No mercado financeiro, a troca de comando da Petrobras deixou pairando no ar uma sensação de instabilidade que pode afetar as ações da empresa estatal a longo prazo. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) indicou, na semana passada, o general Joaquim Silva e Luna (atual diretor da Itaipu nacional).
A empresa é classificada como de economia mista. Isso quer dizer que o Governo Federal é apenas um dos acionistas. A decisão, por tanto, precisa passar pelo crivo de um conselho para ser concretizada.
Mesmo assim, o mercado não “engole” muito bem quando uma alteração é feita sob pressão do poder público, explica o economista André Pauletto.
“O mercado sentiu de forma bastante negativa essa troca de comando. Essa interferência é vista com maus olhos. É preciso respeitar os acionistas”, afirmou ao Correio do Estado.
Segundo ele, existem dois riscos grandes de agora em diante. O primeiro é a falta de convergência corporativa da empresa. O segundo é a política de preços, que motivou a troca.
“O presidente não concordava com a adequação da Petrobras em atrelar os preços ao dólar e querer repassar essas variações aos consumidores, o que é normal para uma empresa que objetiva interesses econômicos”, pondera o economista.
Nesse sentido, o que os acionistas devem esperar do futuro gestor da empresa? Conforme Pauletto, é possível que, para baixar o valor cobrado nas bombas, os preços sejam artificiais, fazendo com que os custos da empresa sejam “flutuantes”.
O economista ressalta ainda que os impactos podem ser sentidos também nas ações de outras empresas com participação governamental.
“É possível que o mercado veja que é possível esse tipo de intromissão em outras empresas de capital misto”, completa.
PREÇO DA GASOLINA DEPENDE DE VÁRIOS FATORES
Existe uma série de outras questões envolvidas na precificação, como por exemplo a matriz energética e a arrecadação de impostos.
Segundo doutor em economia Mateus Abrita (em entrevista concedida semana passada ao Correio do Estado), existem diversas formas de discutir a política de preços dos combustíveis no Brasil, por exemplo, regulação do setor, importações, exportações e debater a concorrência.
Não é apenas o dólar que interfere sobre o valor cobrado nas bombas. Existe ainda a alta carga tributária cobrada.
O presidente Jair Bolsonaro tenta encontrar mecanismos para conseguir zerar as alíquota federais que incidem sobre o produto.
A atitude esbarra no artigo da Lei de Responsabilidade Fiscal que exige uma compensação cada vez que um tributo é modificado, reduzido ou zerado.
O presidente tenta emplacar uma mudança que retire esta obrigatoriedade, pelo menos em períodos críticos, como a pandemia.
Igualmente Bolsonaro desafiou os governadores a fazerem o mesmo com o ICMS, outro imposto que também interfere no valor da gasolina, diesel e etanol.
Dessa forma, não há uma única solução para o problema, e a atitude do presidente pode ser um “tiro no pé”. Contudo, somente o futuro irá dizer ao certo qual será o impacto a longo prazo sobre as ações da estatal. E também sobre o mercado em geral.