Deputados de Goiás passaram a tarde de hoje em visita ao presídio Federal de Campo Grande onde um grupo de 17 policiais militares acusados de envolvimento com um grupo de extermínio estão detidos em regime de isolamento desde o último dia 16. Entre os presos, o sub comandante da Polícia Militar de Goiás, coronel Carlos Cézar Macario, acusado de chefiar o esquema de assassinatos. Eles foram presos no último dia 15 durante operação Sexto Mandamento, deflagrada pela Polícia Federal. O nome é uma referência à uma das passagens bíblicas que diz “não matarás”.
Presidida há nove anos pelo deputado estadual Mauro Rubem (PT/GO) a comissão tinha por objetivo constatar as denúncias de maus tratos supostamente cometidas contra os oficiais presos, mas acabou se surpreendo ao saber que eles comem regularmente, possuem assistência médica e psicológica e dormem em celas individuais. Acompanhado do presidente da Comissão de Segurança Pública de Goiás, o deputado major Junio Alves Araujo (PRB/GO) e de outros dois deputados que compõem a comissão dos Direitos Humanos, Rubem diz que a visão estava totalmente equivocada. “Acredito que todas as unidades prisionais do País deveriam adotar o sistema utilizado em Mato Grosso do Sul”, afirmou o deputado ao fim da visita que durou pouco mais de três horas.
Ao chegar no local o discurso era bem diferente. Para o deputado major PM Araújo, defensor ferrenho da categoria, os policiais acusados e presos em Campo Grande possuem “apenas ocorrências policiais. Eles são acusados de morte em serviço mas ainda não foram julgados”, afirmou. Informações publicadas em jornais do Estado de Goiás o major foi um dos deputados mais bem votados nas últimas eleições, isso graças à um eleitorado formado por policiais.
Ao chegar na unidade prisional federal de Campo Grande, por volta das 14h10min desta terça-feira, os parlamentares argumentavam, munidos de reclamações de familiares, que alguns dos presos possuem problemas de saúde que requerem acompanhamento, o que não estaria ocorrendo no Estado. Já ao deixar o estabelecimento, eles mesmos puderam informar que um deles chegou a sofrer uma crise de gota e foi encaminhado para atendimento médico fora da unidade prisional com a devida escolta policial.
O diretor do presídio, Washington Clarck, acompanhou a visita e na ocasião, explicou à reportagem do Portal Correio do Estado que os presos ficam pelo menos vinte dias em celas de isolamento onde recebem atendimento médico, psicológico, psiquiátrico, terapeuta ocupacional e de assistência social. O trabalho feito, segundo ele, é para que haja identificação do perfil de cada preso e deslocamento para determinada ala da unidade.
Entre policiais civis e militares, o presídio Federal de Segurança Máxima de Campo Grande possui 40 internos dos estados do Rio de Janeiro, Ceará e Goiás. O diretor explica que o tratamento é igualitário para todos os detentos e ressaltou que apenas existe uma separação entre os policiais e os presos comuns para evitar possíveis problemas.
Violência da Polícia de Goiás é destaque e incentivo entre PMs
O Estado de Goiás é destaque na mídia nacional por causa da forma truculenta com que os policiais atuam. Existem, atualmente, 27 pessoas que desapareceram depois de abordagens policiais e o presidente da Comissão dos Direitos Humanos do Estado destaca que há incentivo por parte da corporação para que os policiais sejam realmente severos em suas ações. “Eles prometem promoções para quem faz ações espetaculares, dão o mérito para os mais violentos”, afirmou o deputado Mauro Rubem. Segundo ele, toda a Polícia Militar de Goiás precisa passar por esquema de reestruturação.
Presos
A Polícia Federal investiga a participação dos presos em mais de 40 execuções em Goiânia, Formosa, Rio Verde, Acreúna e Alvorada do Norte. Conforme informações do jornal O popular, de Goiás, os ex-secretários Ernesto Roller (Segurança Pública) e Jorcelino Braga (Fazenda) foram intimados a prestar depoimento por indícios de prática de tráfico de influência.
As prisões foram dirigidas por três delegados da Coordenação Geral de Defesa Institucional (CGDI) da PF e entre os casos investigado está o assassinado de crianças, adolescentes e mulheres sem qualquer envolvimento com práticas criminosas. Investigações demonstram também, que outros homicídios foram praticados pelos policiais militares detidos durante o horário de serviço usando viaturas da corporação em supostas trocas de tiro com criminosos. Conforme a PF, o grupo especializou-se ainda na ocultação de cadáveres.
Entre os presos detidos em Campo Grande estão os subtenentes Fritz Agapito Figueiredo e Hamilton Costa Neves, o sargento Geson Marques Ferreira e os cabos Cláudio Henrique Camargos, Alex Sandro Souza Santos e Ricardo Machado. Além da prática de crimes de homicídio qualificado em atividades típicas de grupo de extermínio, os integrantes serão indiciados pela prática de formação de quadrilha, tortura qualificada, tráfico de influência, falso testemunho, prevaricação, fraude processual, ocultação de cadáver, posse ilegal de arma de fogo de calibre restrito e ameaça a autoridades públicas, jornalistas e testemunhas.
Confrontos
Informações estatísticas da delegacia de Investigações de Homicídios de Goiânia revelam que cerca de 9% dos assassinatos ocorridos na cidade nos últimos sete anos aconteceram durante supostos confrontos entre policiais militares e bandidos. Neste período foram registrados 2.429 homicídios na capital. Destes, 224 assassinatos ocorreram durante supostos confrontos. Todos os casos foram investigados pela Corregedoria da Polícia Militar, pela Delegacia de Homicídios e pelo Ministério Público.
O homem que recebeu a visita da comissão no presídio nesta terça-feira, em Campo Grande, coronel Macario, foi exonerado recentemente do cargo de subcomandante e de chefe do Estado Maior da Polícia Militar. Ele assumiu as funções no dia 4 de janeiro deste ano, depois de ter o nome escolhido pelo governador Marconi Perillo por seus "importantes trabalhos à corporação".
Sempre na linha de frente, coronel Macário, 51 anos, entrou para a Polícia Militar em 1983. Formado em Direito, já foi comandante das Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam), do 9º e do 13º batalhões, em Goiânia, e do Batalhão Ambiental. Antes de assumir o cargo de subcomandante, esteve à frente do 8º Comando Regional da corporação em Rio Verde. No interior, já foi subcomandante do 10º Batalhão em Luziânia.
O militar já recebeu várias condecorações, como a Medalha do Mérito Legislativo Pedro Ludovico Teixeira, medalha do Guardião, do Gabinete Militar e medalha do 150 anos da Polícia Militar.
Coronel Macário é um dos investigados no desaparecimento do soldado Rones Dias, que trabalhava como motorista do coronel quando este comandou o 13º Batalhão da PM em Goiânia. Rones desapareceu em 7 de dezembro de 2005. Uma das primeiras pessoas a chegar ao apartamento do soldado foi o coronel, segundo as investigações. Elas apontam que a morte teria sido queima de arquivo.