VERA HALFEN
O crescimento acelerado dos financiamentos para a casa própria começa a preocupar alguns setores, que estimam não existirem recursos do FGTS e poupança para além de quatro anos. Com a escassez, a tendência é de o crédito para empréstimos ficar menor e mais caro. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, nos últimos 12 meses, o número de contratos entre mutuário e a Caixa Econômica Federal dobrou. Hoje, o estoque de recursos disponíveis na poupança para esse tipo de crédito, em todo o País, é de R$ 269 bilhões.
A Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) estima que esse saldo consiga absorver a demanda até 2012. Em 2013, a projeção é que os financiamentos exijam R$ 400 bilhões e mais R$ 100 bilhões quando chegarmos a 2014.
De todo o dinheiro aplicado no setor imobiliário, de acordo com a Ong, 92% têm como origem a poupança e o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). A primeira e principal financiadora responde por R$ 111,5 bilhões emprestados no primeiro semestre de 2010; a segunda acumula uma carteira de R$ 71 bilhões.
Outros recursos
De acordo com o economista Normann Kalmus, é uma bobagem imaginar que os recursos para financiar a casa própria poderiam esgotar-se. Mesmo que tudo indicasse para isso, outras instituições financeiras têm de onde trazê-los para o setor. “Temos também uma demanda de capital – interno e externo – investido em fundos e títulos do Governo. Basta reduzir os juros sobre essas remunerações atraindo esses investidores para o mercado habitacional, que também é seguro. As fontes privadas também tenderiam a contribuir mais”, afirma.
O economista frisa, ainda, que hoje a massa salarial existente é maior, aumentando a renda per capita e contribuindo para crescimento da poupança e FGTS. “O próprio investimento na construção das habitações faz com que tenha mais trabalhadores empregados e isso reforça a disponibilidade de recursos”.
A Ong FGTS Fácil aponta que a utilização de mais recursos do fundo do trabalhador seria uma das opções. Pela lei, o governo tem de direcionar até 60% de tudo o que é arrecadado com o FGTS para a área de habitação. Hoje, essa relação está em 41%.
Empréstimos
Kalmus afirma que a preocupação com a falta de recursos “não faz muito sentido”. Para ele, “se houver desequilíbrio entre financiamento e os saldos do FGTS, certamente o vilão não seria a habitação, mas a utilização desses recursos pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), de forma política, para financiar empresas públicas, como, por exemplo, a Petrobras. O risco é muito maior com os financiamentos feitos pelo banco ao exterior e não com a habitação aqui no País”, conclui.