O franchising não escapou da crise econômica causada pela Covid-19 e algumas redes acumulam perdas de até 75% no faturamento. A estimativa é do presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF), André Friedheim. Contudo, mesmo diante das adversidades, há quem diga que não há lugar melhor que o setor para se estar em um momento de caos como este.
Isso porque ainda que as contas estejam no vermelho, a situação poderia ser pior se não fosse o amparo logístico e até mesmo financeiro fornecido pelas marcas aos seus afiliados.
A ABF fechou nesta semana os dados relativos ao primeiro semestre do ano. Na segunda quinzena de março foi identificada queda de 25% nas receitas das companhias do seguimento. Contudo, no acumulado desde janeiro, houve crescimento tímido de 0,2% em comparação com o mesmo período de 2019, mostrando que este ano era promissor para o ramo.
Em valores, o faturamento das franquias em todo o país foi de R$ 41,537 bilhões nesse intervalo de tempo.
Friedheim ainda não tem estatísticas a partir de abril, mas observações a olho nu do setor. Logicamente existem seguimentos que estão rendendo mesmo na pandemia.
“Temos redes com características muito distintas, algumas até com aumento de demanda, como é o caso de supermercados, farmácias e serviços de limpeza. Devemos registrar também um crescimento exponencial de iniciativas de delivery, e-commerce e venda via redes sociais como o WhatsApp, o que também auxiliam a reduzir os impactos da quarentena”, afirmou em entrevista ao Correio do Estado.
Considerando os dados do primeiro trimestre, as áreas que mais cresceram no franchising foram serviços automotivos (crescimento no faturamento de 7,4%); comunicação, informática e eletrônicos (+6,9%), limpeza e conservação (+5,6%), casa e construção (+3,6%) e serviços educacionais (+3,5%).
“Outros ramos que merecem destaque são os de franquias de supermercados e farmácias, que experimentaram um pico de demanda no final de março e abril, cujos resultados devem se refletir mais fortemente no segundo trimestre”, comenta o presidente da ABF.
APOIO
Para empresários que apostaram nas franquias ao investir em um negócio, os modelos padronizados de gestão, produtos, serviços e todo o background fornecido pelas matrizes fez toda a diferença.
Edgard Medina é dono de uma unidade da escola de idiomas CCAA no Jardim Bela Vista, em Campo Grande. Em termos financeiros, ele obteve abatimento de parte da taxa de mídia paga diretamente à marca. Contudo, quando precisou interromper os contatos presenciais entre professores e alunos por força da Covid-19, não precisou se preocupar em como iria continuar entregando aulas aos clientes.
“Para nós foi uma vantagem em ser franquia. O franqueador desenvolveu rapidamente uma solução que foi disponibilizar as aulas virtualmente. Eles reconheceram o impacto. Além disso, deixaram à disposição treinamentos para os professores desde como usar a ferramenta até o passo a passo de como conduzir as aulas. Além disso, deram retaguarda em relação às medidas de segurança de dados no uso de salas virtuais. Houve capacitações para coordenadores, enfim, pensaram em todo o organograma”, afirmou ao Correio do Estado.
Todo o material gráfico para uso no ensino online foi fornecido, além de orientações jurídicas para os casos de cancelamentos.
Evandro Matos, diretor do Cebrac em Campo Grande, passou pelo mesmo processo. Com um perfil de alunos diversificado (nem todos têm acesso à internet de qualidade para aulas online, por exemplo), foram desenvolvidas ferramentas e materiais com conteúdos extras para serem enviados pelo WhatsApp.
“A franqueadora trabalhou bastante em entregar soluções, como o que fazer em cada caso, cancelamentos, orientações jurídicas. Cada cidade, no começo da pandemia, tinha uma realidade diferente, uns podiam trabalhar e outros não. A marca deu o norte e cada franqueado teve que adaptar o processo. O mais importante foi o norte e o respaldo que eles nos deram”, afirmou o empresário.
LUZ NO FIM DO TÚNEL
Um indicativo da solidez do setor, conforme a ABF, é que 47,7% das redes mantiveram ou ampliaram seus planos de expansão.
“Este difícil momento que vivemos mostra mais uma vez as vantagens de empreender dentro do sistema de franchising. Não que nossas unidades estejam imunes, mas elas têm mais estrutura e acesso a conhecimentos e experiências para reagir mais rápido. Não raro, o primeiro crédito que o franqueado tem acesso, por meio da postergação ou suspensão de taxas e pagamentos, é do próprio franqueador. Além disso, muitas redes se mobilizaram para buscar melhores condições de crédito, negociar com locatários e administradores de shoppings e conversar com fornecedores diversos”, diz Friedheim.