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CASO VERON Índios que vão testemunhar perdem voo Índios que vão testemunhar perdem voo 21 FEV 2011 • POR VIVIANNE NUNES E EVELIN ARAUJO • 10h54

Os 12 indígenas que deveriam embarcar às 4h da manhã de hoje para participar do julgamento do assassinato do cacique guarani-kaiowá Marcos Veron, não conseguiram embarcar. Segundo o Ministério Público Federal, o atraso na chegada das testemunha, que agora está prevista para às 21h, não deve atrapalhar no andamento do processo, já que o julgamento deve demorar três dias. 

 

O crime

 

Acampados na Fazenda Brasília do Sul, em Juti, região sul do estado, na área reivindicada
por eles como Tekohá Takuara, os kaiowá sofreram ataques nos dias 12 e 13 de janeiro de
2003, de um grupo de trinta a quarenta homens armados que foram contratados para agredi-los e expulsá-los daquelas terras.

No dia 12, um veículo dos indígenas com 2 mulheres, um rapaz de 14 anos e 3 crianças de 6,
7 e 11 anos foi perseguido por 8 km, sob tiros.
Na madrugada do dia 13, os agressores atacaram o acampamento a tiros. Sete índios foram
sequestrados, amarrados na carroceria de uma camionete e levados para local distante da
fazenda, onde passaram por sessão de tortura. Um dos filhos de Veron, Ládio, quase foi
queimado vivo. A filha dele, Geisabel, grávida de sete meses, foi arrastada pelos cabelos e
espancada. Marcos Veron, à época com 73 anos, foi agredido com socos, pontapés e
coronhadas de espingarda na cabeça. Ele morreu por traumatismo craniano.

 

Transferência do júri

Entre os motivos levantados pelo MPF para pedir a transferência do Tribunal do Júri de
Dourados (MS) para a capital paulista estão o poder econômico e a influência social do
proprietário da fazenda, Jacinto Honório da Silva Filho. Ele teria negociado com dois índios a
mudança de seus depoimentos. Eles assinaram um documento em 2004 mudando a versão
que deram ao crime, no dia seguinte ao assassinato, inocentando os seguranças contratados
pelo fazendeiro. O fazendeiro teria tentado, inclusive, comprar o depoimento do filho do
cacique assassinado, oferecendo-lhe bens materiais em troca da assinatura de um termo de
depoimento já redigido.

O MPF citou as manifestações de juiz estadual contra os indígenas e contra o procurador da
República do caso. Manifestações na Assembléia Legislativa sul-mato-grossense, condenando os acampamentos indígenas e relativizando a morte das lideranças, bem como opiniões desfavoráveis aos índios em diversos jornais do estado também foram juntadas ao processo, para mostrar que um júri federal realizado em qualquer subseção judiciária do estado teria viés contrário aos índios. 

Este foi o terceiro caso de desaforamento interestadual do Brasil. Os dois primeiros ocorreram
no julgamento do ex-deputado federal Hildebrando Pascoal. Dois de seus júris federais foram
transferidos de Rio Branco (AC) para Brasília.