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Prevenção Médicos indicam drogas anticâncer para pessoas saudáveis Médicos indicam drogas anticâncer para pessoas saudáveis 31 MAR 2011 • POR Folha • 02h00

Um grupo de oncologistas dos EUA e da Europa está defendendo a quimioprevenção, que é o uso de remédios para câncer em pessoas saudáveis, mas com alto risco de desenvolver a doença.

Em um consenso internacional coordenado pelo epidemiologista Jack Cuzick, do centro de pesquisas em câncer do Reino Unido, médicos e pesquisadores afirmam que remédios hormonais são eficazes na redução do risco de câncer de mama, mas pouco utilizados.

Um desses remédios é o tamoxifeno, que bloqueia os receptores de estrógeno na mama. Ele já foi bem pesquisado para a prevenção, e seu uso nesse contexto foi aprovado pelo órgão regulador de medicamentos dos EUA, o FDA, mas não pela Anvisa.

"A indicação pode ser feita individualmente pelo médico, mas a maioria não faz", diz o oncologista Auro del Giglio, da faculdade de medicina do ABC e do hospital Albert Einstein.

Isso porque, segundo Giglio, o remédio pode aumentar o risco de trombose e câncer de útero. "E, embora as pesquisas mostrem que o remédio diminui casos de câncer, não indicam se ele faz a mulher viver mais tempo e ter qualidade de vida."

A indicação da droga costuma ser feita para casos de alto risco, mas há tentativas de estender esse uso. O mastologista José Roberto Filassi, do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo) acredita que há interesses comerciais por trás.

"Há um estudo sobre o uso preventivo de outro tipo de droga hormonal para câncer que deve ser publicado em 2012. São os inibidores de aromatase, que impedem a formação de estrógeno. Pode haver interesse dos fabricantes, porque esses remédios estão perdendo a patente."

Em artigo publicado no periódico "Lancet Oncology", os principais autores do consenso declaram conflitos de interesse. Eles receberam patrocínio da Astra Zeneca, Novartis e Eli Lilly, que fabricam inibidores de aromatase.

POLÊMICA

Em outro artigo publicado na revista "Nature", Michael Sporn, professor de farmacologia da faculdade de medicina Dartmouth (EUA), sugere que o uso preventivo de remédios para câncer pode se tornar tão comum quanto o de estatinas para evitar doença de coração.

As estatinas diminuem o colesterol, fator de risco para infartos. Os remédios hormonais reduzem ou bloqueiam o estrógeno. Em 70% dos casos de câncer de mama, o aumento desse hormônio no tecido mamário está associado ao desenvolvimento da doença.

"É preciso diferenciar as coisas. O colesterol pode ser medido objetivamente. O risco de câncer de mama não, é só uma projeção a partir de dados clínicos. E mesmo assim, ter maior risco não significa que você vai desenvolver a doença", diz a coordenadora de oncologia clínica do Icesp, Pilar Estevez.

Além de a definição de "risco" ser problemática, Estevez questiona o uso de remédio por pessoas que não estão doentes.

"Se ela tiver complicações por causa do remédio, trocou uma probabilidade de doença por problemas induzidos pelo medicamento."