Daiane Muniz, afastada de "jogos grandes" pela CBF há 45 dias por erro crasso no Brasileirão, voltou a atuar nos maiores palcos do futebol brasileiro justamente nesta terça-feira (20)
Afastada de grandes jogos pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no final de março, a três-lagoense Daiane Muniz se envolveu em outra polêmica, desta vez em partida decisiva pela Copa do Brasil, entre Grêmio e CSA-AL, na noite desta terça-feira (20).
Após perder por 3 a 2 no jogo de ida, em Alagoas, o Grêmio precisava vencer em seus domínios por, no mínimo, um gol de diferença para levar o confronto para os pênaltis. Porém, o lance central da partida aconteceu aos 43 minutos do segundo tempo.
Em escanteio cobrado pela esquerda, a bola bate e rebate na área e sobra para Aravena mandar para o fundo das redes. Mas, contendo a euforia gremista, o árbitro Matheus Candançan anulou o gol, entendo que houve falta do zagueiro Kannemann em um dos jogadores do CSA.
Revoltado com a marcação, o defensor argentino exigiu a revisão do lance no árbitro de vídeo. Daiane Muniz, responsável pelo VAR da partida, recomendou a Candançan que olhasse novamente a suposta falta, para auxiliar o colega com outros ângulos do momento. Mesmo assim, o árbitro paulista resolve manter a decisão de campo, anulando o gol. Veja o lance:
A partir daí, os jogadores gremistas se indignaram e cercaram o árbitro, que ao ser peitado por Arezo, expulsou o centroavante. Após o apito final, o CSA comemorou vaga nas oitavas de final da competição, enquanto uma sequência de protestos da equipe gaúcha começou.
No gramado, o vice-presidente Eduardo Magrisso sacou uma cédula de R$ 2 da carteira e jogou em direção ao árbitro Matheus Candançan, que posteriormente foi encontrada jogada no campo. Nos corredores, protegido pelos policiais, o juiz também ouviu manifestações do diretor de futebol Guto Peixoto.
Ainda, após toda a confusão, o atacante Pavon, acompanhado do vice de futebol Alexandre Rossato e do advogado Jorge Petersen, compareceu ao Juizado Criminal da Arena por ter tentado cuspir na cara do árbitro e acertar um policial.
Na manhã desta quarta-feira (21), a CBF divulgou o áudio da equipe de arbitragem durante o lance, para entender o que levou Candançan a confirmar a decisão de campo. Confira o diálogo entre o árbitro e Daiane:
Árbitro de campo: "A decisão do campo é falta aqui. A decisão é falta em um primeiro momento".
VAR: "Eu preciso entender o lance. Tem um jogador do Grêmio que está indo em direção a bola e os dois se chocam..."
Árbitro de campo: "Tem um tranco aqui e depois no goleiro também. Inclusive, tem até um corte na boca...para mim tem um empurrão nas costas".
VAR: "Sim, sim, o jogador do Grêmio tem um tranco nas costas do adversário, o braço é do próprio companheiro. Porém, existe sim o tranco do jogador do Grêmio. O tranco é dele, do próprio Kannemann. Matheus, venha na área rever a situação. Existe essa disputa. É no Kannemann. Existe uma disputa onde o Kannemann vai para frente, o defensor vai para trás e eles se chocam. O braço, do qual sangra, é do próprio jogador de branco".
Árbitro de campo: "Existe um tranco aí, o cara não consegue subir".
VAR: "OK, perfeito, existe esse impacto".
Daqui algumas horas, a entidade deve soltar uma nota com uma conclusão sobre o lance e, caso seja entendido que houve erro por parte da arbitragem, os envolvidos poderão ser afastados por tempo indeterminado, incluindo Daiane.
Desde de seu afastamento, no dia 7 de abril, a sul-mato-grossense participou de outros cinco jogos, todos de menor expressão, como Série B e C do Brasileiro e campeonatos de base.
Na geladeira...
Como dito nesta reportagem, Daiane foi afastada pela entidade máxima do futebol brasileiro, após a três-lagoense cometer erro crucial na partida entre Internacional (RS) e Cruzeiro (MG), atuando como VAR, no dia 6 de abril.
Com apenas 20 minutos de partida, o zagueiro Jonathan Jesus, da equipe mineira, foi expulso por, no entendimento do árbitro, impedir uma chance clara de gol.
Daiane Muniz, responsável pela cabine do VAR nesta ocasião, concordou com a decisão de campo do árbitro Marcelo de Lima Henrique, mantendo a expulsão.
Obviamente, a medida dificultou ainda mais o lado cruzeirense no jogo, que atuou por mais de 70 minutos com um jogador a menos. No final, o Internacional venceu sem sustos, por 3x0, e a equipe do Cruzeiro saiu muito irritada com a arbitragem, em especial com o VAR.
"Quase todos os jogos somos prejudicados pelo VAR, então para quem se paga o VAR? Se tem a tecnologia, é para ser usado. Eu não sei qual a intenção do juiz, eu não posso julgar a pessoa, mas é muito lamentável o que aconteceu com a gente aqui hoje. Na realidade, acabou com o jogo", afirmou Pedro Lourenço, dono da SAF do clube e único representante cruzeirense na entrevista pós-jogo.
O atacante Gabigol, um dos principais nomes do elenco mineiro, também se pronunciou, afirmando que a CBF se preocupa mais com o jogador subir na bola do que com as atuações dos árbitros, em referência ao ofício emitido pela entidade do qual proíbe que um atleta suba na bola durante uma partida, atitude passível de cartão amarelo caso a ação seja realizada.
Diante da polêmica, no dia seguinte, a entidade emitiu uma nota determinando o afastamento da equipe de arbitragem deste jogo e também nos envolvidos na partida entre Sport (PE) e Palmeiras (SP), outra marcada por erros que influenciaram diretamente no resultado final, admitindo que houve "equívocos cometidos pelos profissionais", baseando-se no Comitê Consultivo de Especialistas Internacionais (CCEI).
História
Árbitra FIFA desde 2018, Daiane iniciou sua carreira no Campeonato Sul-mato-grossense em junho de 2014, inclusive foi a primeira mulher a ser árbitra principal no estadual, no jogo entre Corumbaense e Maracaju, em 2020, mas mudou-se para São Paulo logo depois, tanto que hoje faz parte do quadro de arbitragem da Federação Paulista de Futebol (FPF).
A partir deste momento, ganhou reconhecimento nacional e comandou o VAR em vários jogos da primeira divisão nacional e chegou até a Copa do Mundo Feminina de 2023, disputada na Austrália, onde ela também trabalhou como assistente de vídeo.
No ano passado, ela também esteve no quadro de árbitros para comandar o VAR em Paris, durante a realização dos Jogos Olímpicos, chegando a apitar a final masculina, entre Espanha e França, e a disputa de bronze no feminino, entre Espanha e Alemanha.
Ainda, atuou na Copa do Mundo Feminina sub-17, onde também apitou a final, disputada entre Coreia do Norte e Espanha.
Assine o Correio do Estado