Campo Grande acumula inflação de 2,13% nos oito meses do ano, o resultado é três vezes maior do que o índice nacional, de 0,70%. Em 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do País, registrou alta de 2,44% no Brasil e na Capital a inflação chega a 4,43%. Principalmente puxada pela alta de alimentos e bebidas.
De acordo com a economista do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio (IPF-MS), Daniela Dias, o aumento de preço dos produtos alimentícios explica em parte os números. “No ano, a inflação foi puxada por alimentação e bebidas, talvez isso pode ser explicado pelo próprio perfil do Estado, que tem uma vocação natural para a produção de alimentos. Mas geralmente a gente exporta para outros estados e outros países também. Nessas exportações, a gente manda a nossa produção de grãos, carnes, mais in natura para os outros locais e a gente compra esses produtos processados e industrializados”, destacou Daniela, que ainda exemplificou.
“A parte de beneficiamento das carnes [frigoríficos] já temos aqui, mas os grãos não, a gente manda in natura e recebe esses produtos industrializados com um valor maior. Então essa industrialização acontece em São Paulo, por exemplo, e para eles esse produto será mais barato, quando volta para o Estado temos o custo do frete, taxa de mercado e tributação. Isso tudo pode interferir”, considerou.
MENSAL
Não é só no ano que a inflação da Capital está maior do que a do País. Em agosto, entre os 17 locais pesquisados, a Capital sul-mato-grossense registrou a maior alta do Brasil. Segundo os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em agosto, a taxa subiu 1,04% em Campo Grande, seguido por Goiânia, com 0,66%. Já na média nacional, o índice foi a 0,24%, 0,12 ponto porcentual abaixo da média registrada em julho (0,36%). O índice, entretanto, é o maior resultado para o mês de agosto desde 2016.
A alta nos preços da gasolina, que subiu 3,88%, e de alimentos como tomate (32,71%), frutas (9,54%), carnes (6,28%) e arroz (4,74%) puxou a inflação do mês. Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, sete tiveram alta em agosto. A maior variação veio dos transportes (3,23%). A segunda maior contribuição veio de alimentação e bebidas, que registrou alta de 2,31%. Os grupos habitação (0,32%) e artigos de residência (0,84%) também tiveram alta, mas desaceleraram na comparação com o mês anterior (1,21% e 0,94%, respectivamente). No lado das quedas, o destaque ficou com o grupo educação (-6,54%). Os demais grupos ficaram entre a queda de 0,78% em despesas pessoais e a alta de 1,44% em comunicação.
O grupo alimentação e bebidas acelerou em relação a julho, quando ficou próximo da estabilidade (0,13%). Os alimentos para consumo no domicílio tiveram alta de 2,84%, influenciados principalmente pela elevação nos preços dos produtos já citados (tomate, frutas, carnes e arroz), e ainda as variações do macarrão (5,59%), as hortaliças e verduras (4,79%) e o óleo de soja (3,70%). As quedas foram registradas nos preços da cebola (-22,17%), do feijão-carioca (-16,47%), do alho (-9,25%) e da batata-inglesa (-5,24%).
A economista explica que, além da oferta e da demanda, vários fatores impactaram em aumento dos alimentos. “Segurou-se um pouco essa demanda no início da pandemia, mas continuamos com um consumo intenso ao longo dos meses. E quando a gente tem o aumento da demanda, para equilibrar o mercado, automaticamente temos o aumento dos preços. Mas há outros motivos, um deles é que estamos em um período de seca, então essa parte da produção acaba tendo uma redução, e consequentemente com uma menor oferta os preços aumentam. E há ainda os insumos importados, como os fertilizantes, com a valorização do dólar, o custo desses produtos encarecem a produção. E ainda no começo do ano já tínhamos a previsão do reajuste do preço do arroz e do feijão”, explicou Daniela.
PODER DE COMPRA
Com o índice inflacionado, o poder de compra do consumidor consequentemente acaba ficando menor. Para consumir a mesma quantidade de alimentos, ele precisará desembolsar mais.
“Quando a gente tem uma inflação um pouco mais alta, isso acaba interferindo no poder de compra. Imagine o seguinte, você comprava uma cesta de produtos com R$ 100 e, quando a inflação aumenta, você precisa de mais do que R$ 100 para comprar a mesma cesta. Isso acontece principalmente quando os produtos considerados essenciais têm aumento do preço, como foi o caso do arroz, do feijão e do óleo. Se a pessoa destinava 70% do seu orçamento total para gastos com alimentação e produtos de higiene, significa que ela vai ter de gastar mais de 70%, ela compromete um pouco mais do seu orçamento”, disse a economista, que ainda reforçou que quando se trata de produtos básicos muitas vezes não há como substituí-los.
“Produtos básicos são mais difíceis de encontrar substitutos. Então significa que as pessoas estão perdendo seu poder de compra, estão tendo de desembolsar uma parcela maior do seu orçamento com a alimentação, por exemplo. O que acaba interferindo na vida das pessoas, e elas percebem quando vão aos supermercados. É aí que começa a busca por outros produtos, redução do consumo ou corte de outras despesas para priorizar aquilo que é considerado essencial”, concluiu Daniela.