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Política de cotas Política de cotas 19 FEV 2010 • POR • 08h18

Portaria que está em vigor há cerca de três meses, publicada pela Diretoria Geral da Polícia Civil, estabelece que os policiais da Delegacia de Repressão a Roubos, Assaltos e Sequestros (Garras) investiguem o roubo de gado somente quando forem subtraídas mais de 50 cabeças de alguma propriedade. Nos demais casos, a investigação fica sob responsabilidade dos policiais da região onde ocorreu o furto. Estes, porém, normalmente não têm estrutura e grande parte dos casos acaba sendo esquecida. O roubo de gado, embora um problema da maior gravidade, não chega a ser algo corriqueiro ou que atinja grande número de proprietários. Por isso, alguém poderia imaginar que a polícia realmente precisa priorizar a investigação e repressão dos crimes mais abrangentes e que representam risco à integridade física dos contribuintes, como alega a polícia. Porém, ao que se percebe, isto também está longe de acontecer. Prova disto é que mensalmente era registrada média de 48 assaltos aos ônibus do transporte coletivo de Campo Grande. Em janeiro deste ano, porém, o número saltou para 106, o que representa mais de três casos diários. E, para evidenciar que se trata de uma situação da maior gravidade, um motorista foi esfaqueado na noite de quarta-feira e teve que ser submetido a cirurgia na Santa Casa. Até ontem, seu estado de saúde era considerado bom. Seria de se imaginar que, numa situação como estas, houvesse o máximo rigor para combater a criminalidade, o que também não acontece, pois raras são as notícias de que algum destes delinquentes é preso. E, quando isto ocorre, são os próprios usuários do transporte coletivo que se arriscam e desempenham seu direito de polícia. Os empresários até já meteram a mão no bolso e equiparam os veículos com pequenos cofres, o que impede que grandes quantidades de dinheiro sejam levadas. Além disso, instalaram câmeras que supostamente inibiriam a ação dos bandidos, pois, uma vez filmados, seria de se supor que a ação da polícia seria facilitada e a probabilidade de eles serem presos aumentaria consideravelmente. Nem isto, contudo, intimidou os assaltantes, como evidenciam os números mais recentes. Quer dizer, nem mesmo com as imagens em mãos a polícia foi levada a agir. Normalmente os ladrões levam pequenas quantidades de dinheiro dos ônibus, devem alegar os responsáveis pela segurança pública quando ignoram estes crimes. Com isso, porém, fica mais uma vez comprovado que a bandidagem tem liberdade para agir, contanto que respeite determinada cota estabelecida pela própria polícia. Só resta descobrir se existe algum documento oficial definindo este valor máximo que a população deve tolerar. Assim, talvez, muitas vítimas deixarão de perder tempo ao registrar queixa nas delegacias, onde normalmente "solícitos" agentes passam horas em frente ao computador ou pendurados ao telefone cuidando de assuntos particulares enquanto vítimas aguardam pacientemente por atendimento na esperança de recuperar parte de seu patrimônio. Familiares do adolescente Paulo Henrique Rodrigues, morto quarta-feira com um tiro no peito por um assaltante em fuga no Jardim Tarumã, não têm qualquer esperança, pois deles foi tirado o bem mais precioso de todos.