Carlos Henrique Braga
Três Lagoas vai abrir pelo menos 10 mil vagas na construção civil em 2011, segundo fontes ligadas ao setor. “O problema será preencher todas elas com pessoas qualificadas”, admite o coordenador do Centro Integrado de Atendimento ao Trabalhador (Ciat), Ivan Alkmin. As obras das indústrias de celulose e papel Eldorado e Sitrel — com início esperado para o segundo semestre deste ano — , além de outras possibilidades, como a reforma do rodoanel, vão aumentar a demanda por trabalhadores. A nova fábrica de fertilizantes da Petrobras, anunciada no início do mês e com oficialização da obra marcada para o dia 27, não entra nessas contas.
A nova onda de construção desde o complexo de celulose e papel, concluído em 2008, demandará principalmente pedreiros, carpinteiros, armadores, montadores, serventes e mecânicos de ajustes. Os salários variam entre R$ 600 e R$ 1.200, turbinados por benefícios que tendem a engordar à medida que a falta de gente não for suprida. (Veja salários médios no quadro)
Aprovada em 2006, a lei municipal que obriga empresas a empregar dois terços de trabalhadores locais em suas obras não contava com a falta de interesse dos três-lagoenses. De acordo com o coordenador do Ciat, grande parte dos profissionais prefere trabalhar por demanda, como na construção de casas e reformas, a comprometer-se com as regras e prazos rígidos dos canteiros de obras das megaempresas. “Trabalhando por conta própria ele faz seu horário, pode ir para casa almoçar, ver a família...”.
Informais, quando procuram o centro em busca de emprego, não têm experiência de seis meses na carteira de trabalho exigida pelas empresas, o que dificulta a colocação no mercado. O prazo para conseguir uma vaga na cidade, de quatro dias, aumenta para 15 no setor de construção civil. O processo para eles é mais rigoroso. “Precisamos encaminhar para mais entrevistas em mais empresas”, conta Alkmin.
A ampliação da termelétrica Luis Carlos Prestes, que demandará contratação de 800 homens em dois anos, dá trabalho ao Ciat. “Tivemos dificuldade para contratar os primeiros 200”.
Mão de obra de fora
O secretário de Finanças da cidade, Walmir Arantes, afirma que não será possível cumprir a lei de contratação, e que é difícil prever quais serão as necessidades da indústria. “Não temos dois terços de trabalhadores locais para essas empresas, elas terão que trazer de fora. Nossa mão de obra está sendo preparada à medida que a demanda dessas empresas surge”. E quando as obras acabam, os mais capacitados vão embora ou voltam para os locais de origem.
Cerca de 80% das pessoas que construíram o complexo de celulose e papel da Fibria e International Paper vieram de outras regiões do País. “As empreiteiras tentam empregar o maior número possível de trabalhadores da cidade, mas acaba recorrendo a pessoas dos estados de onde vieram”, avalia o coordenador do Ciat. Empresas do Rio Grande do Sul e Paraná, por exemplo, têm em sua terra natal o quadro de trabalhadores de que precisa, e os conhece melhor.
Capacitação
Ao chegar à cidade mais industrial de Mato Grosso do Sul, as empreiteiras deparam-se com a baixa procura por capacitação. Em todo o ano de 2009, entressafra para a construção civil em Três Lagoas, apenas 80 pessoas procuraram os cursos de qualificação oferecidos pelo Serviço Nacional da Indústria (Senai).
Neste ano, a meta da instituição é capacitar gratuitamente 616 pessoas nas funções de eletricista, encanador, armador, carpinteiro, pedreiro e pintor. A quantidade deve aumentar com a ajuda da Petrobras, que recentemente anunciou construção da terceira unidade produtora de fertilizantes após meses de indefinição. Para dar oportunidade a quem é de Três Lagoas, a estatal pediu à prefeitura que selecione interessados em aperfeiçoar-se nas funções necessárias à construção do empreendimento.
Salários defasados
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil da cidade, Sebastião Borges, o incentivo que os trabalhadores precisam para melhorar o desempenho é para o bolso. “Os salários estão defasados e não há convenção coletiva na nossa categoria. Por isso, muitos preferem a informalidade, que paga mais”. Segundo ele, 40% da mão de obra em Três Lagoas é informal, e isso não deve mudar. Para conseguir melhores salários e benefícios nas grandes empresas, o sindicato fecha acordos com cada uma delas. “Já fechei com duas, e vamos atrás das próximas que chegarem”.