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Crônica TV Decolagem tardia Decolagem tardia 24 FEV 2010 • POR • 07h00

Um dos maiores acertos de Gisele Joras na adaptação de “Bela, a feia” foi ambientar cada vez mais a trama colombiana para o clima e os costumes cariocas. Dessa forma, o história não tem se distanciado da verossimilhança necessária para que os personagens, por mais maniqueístas que possam parecer, ainda continuem naturalistas. Até mesmo com a comédia rasgada, que muitas vezes beira o pastelão, funciona nessa proposta. Com cenários bem acabados, uma ágil movimentação de câmaras e tomadas criativas do diretor Edson Spinello, a produção também prende a atenção pelo bom acabamento. Mesmo em tons fortes e quentes, explicitamente valorizados a cada capítulo, a trama tem o respiro necessário das cenas externas que dão uma leveza em toda a história. Diferentemente da maioria das novelas da Record, quase todas com parcas cenas externas, “Bela, a feia” é arejada. Cenários como a Praia de Copacabana, no Rio, ou mesmo a cidade cenográfica da história, montada num parque de diversões carioca, conseguem trazer um respiro que combina com o clima animado do folhetim. Nessa proposta de fazer uma trama solar e jovial, o cenário que mais se destaca, além da aconchegante agência Mais Brasil, é o Salão Montezuma, palco dos personagens mais exagerados e populares, como Elvira, de Bárbara Borges, Haroldo, de João Camargo, e a desmiolada Magdalena, de Laila Zaid. Com uma diversidade de objetos “kitsch”, garimpados pela cuidadosa produção de arte, este ambiente é um dos pontos altos da produção não só pelo multicolorido e pela mistura de estilos típica de estabelecimentos do subúrbio carioca, mas pelas boas atuações desse núcleo. Só que todo o colorido da história não tem sido suficiente para erguer os parcos 9 pontos de média no Ibope. Talvez, a drástica mudança no visual de Bela, de Giselle Itiê, que aparece totalmente repaginada quando volta a trabalhar na agência, após sofrer uma tentativa de assassinato, consiga erguer os ânimos da Record com um aumento expressivo da média da audiência da trama. Um dos prováveis pontos fracos da história é a sobriedade que muitas vezes destoa do resto da produção no núcleo dos vilões. Simone Spoladore, que interpreta a diabólica Verônica, Thierry Figueira, que dá vida ao malvado Dinho, e Iran Malfitano, como Adriano, um vilão que pouco convence com seu semblante constantemente franzido, ainda não se destacaram. Mais parecem três patetas atrapalhados. Sempre rabugentos, em atuações muitos tons acima em suas vilanias, eles se transformaram nos erros mais gritantes da produção. No entanto, são justamente esses personagens que menos acrescentam à história, que permitem uma boa quantidade de cenas de ação. Com tomadas bem acabadas, uso de gruas, trilhos e bons efeitos especiais, as externas são acompanhadas de um esmero técnico. Afinal, o que a Record tem feito de mais substancial em suas recentes produções são as cenas de ação, fruto de investimentos na emissora em boas contratações de dublês e uma competente equipe de efeitos especiais. Mesmo com bom tempero e ingredientes necessários para uma trama de êxito, parece faltar pouco mais que o reaparecimento de Bela para a novela realmente engrenar nesta reta final.