De uma safra recorde de grãos para uma das piores safras dos últimos anos. Com chuvas incessantes, os 10 primeiros dias de março derrubaram as perspectivas dos produtores de Mato Grosso do Sul de recuperar as perdas arroladas nos últimos seis ciclos agrícolas. A Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul) está fazendo levantamento, mas as estimativas apontam média de 50% de perdas na safra da soja. Em valores, os prejuízos podem chegar a R$ 1,5 bilhão.
Os municípios da região Norte do Estado foram os mais prejudicados, com perdas acima de 50% da área plantada. Boletim técnico emitido pela Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), escritórios de planejamento rural, Prefeitura Municipal e Sindicato Rural de São Gabriel d’Oeste indicam perdas de 60% da soja. “São três milhões de sacas perdidas”, contabiliza o presidente do Sindicato Rural do município, Julio Cesar Bortolini. E como se não bastasse os prejuízos com a soja, os produtores temem pelo plantio do milho safrinha, produzido na mesma área, cujo prazo de zoneamento estendido pelo Ministério da Agricultura (Mapa) vai até o próximo dia 20.
Nos municípios mais ao Sul do Estado, a estimativa é de comprometimento entre 40% e 50% da soja. “O estrago se dá não somente na quantidade, mas na qualidade da soja que poderá ser colhida. Temos um grão com cerca de 45% de umidade, quando o normal para a colheita fica entre 15% e 18%. A soja fica ardida e inicia o processo de germinação dentro da vagem, resultando em um produto de baixo valor comercial”, enfatiza o assessor técnico para a área da agricultura da Famasul, Lucas Galvan.
A recomendação da Federação é de que os produtores façam laudos técnicos para mensurar a perdas. Os danos já registrados comprometem os dados divulgados hoje pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sobre a perspectiva de super safra. Para Mato Grosso do Sul, a estimativa era de uma colheita de 5,4 milhões de toneladas. “São dados que não se aplicam mais”, enfatiza Galvan. Pesquisa da Federação realizada entre os 20 principais municípios produtores de soja realizada no final de fevereiro apontou um índice de produtividade que chegava a 60 sacas por hectare em algumas áreas, bem acima da média nacional, que é de 48 sacas/hectare, segundo a Conab. Esses dados também vão ficar para registro do que era para ser uma safra recorde.
A busca por uma estimativa real das perdas é motivada pela necessidade de dados para buscar soluções que minimizem os prejuízos e embasar a decretação de situação de emergência nos municípios atingidos, o que possibilita aos produtores renegociar dívidas. O presidente da Famasul, Eduardo Riedel, se reunirá nos próximos dias com representantes de trades e instituições financeiras, buscando uma solução conjunta para amenizar as perdas e soluções para amparar os produtores. “O setor da agricultura funciona em cadeia. Em situação de perdas como essa, os danos atingem todos os elos do setor”, enfatiza Riedel.