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Estranho socorro Estranho socorro 18 FEV 2010 • POR • 06h39

Com a ajuda de inacreditáveis R$ 7,5 bilhões do Banco de Desenvolvimento Econôm ico e Soci a l (BNDES), o JBS Friboi t or nou - s e "a m a ior companhia produtora de proteína do mundo e um orgulho para o País", de acordo com integrantes da direção do frigorífico, que no ano passado incorporou a segunda maior rede de abatedouros do País, o Bertin. Petrobras, Vale e Embraer, por exemplo, também estão entre as maiores do mundo em seus setores e, em tese, orgulho nacional. Porém, qual a vantagem que os brasileiros diretamente ligados, ou dependentes, destas empresas levam nisto? Quer dizer, de nada adianta a Petrobras ser um das gigantes mundiais se os brasileiros estão entre aqueles que pagam a gasolina e o diesel mais caros do mundo. A mesmo lógica vale para o setor da carne. De nada adianta o País ser sede dos maiores frigoríficos do planeta se o preço da carne cai para os produtores e continua nas alturas nos açougues e supermercados, como ocorre desde meados do ano passado, quando a arroba começou a despencar, mas mesmo assim os consumidores não sentiram os efeitos. Quer dizer, recursos públicos, e aos borbotões, R$ 3,48 bilhões, foram injetados para aquisição de empresa norte-americana e para criar uma espécie de monopólio das carnes no Brasil. Está mais do que claro que a economia atual gira em torno de gigantescas multinacionais, as quais não necessariamente são sinônimo de exploração dos pequenos. Porém, isto não significa que montanhas de recursos públicos, que poderiam ser utilizados para incentivar a produção local e para garantir melhorias na infraestrutura de transportes, portuária e de energia, por exemplo, sejam injetados em negócios nos quais não há garantia de que prosperarão. Para formar um estoque regulador de etanol, algo que beneficiaria alguns milhões de brasileiros que compraram carros flex, seriam necessários menos de R$ 3 bilhões. O mais salutar, pelo menos é isto que ensinavam os manuais da economia até hoje, seria o incentivo público à disputa de mercado e à concorrência, o que automaticamente resultaria em benefício ao consumidor final. Está mais do que sabido que outros frigoríficos também já receberam injeção de recursos do BNDES, mas nada comparável ao que foi concedido para o Friboi e o Bertin. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, pecuaristas e entidades representativas do setor estão tentando criar uma espécie de cooperativa para abater o gado e reduzir o número de intermediários entre o campo e a mesa dos consumidores. Estes, caso consigam se organizar adequadamente, certamente não terão tratamento nem mesmo parecido ao dispensado aos grandes empresários, embora o alcance social poderia ser infinitamente maior e mais rápido que a aquisição de empresa mal das pernas nos Estados Unidos, como foi o caso deste último socorro ao JBS.