit zero, e a avaliação mais recente do Orçamento indica um resultado negativo em 0,1% do PIB -dentro da margem de tolerância da meta fiscal, que é de 0,25 ponto percentual para mais ou menos.

Embora a meta seja igual para 2024 e 2025, o governo tem o discurso de que a proposta de Orçamento do ano que vem precisará ser enviada cumprindo esse objetivo central, enquanto neste ano o resultado esperado já é de déficit. Por essa comparação, o governo estaria garantindo a trajetória de melhora contínua das contas.

Meta 2025

Haddad confirma meta fiscal de déficit zero para 2025 e salário mínimo de R$ 1.502

Há um ano, a equipe econômica havia estabelecido que buscaria fazer um superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025

15/04/2024 16h00

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad e presidente Luiz Inácio Lula da Silva Arquivo

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou no período da tarde desta segunda-feira, 15, que o governo definiu a meta fiscal do próximo ano como déficit primário zero, assim como o alvo deste ano, conforme mostrou mais cedo o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. Há um ano, a equipe econômica havia estabelecido que buscaria fazer um superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025.

A confirmação foi dada em entrevista à GloboNews. Haddad pediu desculpas por antecipar os números antes da divulgação pelo Ministério do Planejamento do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) ainda no período da tarde desta segunda-feira, mas argumentou que os números já haviam sido "vazados" à imprensa.

Haddad confirmou também que a projeção para o salário mínimo no próximo ano é de R$ 1.502.

Haddad foi questionado se, com a decisão de revisar a meta de 2025, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, teria desistido de fazer superávits neste mandato. O ministro rebateu, contudo, que ainda haverá 2026 para buscar esse alvo.

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