O primeiro-ministro francês Jean-Marc Ayrault anunciou nesta quinta-feira que se o perigo dos OGM (Organismos Geneticamente Modificados) for comprovado, a França defenderá em nível europeu sua interdição, após a publicação de um estudo alarmante a este respeito.
"A publicação de um estudo realizado por cientistas franceses questionando seriamente a segurança em longo prazo do milho transgênico NK 603 provocou um encaminhamento imediato da Agência de Segurança Sanitária e da Autoridade de Segurança Alimentar Europeia", declarou o chefe de Governo em um discurso em Dijon (centro).
"Eu pedi um inquérito rápido, na ordem de algumas semanas, que permita verificar a validade científica deste estudo", acrescentou.
"Se os resultados forem conclusivos, (o ministro francês da Agricultura) Stéphane Le Foll defenderá a proibição dos OGM em nível europeu", disse ele.
Paris e Bruxelas alertaram na quarta-feira suas respectivas autoridades de saúde, após a publicação deste estudo chocante, mostrando tumores do tamanho de bolas de pingue-pongue em ratos alimentados com milho transgênico da Monsanto importado para a Europa.
Segundo a eurodeputada e ex-ministra do Meio Ambiente francesa Corinne Lepage, os produtores de transgênicos fazem o possível para que não haja estudos sobre os efeitos estes organismos sobre a saúde.
"É revoltante pereber a incapacidade dos políticos para responder a uma pergunta simples: os transgênicos são um problema para a saúde humana? Há uma briga para que não sejam feitos estudos", denunciou Lepage.
Até agora, as empresas limitaram os estudos dos efeitos dos OGM durante 90 dias. Mas o estudo francês divulgado na véspera se baseou em uma observação num prazo maior.
O estudo publicado pela revista "Food and Chemical Toxicology" mostra que ratos alimentados com organismos geneticamente modificados morrem antes e sofrem de câncer com mais frequência do que os demais roedores.
"Os resultados são alarmantes. Observamos, por exemplo, uma mortalidade duas ou três vezes maior entre as fêmeas tratadas com OGM. Há entre duas e três vezes mais tumores nos ratos tratados dos dois sexos", explicou à Gilles-Eric Seralini, professor da Universidade de Caen, que coordenou o estudo.
Para realizar a pesquisa, 200 ratos foram alimentados durante um prazo máximo de dois anos de três maneiras distintas: apenas com milho OGM NK603, com milho OGM NK603 tratado com Roundup (o herbicida mais utilizado do mundo) e com milho não alterado geneticamente tratado com Roundup.
Os dois produtos (o milho NK603 e o herbicida) são propriedade do grupo americano Monsanto.
"Os resultados revelam uma mortalidade muito mais rápida e maior durante o consumo dos dois produtos", afirmou Seralini, cientista que integra ou integrou comissões oficiais sobre os alimentos transgênicos em 30 países.
Os tumores aparecem nos machos até 600 dias antes de surgirem nos ratos indicadores (na pele e nos rins). No caso das fêmeas (tumores nas glândulas mamárias), aparecem, em média, 94 dias antes naquelas alimentadas com transgênicos.
Os pesquisadores descobriram que 93% dos tumores das fêmeas são mamários, enquanto que a maioria dos machos morreu por problemas hepáticos ou renais.
O artigo da "Food and Chemical Toxicology" mostra imagens de ratos com tumores maiores do que bolas de pingue-pongue.
O diretor do estudo disse ainda que os transgênicos agrícolas são organismos modificados para resistir aos pesticidas ou para produzi-los e lembrou que 100% dos transgênicos cultivados em grande escala em 2011 foram plantas com pesticidas.
Segundo Seralii, os efeitos do milho NK603 só foram analisados até agora em períodos de três meses. Alguns transgênicos já foram analisados durante três anos, mas nunca até agora com uma análise em tal profundidade, segundo o cientista.
Também é a primeira vez, segundo Seralini, que o pesticida Roundup foi analisado em longo prazo. Até agora, somente seu princípio ativo (sem seus coadjuvantes) havia sido analisado durante mais de seis meses.
A AFBV (Associação Francesa de Biotecnologias Vegetais), favorável aos OGM, reagiu à publicação do estudo, assegurando que até agora nenhuma pesquisa revelou efeitos tóxicos em animais.
Já o grupo Monsanto reagiu ao estudo afirmando que é muito cedo fazer comentários a respeito.