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Política A grécia eterna A grécia eterna 6 FEV 2010 • POR ZORRILLO DE ALMEIDA SOBRINHO • 04h05

Com as Olimpíadas a Grécia ressurge com todo seu esplendor antigo, a nos lembrar a sua grande contribuição para nossa civilização ocidental, para a qual ela foi, sem sombra de dúvida, um fanal brilhante cuja presença na filosofia, nas artes, na arquitetura, nas matemáticas, na astronomia, na democracia (palavra que vem de lá), na medicina, no direito (hipoteca vem de lá), no amor platônico e no esporte. Trata-se, portanto, de uma civilização com vinte e cinco séculos que nos fala ainda e mais do que nunca. Pensamos que não, porém cada cidadão moderno traz em si, ou carrega consigo, um pouco daquela civilização inoxidável. Sua presença constante mais do que nunca está na política, no direito e na democracia. E é maior se se considerar a escrita, o humanismo e as artes. E é enorme na teoria, no raciocínio e na ética. A mitologia sempre apareceu nos versos de todos os poetas dos séculos que precederam o atual e ainda hoje um que outro poeta inclui nos seus poemas os nomes mitológicos. O universo do Olimpo era povoado por uma pletora de deuses e deusas os quais eram dotados de todos os vícios e virtudes da humanidade. A escrita existente até então era a semítica que só possuía consoantes. Os gregos inventaram as vogais. A partir daí foi possível legiferar e Licurgo fez a constituição de Sparta, no sétimo século A.C. Já naquele tempo foi estabelecido que a nenhum cidadão era permitido alegar ignorância da lei e Tucídides disse: “Nós consideramos que um cidadão que não participa da política não é um cidadão tranquilo, mas um cidadão inútil”. E os sofistas inventaram a retórica e se tornaram hábeis no uso do poder das palavras e da argumentação. Entretanto, o primeiro artista da prosa acessível a todos foi Heródoto, o autor das “Histórias”. Na verdade ele não inventou a história, mas o ofício de historiador. E se os gregos não foram os primeiros a cunhar moedas eles foram não obstante os primeiros – com Sólon – a lhes emprestar a sua função moderna e a fazê-las símbolo de um Estado soberano. Os gregos viviam em constantes guerras, mas sabiam fazer tréguas esportivas tais como as Olimpíadas que o barão de Coubertin soube reeditar em nossa modernidade, embora, na Grécia, as competições tivessem uma origem religiosa e ritual, porém também se destinavam a medir as aptidões físicas dos melhores elementos de cada cidade para a guerra. Foi assim que nasceu o atletismo. As mulheres eram proibidas de participar nos espetáculos. Enfim, tais como deuses dos estádios, os atletas eram objeto do trabalho dos escultores que os representavam no mármore para a posteridade. Entretanto, ó revolução! Semelhantes às estátuas dos deuses as dos atletas também eram esculpidas sem vestes. Pode-se dizer, por conseguinte, que desse modo surgiu o nu na arte ocidental. A nudez grega é, portanto, o símbolo de uma civilização centrada no homem. É a exaltação do corpo humano. Os deuses eram feitos à imagem do homem. Do lado feminino só uma deusa – Afrodite (Vênus) – era representada despida. Produto do gênio dos escultores como Miron, Fidias e Praxíteles, os grandes artistas do IV e V século A.C., o nu tornouse pois sinônimo de arte grega, depois através do Mediterrâneo, o sinal distintivo do helenismo. Surge, após isso, uma manifestação até então inédita – o teatro. Suas raízes foram religiosas: o culto prestado a Dionisius (Baco). Contudo, o pai da tragédia moderna foi Sófocles. A comédia surgiu com Aristófanes. Platão descreveu a beleza suprema – O Amor, e Aristóteles inventou o raciocínio e a lógica e com a lógica ele criou também a ética. Salve a Grécia eterna!