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TRABALHO O que pensam as mulheres no mercado de ações? O que pensam as mulheres no mercado de ações? 8 MAR 2011 • POR INFOMONEY • 20h35

Depois de ingressarem no mercado de trabalho em peso, as mulheres estão em busca de informação para lidar melhor com o dinheiro e, por que não, investir no mercado de ações. No dia delas, descobrimos que cada vez mais as mulheres se enveredam pelo mercado de renda variável, em busca de melhores rendimentos e maior estabilidade financeira.

Para se ter uma ideia da força delas no mercado acionário nacional, em nove anos, o número de investidoras na BM&FBovespa se multiplicou por dez. Em 2002, elas não passavam de 15 mil e representavam 17,6% do total de investidores. Em fevereiro deste ano, o número saltou para quase 150 mil, o equivalente a um quarto dos investidores pessoa física da Bolsa.

Segundo a consultora da BM&FBovespa, Tércia Rocha, uma das características dessas mulheres investidoras é que elas estão sempre em busca de conhecimento. “Elas conseguem lidar com diferentes assuntos, procuram nossos cursos e se atualizam. Como têm o planejamento da vida na mão, conseguem ter uma visão de médio e longo prazo que é importantíssima”.

Procura de aprendizado
A bancária Adriana Lopes da Silva, 33 anos, é exemplo da busca do conhecimento por parte das mulheres. Ela decidiu aprender mais sobre o mercado acionário para uso tanto na vida pessoal, para poder investir, quanto na profissional, para auxiliar os seus clientes na escolha dos melhores investimentos.

“Queria ter uma noção de como era o mercado de ações. Já trabalho como bancária e também pretendo tirar o certificado da Anbima [Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais] exigido pelo banco para que possa indicar investimentos para os clientes”, diz.

Essa busca por informação é apontada por Tércia como fundamental para o sucesso no mercado de ações. “É importante que as mulheres estejam bem informadas para comprar e vender qualquer ação, para poder investir de forma correta. É a informação que ajuda o investidor e, no Brasil, ela é gratuita", aponta, citando que há cursos, palestras e sites gratuitos sobre investimentos.

Como boa parte das pessoas que não estão acostumadas com o mercado de ações, Adriana achava este tipo de investimento muito “agressivo” e tinha medo de perder tudo. “Mas depois vi que não é nenhum 'bicho papão'. Agora, pretendo conhecer melhor, fazer mais cursos, até me sentir segura para começar a investir meu dinheiro em ações”, diz.

Colocando ordem em casa
Muitas pessoas precisam, antes de começar a investir, equilibrar as finanças e, entre as mulheres, a busca por cursos também tem esse objetivo. Este é o caso da funcionária pública Ângela Maria Fernandes, 56 anos, que sempre teve dificuldades na vida financeira e resolveu procurar um curso da BM&FBovespa para ver se conseguia melhorar seu “relacionamento” com o próprio dinheiro.

“Sempre fui muito desorganizada com minhas finanças. Meu filho já investe em ações e sugeriu que eu fizesse o curso, para lidar melhor com meu dinheiro e aprender a importância de poupar e investir”, afirma.

Para Ângela, uma das maiores dificuldades era conseguir separar um valor do salário por mês para destinar a alguma aplicação. “De uns tempos para cá, não sobrava quase nada do meu salário e, por isso, eu nem pensava em fazer nenhum investimento. O máximo que fazia era colocar algum valor na poupança, para usar em caso de alguma emergência”, lembra.

Agora, ela já pensa até em começar a investir em ações. “Depois de fazer o curso, aprendi a me organizar melhor e estou mais animada para começar a investir. Vi que existem outras possibilidades que, de repente, a poupança não é a melhor opção e que posso aplicar meu dinheiro de outras maneiras”, afirma.

A diretora do Link Trade, home broker da Link Investimentos, Monica Saccarelli, reconhece a situação de Ângela como a de muitas brasileiras: “Na dúvida, elas começam a colocar o dinheiro na poupança, mas a mulher está cada vez mais conquistando a independência e a principal dúvida que está surgindo é em quê e como investir? Às vezes, ela sabe guardar dinheiro, mas não sabe onde investir”, afirmou.

O sustento do lar
Depois de procurar aprendizado e colocar ordem nas finanças, algumas mulheres têm tido bastante sucesso no mercado acionário, tirando até mesmo o sustento do lar dos papéis negociados em bolsa de valores. A dona de casa Maria Paula Midaglia, 45 anos, pode atestar que isso está realmente acontecendo no Brasil.

A dona de casa, que aprendeu a importância do longo prazo na prática, já investe em ações há mais de dez anos e, junto com o marido, consegue tirar daí o sustento da família. “Quando comecei a investir em renda variável, tinha muito mais medo. Hoje, já tenho mais experiência, sei qual papel devo comprar e qual devo vender e em qual momento. Quando a ação começa a cair, eu não me desespero mais, sei que devo aguardar e esperar que ela suba”, afirma.

Maria Paula começou a investir por influência do marido, que já foi bancário e também trabalhou na Bolsa de Valores. “Aprendi sozinha, vendo meu marido. Hoje, nós dois investimos e conseguimos nos manter com aquilo que ganhamos com os investimentos”, diz.

Elas x eles
De acordo com a doutora em psicologia econômica Vera Rita de Melo Ferreira, por enquanto, o comportamento de homens e mulheres ainda é diferente quando o assunto é investimentos, mas tende a se igualar.

“Elas são mais cuidadosas, mais conservadoras, têm menos familiaridade com o mercado financeiro e com questões de finanças, então elas ficam com mais receio e vão atrás de informações. O homem já é mais arrojado. Estamos vendo que mulheres mais jovens estão começando a investir deste jeito”.

Já a consultora financeira Eliana Bussinger discorda da visão de que as mulheres são conservadoras nos investimentos. “Em uma pirâmide de investimentos, no topo com modalidades mais arriscadas, lá em cima tem onde os homens estão mais aplicando. Mas lá em cima está o investimento em empreendimento próprio e, neste ponto, elas estão empreendendo mais. Abrir o próprio negócio é um dos investimentos de maior risco”, ressalta.

* Reportagem de Diego Lazzaris e Flávia Furlan Nunes