Ao dizer com todas as letras que não queria Adriano no clube, Vanderlei Luxemburgo se colocou na linha de tiro. Mas a pressão de parte da torcida não abala a confiança de quem se sente líder de um processo com metas mais do que ambiciosas. O treinador não nega que seu sonho é repetir no clube de seu coração o feito de 2003, quando conquistou o Campeonato Mineiro, a Copa do Brasil e o Brasileiro pelo Cruzeiro. Além da Tríplice Coroa, Vanderlei espera ser lembrado como o técnico que recolocou o Flamengo no mapa internacional, com presença constante na Libertadores e estrutura invejável. Um salto que ele mesmo admite estar bem distante.
Na última segunda-feira, Luxa esteve no GLOBOESPORTE.COM. No papo que durou cerca de 40 minutos, deixou poucas perguntas sem resposta. Disse que considera Adriano melhor do que os atacantes que possui na Gávea, mas ainda acredita que Deivid não passará pelo clube sem deixar sua marca de artilheiro. Explicou por que não escala Diego Maurício, elogiou a evolução física de Ronaldinho e disse não temer a grande chance de o time ficar até a 15ª rodada do Brasileiro somente com o elenco atual.
É uma questão de honra ser campeão como técnico pelo clube de seu coração?
Já fui campeão, mas ainda não fui do que eu queria. Está no meu interior querer ganhar sempre. Não tem espaço para perdedor no futebol, quero ganhar sempre. Se for no Flamengo, melhor ainda.
Algumas vezes falaram que você estava desmotivado, que não tinha mais a dedicação de outros tempos...
Isso é uma grande mentira, sou apaixonado por futebol. Vivo o futebol intensamente. Sou o primeiro a chegar, último a sair, faço reunião na Gávea... Está no meu sangue. O Alex Ferguson está no Manchester há 30 anos. Ganhou duas Liga dos Campeões. Será que nas outras não estava motivado? Eu já ganhei cinco brasileiros. Já fui campeão paulista, ganhei campeonato mineiro, a Taça Guanabara agora...É que as pessoas querem que eu volte a ganhar o Brasileiro. Só que o Brasileiro é duro de ganhar, não é assim.
Neste ano, o Flamengo pode pensar grande e almejar a Tríplice Coroa?
No ano que vem, temos de disputar a Libertadores e dali não sair mais"Eu já ganhei uma, em 2003. Fui campeão mineiro, da Copa do Brasil e Brasileiro pelo Cruzeiro. É possível, não dá para pensar pequeno no Flamengo. Se não pensarmos grande, o que estamos fazendo no clube? É um projeto que se iniciou neste ano concretamente. Sempre digo que futebol não é uma ciência exata. O que o Flamengo tem que fazer esse ano é ganhar um título importante. No ano que vem, tem de disputar a Libertadores e dali não sair mais. É onde você tem uma receita maior. Aí passaremos a ser de elite mesmo. Não pode disputar uma Libertadores em um ano e depois ficar quatro, cinco anos para disputar outra. Não serve. Tem que estar como São Paulo, como Inter, como Cruzeiro, esse é o ponto. O Flamengo está se estruturando para poder pensar numa coisa maior. Para conquistar a Tríplice Coroa o clube precisa se estruturar, senão vira um castelo de areia: você ganha e depois vai tudo para o espaço.
Mas em que nível está a montagem do grande time e da estrutura?
Estamos com etapas avançadas. Ninguém imaginava que o Flamengo pudesse ser campeão da Taça Guanabara. O favorito era o Fluminense. O Flamengo entrou como candidato porque é o Flamengo. Por isso digo que antecipamos etapas com o título invicto. Em relação à estrutura, estamos melhorando. Em uma ou duas semanas vai ser o lançamento da pedra fundamental das obras no CT. As pessoas vão ver que lá já temos um refeitório para 42 pessoas, um alojamento, parte administrativa, auditório para reuniões... Já dá para trabalhar. Principalmente se compararmos com uma porção de clubes por aí. Mas não é o ideal, está muito no início. Para Flamengo, não pode ser aquilo ali. Nem pensar. Encontrei o Flamengo igual a quando eu sai em 95, não tinha nada. O Rio de Janeiro não mudou. O Muricy veio para o Fluminense, outros vieram, e não mudou a mentalidade. Não conseguimos avançar, entender que é necessário. Claro que um time pode ser campeão. Mas em seguida não se sustenta sem um ambiente de trabalho adequado.
E em relação ao projeto de grande time?
O Flamengo tem um time competitivo. Quem tem um grande time? Por exemplo: o São Paulo perdeu para o Santa Cruz. O Flamengo está no caminho certo para formar uma grande equipe. Faltam algumas coisas, mas trabalhamos sossegados para que não inflacione o mercado.
Como você avalia os atuais atacantes do Flamengo? O Adriano não fará falta?
Estamos apostando neles, que têm dado resultado. Se nós formos analisar os dados, são ótimos. O que você não pode é comparar a qualidade do Adriano com a qualidade deles. Mas o Deivid, por exemplo, é um jogador de alto nível. É o nosso artilheiro. Só que a cobrança é tão grande que esquecem que ele é o artilheiro do time no ano. Ele emagreceu, está bem mais fino. E tem de buscar uma motivação, um enfrentamento maior com essa discussão toda que envolve os atacantes do Flamengo. Se ele encontrar essa motivação de mostrar que é um grande atacante e que não precisamos de outro, estou bem.