Muitos casos de violência doméstica são registrados diariamente em Campo Grande, mas um, ocorrido ontem, chocou a polícia. Depois de denúncia feita por moradores do Aero Rancho - bairro mais populoso da cidade -, policiais militares do 10º Batalhão encontraram uma mulher mantida em cárcere privado há 22 anos.

Já sem os dentes da frente e com muitos hematomas deixados pela violência do marido, C.I.S, de 44 anos, vive em condições precárias. Uma das policiais que atendeu a ocorrência relata que a mulher e os quatro filhos – de 15, 11, 7 e 5 anos – não têm acesso à água encanada, por exemplo. “Eles evacuavam em um buraco no quintal e não tinham sabão para lavar roupa”, conta a tenente Elka.

A vítima relatou aos policiais que desde que foi morar com o homem não mantém contato com a família. A repressão e o medo eram tão grandes, que mesmo sem estar trancada em casa, Cira Higino Silva não saía. Os vizinhos relataram que raríssimas vezes viam a mulher em frente de casa ou no quintal.

Ângelo da Guarda Borges,  58, ou 'carrasco do Aero Rancho', como já está sendo chamado na região, foi denunciado ontem pelos vizinhos depois da última agressão, quando ele teria 'pescado' a mulher com uma enxada e a agrediu com uma panela de ferro. A agressão deixou mais sequelas na mulher, que ficou com um corte no rosto e os glúteos deformados. Isso porque uma das vizinhas teria dado um pão para a mulher dividir com as crianças e o marido descobriu.

Dos filhos, o único que ia para a escola era o de 11 anos. O mais velho, de 15, parou de estudar a mando do pai, que alegava que era hora de trabalhar. Para falar com o pai, as crianças eram obrigadas a ficar de joelho, se não levavam um murro na cara. Todos os filhos também possuem marcas da violência. O de 11 anos, que mais enfrentava o pai, já teve o braço quebrado três vezes.

A equipe policial que socorreu a família conta que as crianças nunca haviam visto um prédio. O mais novo, de 5 anos, não sabia usar o vaso sanitário.

Preso, o 'carrasco do Aero Rancho' nega que tenha cometido essas crueldades. Ele foi encaminhado para a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). O caso foir egistrado como Violência Doméstica (Lei Maria da Penha) e Cárcere Privado.

A mulher e as crianças devem permanecer em uma Casa Abrigo.