Fo r a m a b e r t a s ontem as propostas para aquisição de carnes para a merenda escolar da rede municipal de ensino de Campo Grande. Simplesmente n ão houve d i sput a, como se só houvesse um vendedor de coxa e sobrecoxa de frango no universo. Um dos interessados foi desclassificado por conta de problemas burocráticos (falta de registro no Ministério da Agricultura). E, sem disputa (que não aconteceu por conta de exigências estranhas no edital), as aquisições devem ser feitas quase pelo preço máximo, caso o certame não seja revisto. Como já era de se esperar, o frigorífico JBS, único que abate o chamado boi orgânico, tende a ser o vencedor da disputa pela compra de carne moída orgânica, que sairá por preço bem superior ao da carne "comum" vendida na cidade. Os demais lotes, inclusive aquele que prevê aquisição de 33 toneladas de avestruz, tiveram como vencedor uma única empresa. Por coincidência ou não, é a mesma que há cerca de cinco anos vence todas as licitações do gênero na Capital. Possíveis concorrentes simplesmente não conseguem participar da disputa porque são desclassificados previamente por falta de documentos que estão literalmente fora do alcance. Conforme as propostas abertas ontem, que serão ou não homologadas em dez dias, o preço final das mercadorias será apenas 5,5% abaixo do teto. Se houvesse disputa, com toda a certeza haveria economia bem maior. Então, se a municipalidade tem interesse em economizar recursos, tem obrigação de anular a disputa e abrir outra, para atrair maior número de fornecedores e assim comprar a merenda por preço inferior. Porém, como desde o princípio (ou há vários anos) tudo indica que se trata de licitações direcionadas, não será surpresa se as propostas abertas ontem forem homologadas e a carne moída for aquirida por 30% ou 40% acima daquilo que qualquer pai ou mãe de família de bom senso paga em Campo Grande. Diante destes indicativos, só resta a esperança de que o Ministério Público entre em ação, pois pedidos de impugnação estão sendo solenemente ignorados pela comissão de licitação. E, diante dos indícios de disputa direcionada, o Ministério Público Estadual tem obrigação de tomar providências. Se determinados políticos querem beneficiar criadores de avestruz ou de boi orgânico, que o façam com o próprio dinheiro. O que não se pode admitir é que façam caridade com dinheiro dos contribuintes de Campo Grande. No mínimo, os responsáveis pela aquisição das carnes exóticas devem imaginar que os campo-grandenses são, em sua quase totalidade, tolos o suficiente para aceitar aberrações como esta. Desde o começo, todo o certame está sendo encabeçado pelo vice-prefeito, Edil Albuquerque. E, se em contratos menores (embora cerca de R$ 1,2 milhão não possa ser considerado pouca coisa) ele age assim, é de se imaginar o risco que as finanças do município correriam caso ele viesse a assumir o lugar do prefeito, que chegou a cogitar a possibilidade de renunciar ao cargo para disputar vaga ao Senado, embora chefe nenhum possa ser isentado sobre os atos eventualmente falhos que subalternos cometem. A palavra final cabe ao chefe deste vice.