Brasília
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, informou ontem que a taxa de juros média para pessoas físicas, que recuou de 41,5% para 40,4% ao ano entre maio e junho, atingiu em junho seu nível mais baixo da série histórica, iniciada em 1994.
Segundo ele, essa queda está relacionada a um processo de migração dos tomadores de crédito de linhas mais caras, como cheque especial, para as mais baratas, como crédito pessoal. Como o cálculo dos juros médio é feito a partir de média ponderada, esse processo de migração reduz os juros mesmo com algumas modalidades, como o próprio cheque especial, tendo alta nas taxas.
Apesar da redução no juro médio, Altamir destacou que enxerga uma tendência de acomodação no crédito para pessoas físicas, mas evitou estender a associação para a economia mais geral. Ele associou a acomodação à política monetária, que nos últimos meses tem se tornado mais restritiva. Relatório divulgado mostra que a média diária de concessão de novos empréstimos para as famílias caiu 0,5% em junho na comparação com maio, a terceira vez nos últimos quatro meses.
“O crédito para pessoa física cresce com uma taxa mais baixa, inferior à vista nas operações para empresas. Há sinais de alguma acomodação nas operações para as famílias”, disse Altamir. Para ele, “é natural” que haja redução no ritmo do crédito após meses de forte crescimento das operações de crédito nos últimos meses.
Além desse movimento, o chefe do Departamento Econômico do BC observa que houve migração de alguns consumidores, que deixaram linhas de crédito mais caras e aderiram às operações mais baratas, como o crédito pessoal ou consignado.
Essa migração, segundo ele, colaborou na redução da taxa média praticada pelas instituições financeiras em junho. A taxa anunciada pelo BC é ponderada conforme o volume das operações e do juro cobrado em cada linha de crédito. Assim, se mais clientes tomarem empréstimos em operações baratas, a taxa média cai no período.
Apesar dessa avaliação, dados do próprio BC mostram que a média diária de novos empréstimos cresceu apenas nas linhas mais caras, como o cheque especial (+1,3% na comparação com maio) e cartão de crédito (+0,4%). As linhas mais baratas, como o crédito pessoal (-2,4%) e financiamento de veículos (-3%), mostraram retração na média diária de novas contratações.
Inadimplência em queda
A inadimplência geral do sistema financeiro nacional (que considera os créditos com recursos livres e direcionados) em junho ficou em 3,7%, ante 3,8% em maio, de acordo com os dados divulgados pelo Banco Central.
“A inadimplência do sistema como um todo é baixa e tem trajetória cadente”, disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Considerando apenas o crédito livre, o índice de calotes em junho foi de 5%, sendo que a taxa para as pessoas físicas, que ficou em 6,6%, foi a mais baixa desde outubro de 2005.
Juro médio
O juro médio cobrado no crédito livre ficou 34,6% ao ano em junho. A taxa foi inferior à praticada em maio, quando era de 34,9%. Há um ano, em junho de 2009, os bancos cobravam, na média, 36,6%. Nas operações para empresas, a tendência foi oposta ao verificado no caso das pessoas físicas - a taxa passou de 26,9% para 27,3%.
Lopes disse que a carteira de crédito com recursos livres cresceu 2,2% em julho até dia 15. Segundo ele, a expansão foi liderada pelos empréstimos às empresas, que tiveram expansão de 2,4% no período. As linhas para pessoas físicas avançaram 1,8%.
Entre as operações para as famílias, a aquisição de veículos foi a que apresentou maior corte de juros, de 24,8% para 23,6%. Já o cheque especial passou de 160,3% para 165,1%. Para empresas, a linha que mais subiu foi a conta garantida, que passou de 81,2% para 85%.
A média da concessão de empréstimos voltou a crescer em junho. Dados divulgados pelo Banco Central nesta terça mostram que, na média, a concessão diária de novos financiamentos somou R$ 8,212 bilhões em junho, valor 2,5% acima do observado em maio. Naquele mês, a média havia ficado estável na comparação com abril. No acumulado do ano, a média de novas concessões cresceu 9,2% e em 12 meses, há expansão de 13,1%.