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Vincent Cassel sobre mudança para o Brasil: 'fugi do astral ruim da França'

Vincent Cassel sobre mudança para o Brasil: 'fugi do astral ruim da França'

5 MAI 2013 • POR IG • 13h15

A relação de Vincent Cassel com o Brasil é íntima e antiga. O primeiro contato do ator francês com o país foi quando, ainda criança, assistiu ao filme "Orfeu Negro", cuja trilha sonora foi assinada por Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Em 1989, aos 23 anos e "antes da eleição do Collor", ele desembarcou em Salvador sob pretexto de aprender a jogar capoeira. Aprendeu, e seu caso com o Brasil estava apenas começando.

 

Hoje, aos 46 anos, Vincent é residente do Rio de Janeiro. Há quatro meses ele trocou a França por um apartamento no Arpoador, na zona sul carioca, onde mora com a mulher, a atriz italiana Monica Bellucci, e as duas filhas, Deva e Léonie. "Minha família está se adaptando muito bem. A Monica está melhorando o português e minhas filhas falam melhor do que eu, na verdade. Até tenho ciúmes. Meu sotaque francês é muito forte. Mas depois de dois chopes, melhora ", disse o ator ao iG .

Vincent já é um carioca. Tem CPF, fala gírias como "caraca" e "tranquilo", prefere chope com colarinho e gosta de ser chamado de Vicente. "Gosto da sonoridade. É mais fácil", confessou ele, que se mudou para fugir da situação "difícil" pela qual passa a França. "O momento lá é difícil por causa da crise e deste governo perdido, que diz ser de esquerda. Mas isso não existe. Chamamos até de esquerda caviar (risos). Fugi do astral da França, que está ruim e negativo."

"Em Transe"

A rotina de trabalho, segundo Cassel, continua a mesma de quando morava em Paris. " Estou em um ponto da minha carreira que não preciso estar em um lugar em particular para trabalhar. Viajo para fazer o filme", conta ele, protagonista de "Em Transe" , filme dirigido por Danny Boyle, o mesmo de "Quem Quer Ser um Milionário?" e "127 horas".

O longa conta a história de Simon (James McAvoy), um negociante de arte que se envolve com um grupo de criminosos. Mas, após uma pancada na cabeça, se esquece de onde escondeu uma pintura valiosa. Vincent Cassel vive Frank, o líder do grupo que, ao perceber que Simon é incapaz mesmo sob tortura de se lembrar, contrata uma hipnoterapeuta (Rosário Dawson).

O desejo de trabalhar com o diretor britânico foi o grande motivo para aceitar o convite. "Mais do que tudo, queria trabalhar com Danny Boyle. Depois veio o roteiro e o papel. Já fiz muitos gângsteres na minha carreira, mas nunca um deste tipo. Durante o filme, ele vai se transformando em uma figura romântica. É um gângster simpático", brinca.

Vincent não tem medo de ficar estereotipado por papeis de anti-herói. "É culpa minha. Totalmente. Gosto de fazer esses personagens e parece que tenho cara de mau (risos). Acho que tenho um rosto forte, particular". O longa está em cartaz nos cinemas.

Cinema Brasileiro

Vincent quer aproveitar sua estadia no Brasil para desenvolver projetos com diretores e atores brasileiros. Após a experiência em "À Deriva", de Heitor Dhalia (2009), o ator francês vai ser dirigido por Cacá Diegues. "Não posso dar muitos detalhes porque ele é quem vai anunciar, mas devemos começar a rodar o filme ainda neste ano. É uma história bem brasileira, com filmagens na Europa e aqui no Brasil", disse ele, que afirma que gostaria de contracenar com Lázaro Ramos, Wagner Moura, Selton Mello e Seu Jorge, de quem é fã. "É um grande ator e cantor. Adoro ele. Seu Jorge é a MPB moderna, mas com o jeito do sambista malandro."

O ator diz ser "admirador" do cinema brasileiro. "Aqui tem muitos talentos, mas precisa de dinheiro. Fazer filme é muito caro e aqui todo o dinheiro vai para a televisão." A TV é um mundo que não fascina Cassel. "Fazer novela? Para quê ? Conheço atores de novela que não conseguem andar na rua. As pessoas gostam de ser famosas, mas para mim a liberdade é o mais importante de tudo. Ser famoso para não se poder fazer nada? Ficar sozinho no seu Range Rover?", brinca.

Para Vincent, o mundo das celebridades é algo incompatível com seu modo de vida. "Aqui tem uma parte da sociedade que é superfofoqueira. O mais interessante é saber que neste país acontecem coisas dramáticas todos os dias. É muito estranho essa desconexão total da realidade."