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Neurocientista defende importância da imunidade emocional

Cláudia Riecken se denomina precursora da discussão sobre resiliência no Brasil e afirma que é mais que necessário cuidar da saúde mental na prática

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Para Cláudia Riecken, neurocientista e autora do primeiro livro de resiliência científico do Brasil ("SobreViver - Instinto de Vencedor", Os 12 Portais da Resiliência e a Personalidade dos SobreViventes 2005) no cenário pós pandemia há indicadores de um novo sintoma presente em diferentes pessoas, com idades e profissões diferentes: uma saudade da sentir alguma confiança na própria vida e paz. 

“Em meu consultório confirmo que estamos estressados e aflitos secretamente, inseguros e com dúvidas se venceremos. É fundamental sabermos responder - a nível anímico, sim, para nossa existência. Tenho ajudado as pessoas dispostas a trabalhar com fé e se firmar com coragem”, explica.

Na última década, a neurocientista se especializou na superação do estresse pós traumático complexo: esse estado de emergência diluído em horas e horas dias e dias de luta sem fim. “É preciso dar um fim ao caos interno, a relações insuficientes, ao trabalho automático e sem gosto. 

Primeiro é preciso que a pessoa consiga declarar que quer pisar no seu chão e honrar a vida da sua vida. 

É um processo mesmo, é preciso essa autoaceitação para que aconteça. Poucas coisas são tão importantes quanto a criatividade para nos sentirmos vivos. 

Então na prática, faça uma meditação, escute seu coração, o desejo profundo de sua alma - e tenha a coragem de fazer algo com isso”.

O Correio B+ conversou com exclusividade com a pesquisadora sobre a importância de ser resiliente nos dias atuais e ela enumerou dicas que são mais que valiosas para quem busca o equilíbrio e agora a tão almejada imunidade emocional.

CE - Por que você diz que a sociedade precisa aprender a ter imunidade emocional?

CR - A Internet trouxe excesso de conteúdo com pontos de vista, jogos de interesses, e com a pandemia, se instalou uma psicose coletiva em que o medo é arma de propaganda. A cautela pode ser boa em muitas situações na vida, você não precisa de neurociência para saber que pode e deve se preservar e se desenvolver. 

Tivemos 50 anos de estímulo na mídia tradicional e nos meios de cultura com uma linha de fomentar prazer impulsivo e privilégios como imagem de beleza e virtude. 

A deterioração da saúde emocional que veio com esse caminho de mão única nos adoeceu. 

É preciso ter consciência de que responsabilidade e sentido fazem o bem em nossa psique. 

Não podemos agradar a todos - mas quando é nossa saúde mental e direito à vida digna que está em jogo - devemos nos postar sendo assertivos (não agressivos) e corajosos.

CE - Você fala sobre resiliência desde o ano 2005. Por que só agora esse termo é tão discutido?

CR - Podemos dizer que a palavra não ajudou muito. Antigamente, quando eu falava sobre isso as pessoas perguntavam: “resi o que”? Mas o conteúdo, conceito e refinas técnicas maduras por 50 anos de estudo de Al Siebert foram inevitáveis. Pensar positivo ou ter força de dar a volta por cima são temas clássicos (portanto, eternos). 

Muitos autores passaram pelo caminho do que hoje chamamos de Resiliência. Ser resiliente é ser humano, forte, frágil, humilde, determinado e é preciso colocar que não existe uma regra de “ideal de pessoa”. Há uma dinâmica elástica e também firme de se manter vivo e em desenvolvimento, com repertório autêntico, sensibilidade e racional sadio. 

A cultura histérica atual resiste à mudança de era (ou a revolução civilizacional pela tecnologia) cancelando gente humana normal - e se agitando demais. Os que se ofendem facilmente, impõem-se sem base na realidade verificável, não são resilientes, são chatos.

CE - A pandemia acelerou o processo de busca pelo autoconhecimento e evidenciou a importância da saúde mental para a humanidade?

CR - Podemos dizer que a pandemia acelerou tudo, de bom e ruim. 

Ainda estamos tontos tentando discutir saúde, política, estudos reais e manipulados, uso da tecnologia e o tal novo normal. Haverá benefícios importantes no uso da tecnologia, e efeitos colaterais muito ruins. 

Ontem fui a um restaurante e normal, cardápio no QR Code. Normal? Mudanças civilizacionais são orgânicas e necessárias e tem seu tempo de adaptação e maturação. 

Por muito tempo ainda pagaremos o preço dessa aceleração em todos os sentidos, daí a importância ainda maior de estarmos bem e nos conhecermos e nos respeitarmos.

CE - O que fazer para ter imunidade emocional na prática? Dê 5 dicas resumidas para que nossos leitores possam aproveitar essa chance!

CR - - É preciso partir do princípio básico de que você precisa valorizar a própria vida, não o que os outros pensam de você, mas o que você tem de melhor e de possível. É preciso praticar diariamente o autoamor;

- Ainda, é necessário que você observe e não absorva o ceticismo e a manipulação da mídia, de parentes e parceiros abusivos;

- Faça atividade física e se alimente o melhor possível. Gente sadia é mais feliz. Gente feliz é mais tranquila e consegue ser autêntica sem “se contagiar” com as emoções que tentam inocular todos. Sua imunidade emocional natural é a mais confiável;

- Cure seus traumas. Não há sucesso atual que permaneça vivo com gatilhos e iscas internas vivas. 

A imunidade emocional para provocações pede sua paz interna, paz em movimento, não pasmaceira. Faça terapia;

- Espalme o êxito da sua vida. Permita seu sucesso e seu êxito em todas as áreas. Os melhores resilientes fazem isso.