Início de ano exige administração mais cuidadosa da contabilidade doméstica, pois as despesas mensais são mais elevadas e os descontos salariais são maiores. Em janeiro, o consumidor deve arcar com dois tributos que pesam muito no bolso: Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Além disso, há matrículas nas escolas, compra de material escolar e faturas de gastos do fim de ano. A recomendação de especialistas é de priorizar o pagamento das contas e não cair na tentação das liquidações sazonais.
Neste ano, os contribuintes de Campo Grande devem se preparar para reajustes de até 15,53% no IPTU. Os proprietários de veículos terão que arcar com IPVA com desvalorização do valor venal de até 8,17%, inferior ao deságio do mercado, que chega a 25%. As pessoas que têm filhos em escolas particulares terão desembolso médio 12,54% maior, o dobro da inflação de 6,5% acumulada em 12 meses (até novembro) na Capital.
Caso não sejam bem administradas, essas contas podem comprometer o orçamento da família durante todo o ano, segundo observa a economista Andréia Ferreira, especialista em finanças pessoais. Ela orienta que as pessoas priorizem o pagamento à vista dos impostos para economizar com os descontos. No caso do IPTU de Campo Grande, o desconto é de 20% para essa forma de pagamento. Em se tratando do IPVA, a redução é de 10% no pagamento em parcela única. Caso não extrapole o orçamento, o contribuinte pode parcelas esses tributos: o IPTU pode ser quitado em até oito vezes e o IPVA, em até três.
O passo inicial, conforme a economista, é o planejamento. “Muitas pessoas dizem, no início de ano, que vão ser mais organizadas nas contas. Mas não é só falar. Devem agir também. A primeira coisa é fazer o orçamento doméstico”, afirma. Com isso, o consumidor poderá descobrir a sua capacidade de pagamento, de acordo com a economista. “E, na construção desse orçamento, toda a família deve estar envolvida para que ninguém fique como vilão da história”, acrescenta.
Com as anotações em mãos do que têm a receber e os gastos que terão que arcar, as pessoas poderão liquidar as contas de modo ordenado. Entre essas despesas, estão as faturas com as contas acumuladas no fim de ano. O destaque é para o cartão de crédito. Andréia recomenda o pagamento total para fugir dos altos juros das operadoras de cartão (mais de 230% ao ano).
Salários com descontos
O salário mínimo sofreu reajuste nominal de 14,13% e chegou a R$ 622. Essa alta, no entanto, não impede o impacto dos descontos gigantes no holerite do trabalhador. Andréia lembra que, em março há descontos maiores relativos às contribuições sindicais e às anuidades profissionais. “As pessoas devem considerar esses descontos na hora de fazer o orçamento”, salienta.
Inflação
As contas maiores de janeiro são refletidas na inflação. O primeiro mês do ano apresenta, em geral, os índices inflacionários mais elevados, acima da casa do 1%. Conforme o economista José Francisco, pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas Econômicas e Sociais (Nepes) da universidade Anhanguera/Uniderp, a inflação de janeiro é puxada, sobretudo, pelo grupo Educação. “É o mês em que acontecem as renovações de contratos das escolas”, detalha.
Despesas de janeiro aboconham toda a renda do mês
Enfrentar as contas de início de ano é tarefa de malabarista: pesquisa aqui, paga à vista isso, parcela aquilo... É com essa habilidade que o casal Marcello Jorge Maymone, 45, economista, e Marlene de Barros Coelho, 42, engenheira, encaram as despesas de janeiro, que devem abocanhar toda renda do mês da família.
Os tantos papéis sobre a mesa dimensionam o peso das contas sazonais e das fixas: IPVA, IPTU, cartão de crédito, água, luz, financiamentos da casa e do carro, matrículas escolares.
Marcello e Marlene admitem não fazer planilhas mensais, mas nem por isso deixam de ser organizados. “Mais ou menos organizados”, corrige Marcello.
E precisam de organização, pois as despesas são salgadas. Eles estimam que apenas as matrículas escolares dos três filhos - duas meninas, de 12 e 15 anos, e um menino, de 16 - cheguem a R$ 2,1 mil. O preço total dos materiais, com as estratégias todas de economia, deve atingir R$ 1 mil. “E isso comprando livros usados, ficando com a mesma mochila do ano passado, fazendo pesquisa”, enumera Marlene. Além dos materiais e matrículas, o casal ainda vai desembolsar outros tantos reais para compra de uniformes e demais despesas com a volta às aulas.
Fora os gastos com educação, há a parte destinada aos crofres dos governos. Os dois tributos de todo início de ano - IPVA e IPTU - serão parcelados pelo casal. Marcello acredita que o IPVA chegue a R$ 600 e o IPTU, a R$ 1,3 mil. “Além disso tem o seguro do carro, de mais ou menos R$ 1,1 mil”, acrescenta ele.
Para administrar as despesas de janeiro e não ficar no vermelho por causa das contas fixas, o casal busca todas as vias possíveis: sondam os levantamentos de preços de material escolar; atentam-se às promoções; presenteam os filhos com aquilo de que necessitam, unindo o útil ao agradável; entre outros estratagemas. “São coisas do dia-a-dia que acabam virando hábito e deixam de ser sacrifício”, conclui Marcello.