Campo Grande está passando por uma crise sanitária que afetou a vida de muitos trabalhadores. Conforme dados do Sebrae-MS, 32% dos empresários precisaram demitir nos meses de março e abril.
Em decorrência da pandemia da Covid-19, as demissões, que já ocorrem com menos frequência, fizeram com que muitos campo-grandenses precisassem se reinventar profissionalmente.
Recém-graduada, a pedagoga Denise Souza Silva, 22 anos, era auxiliar de professora em uma escola particular da Capital e ajudava o pai com o serviço de bufê.
Com as aulas presenciais suspensas desde março e o setor de eventos também paralisado, a professora perdeu seu emprego e começou a trabalhar na fabricação de pães e bolos.
“Me formei no fim do ano passado em Pedagogia e consegui um emprego de auxiliar de professora em um colégio particular, mas, por conta da pandemia, fui dispensada. Como sempre gostei de fazer bolos e pães, resolvi fazer para vender, com o incentivo do meu namorado também, que me ajuda nas entregas, para complementar na renda e também para não ficar totalmente parada. Também trabalho com eventos, serviços de bufê com o meu pai, outro setor atingido e paralisado pela pandemia, sem nem previsão para reabertura”, relatou Denise.
Mesmo diante de um cenário de dificuldades, a professora não perde a motivação para vencer. Ela acredita que em breve possa voltar a trabalhar na profissão que escolheu e ainda continuar produzindo suas delícias.
“As lições desse momento são as mais importantes: valorizar os momentos vividos e as pessoas que amamos e estar sempre abertos a nos reinventarmos em momentos difíceis. Quero ainda poder ter sucesso e trabalhar na minha atividade principal e, com certeza, vou comemorar muito a tão sonhada festa de formatura, que também foi adiada”, detalhou.
Outro da área da educação que foi demitido do trabalho é o João Bosco Rodrigues Echeverria, 29 anos.
O professor de Educação Física perdeu o emprego depois de dois meses da pandemia e hoje, para não ficar parado, trabalha como ajudante de construção.
“Ainda estou no seguro-desemprego, mas para não ficar parado estou ajudando em uma obra. Espero que no próximo ano as coisas voltem ao normal e eu possa ser recontratado. Eu não paro de trabalhar, nem que seja com uma enxada na mão”, afirmou.
Trabalho on-line
Muitas pessoas passaram a trabalhar de forma remota ou adotaram home office durante a pandemia. Profissionais ligados à comunicação conseguem transformar suas casas em escritórios virtuais.
A jornalista Daniela Venturato, 39 anos, tem 17 anos de trajetória em assessoria de comunicação, principalmente ligada a Organizações não Governamentais (ONGs).
Trabalhando no serviço público no último ano, ela resolveu pedir demissão, começar uma nova graduação (Letras) e se tornar microemprendedora individual (MEI).
“A intenção era prestação de serviços em comunicação, assessoria, produção de textos e cerimonial. Com a pandemia, o setor que estava o meu ramo, ou seja, principais oportunidades de clientes, foi o mais prejudicado. Então tive a necessidade de empreender novamente, vejo que muitas empresas pequenas vão precisar de um profissional qualificado na área de comunicação e marketing digital. Comecei a estudar o mercado de assistente virtual. Um profissional que faz [de forma remota] atividades que normalmente empreendedores e empresas não têm muito tempo ou não querem contratar um profissional para o serviço”, conta a jornalista.
Daniela ainda explica que um assistente virtual pode prestar serviços na parte administrativa, financeira ou de comunicação organizacional.
“Esta sempre foi a minha praia, e o marketing digital, algo novo que estou estudando muito, quero atuar como gestora de mídias sociais. Tudo é muito inicial, mais eu já conquistei a minha primeira cliente e estou muito feliz com isso. Acredito que em uma crise você pode permanecer na zona de conforto e se deixar levar pela onda do negativismo ou olhar para tudo e lutar com as armas que tem. No meu caso, fui buscar conhecimento, dividi minhas ideias com outras pessoas, ainda estou em processo de construção, mas não quero nunca mais parar”, destacou.
A acadêmica de Tecnologia em Marketing Marihelen Fursts, 24 anos, era gerente de uma gelateria, foi demitida e resolveu que era a hora de empreender. Marihelen é sócia de uma agência de marketing que funciona totalmente digital.
“Entrei em contato com umas amigas que moram em Belo Horizonte e agora temos uma agência de marketing e publicidade, trabalhamos de forma totalmente on-line. Está sendo ainda uma transição enorme, trabalhar virtualmente, com pessoas de outros estados, por conta da pandemia, que nos priva de estar juntos fisicamente, e acredito que essa mudança vem para ficar, o mundo está se adaptando. E além de tudo me ensina a ter disciplina, produzir por conta uma rotina disciplinada”, disse.
Empresa foi aberta durante a pandemia
Além daqueles que mudaram de rumo profissional, há ainda os que estavam prontos para abrir o próprio negócio quando a pandemia mudou as rotinas.
Depois de trabalhar durante nove anos como consultor, o administrador Luiz Ishikawa, 40 anos, e a esposa Danielle Ishikawa, 37 anos, que era professora de inglês, decidiram investir em um negócio próprio, a mercearia Limão Rosa Orgânicos.
Há cinco anos, o casal mudou a rotina alimentar quando descobriu que o filho tem algumas intolerâncias e alergias alimentares, e por isso passaram a cuidar melhor da alimentação.
“Decidimos abrir uma mercearia especializada em produtos orgânicos, com foco em produtos oriundos da agricultura familiar, cooperativas e pequenas agroindústrias familiares. No início do ano, iniciamos os procedimentos de abertura do negócio e, de repente, aparece a Covid-19, quando estávamos no meio da reforma do prédio e nossas inscrições e demais documentos tramitando”, disse Luiz.
O empreendedor disse que com a crise econômica causada pela pandemia o momento gerou dúvidas.
“Foi um momento de bastante incerteza, mas a gente já havia dado o primeiro passo e decidimos continuar nossos planos. Enquanto estavam todos reinventando seus negócios, a gente ‘inventava’ o nosso. Por conta do distanciamento social, muitos de nossos clientes nunca vieram à mercearia, atendemos mais de forma remota do que presencialmente. Para a entrega, utilizamos alguns aplicativos que absorvem essa valorosa mão de obra dos motociclistas autônomos”, relatou o empresário.
Luiz ainda destaca que muitas pessoas passaram a cuidar mais da alimentação, principalmente pensando no fortalecimento da imunidade, e estão atentas à origem dos alimentos.
“Acreditamos que esse período turbulento que vivemos hoje não passará batido, o “novo normal” que tanto se fala já está posto e cabe a nós vivenciarmos isso da melhor maneira possível. Essa nova forma de consumo sustentável e saudável começa a ser cada vez mais rotina das famílias. A generosidade e o amor prevalecerão agora e após esse período difícil que estamos vivendo”, finalizou.