A Polícia Civil de Pernambuco ouviu ontem as três irmãs e a mãe do estudante de biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco Alcides do Nascimento Lins, de 22 anos, morto na noite do último sábado no bairro da Torre, zona oeste do Recife. O rapaz foi enterrado domingo. As quatro estão sob a proteção da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, depois de afirmarem ter sido ameaçadas de morte. Alcides, que estudou durante toda a vida em escolas públicas e vinha de família muito humilde, ganhou notoriedade na mídia nacional depois de passar em primeiro lugar no vestibular da UFPE, em 2007. Filho de uma catadora de lixo, o jovem iria se formar no final deste ano e já planejava iniciar um mestrado. Informações preliminares da secretaria dão conta de que o rapaz teria sido assassinado durante uma tentativa de acerto de contas entre traficantes. Em depoimento, a mãe de Alcides, Maria Luiza Ferreira do Nascimento, de 44 anos, confirmou as declarações dadas horas após o crime. Muito abalada e vestindo o jaleco que o filho usava no estágio, no Hemocentro de Pernambuco, ela informou que dois rapazes armados bateram em sua porta, por volta das 23h de sábado, à procura de dois jovens da comunidade, identificados como Tiago e Saúba. Ainda segundo Maria Luiza, os assassinos acusaram Alcides de ser um dos rapazes procurados. Mesmo após terem negado que o estudante era um dos criminosos, os acusados atiraram duas vezes contra a cabeça de Alcides. Bastante nervosa, a mãe do rapaz disse ainda que ela e a família corriam risco de morte porque os assassinos estariam com medo de ser descobertos em função da divulgação do caso. Minutos antes de morrer, Alcides havia concluído um trabalho para a faculdade e se preparava para ir dormir. “Fomos avisadas por alguns vizinhos de que eles estavam indo matar a gente. Tive que sair de casa com minhas filhas, no meio da madrugada. Eu não tenho mais vida, porque eles me levaram o que eu tinha de mais importante, meu filho, meu orgulho, mas eu tenho que proteger as minhas filhas desses assassinos”, desabafou Maria Luíza na saída do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), onde prestou depoimento por mais de três horas. De acordo com fontes policiais, apesar das informações iniciais, dadas por alguns vizinhos, de que os assassinos poderiam ser jovens da comunidade onde a vítima morava, esta possibilidade está praticamente descartada. “A linha de investigação que ganhou força após o depoimento da família é a de que os assassinos seriam integrantes de uma quadrilha rival à dos rapazes identificados como Tiago e Saúba, que seriam conhecidos por envolvimento no tráfico e estariam jurados de morte. Ao que tudo indica, um deles, o Tiago, estaria na casa ao lado da de Alcides na hora do crime”, revelou a fonte. Revolta A comunidade onde Alcides morava está revoltada. Amigos da faculdade e do estágio estão chocados. O reitor da Universidade Federal de Pernambuco, Amaro Lins – que, desde o ingresso de Alcides na faculdade, mantinha contato com o rapaz, a quem admirava – afirmou que a instituição estará “ao lado da família”. “Alcides era um ser humano extraordinário. Não era só um bom aluno, um ótimo estagiário. Era um exemplo de superação para todos nós, que muitas vezes, diante de dificuldades mínimas, desistimos de nossos sonhos. Ele tinha um brilho no olhar que chamava a atenção de quem cruzasse seu caminho. A dor é imensa”, declarou. Uma das irmãs de Alcides foi aprovada para o curso de Farmácia da UFPE.