Apesar do cancelamento de alguns países, Japão manterá a importação da carne de frango de MS
Após a identificação de dois casos de gripe aviária no Brasil, a União Europeia (UE) e outros 12 países já vetaram a importação dos produtos avícolas nacionais. Com isso, há uma perspectiva de que o mercado consumidor tenha maior oferta de frango e ovos, o que, consequentemente, deve gerar queda de preços para o consumidor final.
O mestre em Economia Eugênio Pavão explica que a crise sanitária vai causar a redução de produção nos locais onde as aves foram atingidas pela doença.
“Então, teremos dois movimentos: o aumento da oferta da produção de carne de frango no mercado interno, em razão das restrições do comércio internacional, e a redução dos preços da carne de frango no mercado interno, para substituir as exportações”, avalia.
Conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em Mato Grosso do Sul, o consumidor já se depara com a alta de 12,64% no preço da carne de frango e de 28,91% no valor do ovo nos últimos 12 meses até abril.
O economista Eduardo Matos reitera que a queda dos preços ao consumidor brasileiro é bem provável. “Isso porque, com a gripe aviária, provisoriamente, pode ocorrer de fato uma diminuição dos preços por conta da disponibilidade, da alta disponibilidade do produto [carne de frango] para o mercado interno. No entanto, isso é muito provisório, porque aí entra a segunda situação. Muitas matrizes devem ser sacrificadas. E uma outra questão é que, com uma margem muito baixa, devemos levar em consideração que os custos das granjas estão elevados, por conta do milho”.
Ainda de acordo com Matos, o efeito contrário também pode ocorrer, que é a escassez do ovo no mercado, o que vai acarretar elevação de um alimento que já está pesando no bolso do consumidor.
“A gripe aviária pode contaminar tanto animais de postura quanto animais de corte, ou seja, animais que fornecem ovo ou proteína animal. Então, com o sacrifício de matrizes, basta observar nos Estados Unidos, onde ocorreu isso recentemente, muitos animais de postura podem ser sacrificados e diminuir a disponibilidade de ovo no mercado”, alerta Matos.
“E é um produto que já está em escassez, já está com preço elevado, porque a sua principal matéria-prima, que é o milho, está também com preço elevado. Então, isso pode elevar tanto o preço da carne de frango quanto do ovo. E isso é algo que o consumidor brasileiro deve ter medo”, finaliza o economista.
Pavão ainda frisa que a gripe aviária que atingiu os Estados Unidos provocou a redução da produção de ovos e carne de frango “e a produção brasileira passou a ocupar o espaço deixado pelo controle da doença, reduzindo a oferta de ovos e frango para o mercado brasileiro”.
CASOS
O primeiro caso foi identificado em uma granja comercial em Montenegro (RS). O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou um segundo caso de gripe aviária por influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) em coletiva realizada ontem. Desta vez, a descoberta foi em cisnes silvestres em Sapucaia do Sul (RS), a 60 km de distância de Montenegro.
Outros seis casos estão sendo investigados: dois em granjas comerciais e mais quatro em aves de propriedades familiares de subsistência, ou seja, sem impacto comercial.
Com a identificação dos casos, a China foi o primeiro país a suspender totalmente a compra dos produtos avícolas do Brasil. Em seguida, adotaram a mesma postura Argentina, Uruguai, Chile, México, Arábia Saudita, África do Sul, Canadá e Coreia do Sul, além da União Europeia, que representa outros 27 países, enquanto Japão, Emirados Árabes Unidos e Filipinas restringiram a importação de produtos avícolas apenas oriundos da região afetada pelo foco da gripe aviária.
RELAÇÃO COMERCIAL
Maior comprador de carne de frango de Mato Grosso do Sul nos quatro primeiros meses deste ano, com 10,38 mil toneladas, o Japão vai manter as importações do Estado, apesar do caso de gripe aviária registrado no Rio Grande do sul.
Inicialmente, conforme o diretor da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), Daniel Ingold, havia previsão de que o Japão suspendesse de imediato as compras de todo o território brasileiro.
Porém, conforme o Mapa, desde julho do ano passado, foram alterados os acordos entre os dois países e, por isso, o Japão suspendeu as compras somente do município onde ocorreu o registro da doença.
Por conta disso, os abatedouros de Mato Grosso do Sul seguem habilitados para venderem seus produtos aos japoneses, que, no primeiro quadrimestre, foram os principais parceiros comerciais dos frigoríficos do Estado.
Em valor faturado, a China, que suspendeu as compras, é mais importante, mas isso por conta dos cortes diferentes que são destinados aos dois países. O preço médio do quilo destinado ao Japão é de US$ 2,00, enquanto os cortes exportados para a China têm valor médio de US$ 2,35.
Em quatro meses, o Estado exportou 9,77 mil toneladas de carne de frango para os chineses, o que garantiu faturamento de US$ 22,9 milhões.
Para o Japão, no mesmo período, foram 10,38 mil toneladas, que garantiram faturamento de US$ 20,77 milhões. A China é responsável por 16,19% do faturamento do setor e o Japão, por 14,94%.
Mas, apesar do alívio por conta da manutenção das vendas para o Japão, 6 dos 10 mais importantes paceiros comerciais dos abatedouros de Mato Grosso do Sul suspenderam os negócios por pelo menos dois meses.
Juntos, esses compradores (China, Reino Unido, Holanda, Suíça, Chile e México) garantiram faturamento de quase US$ 60 milhões no primeiro quadrimestre deste ano a Mato Grosso do Sul, o que representa em torno de 43% de tudo aquilo que é exportado.
“Essa crise vem em um momento em que o Brasil aumentava a sua participação no mercado internacional de proteína animal, com carne bovina, suína, frango, etc. O principal risco para o País é a duração do ‘boicote’ às aves brasileiras. Caso a contaminação se espalhe por outros estados, podem surgir barreiras sanitárias fortes contra os produtos brasileiros, bem como a substituição do Brasil por outros mercados fornecedores de carne”, finaliza Eugênio Pavão.
*Colaborou Neri Kaspary
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