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POLÍTICA

Tentativa de Delcídio para calar Correio é destaque nacionalmente

Tentativa de Delcídio para calar Correio é destaque nacionalmente

23 ABR 2014 • POR DA REDAÇÃO • 14h30

A tentativa do senador Delcídio do Amaral (PT) de censurar o Correio do Estado continua sendo destaque nacionalmente. Em artigo especial para o Observatório de Imprensa, publicado no último dia 15, o colunista Carlos Brickmann fala sobre a ação inibitória e analisa as atitudes do senador.

Leia o texto na íntegra:

Boa praça, o senador Delcídio Amaral (PT-MS). Sorridente, afável, de conversa agradável, gentil, sempre pronto a atender aos jornalistas, sempre demonstrando boa vontade com a imprensa. Isso, naturalmente, na primeira página. Nas páginas internas, onde aumenta o volume de informações a respeito do trabalho e das opiniões de Sua Excelência, o cavalheiro derruba o “h”, troca os sapatos de pelica por botas de couro cru e calça as esporas. O nome do problema é Nestor Cerveró. Cerveró foi diretor da área internacional da Petrobras e o demitiram depois de responsabilizá-lo por não ter fornecido informações completas sobre a compra da refinaria de Pasadena para o Conselho de Administração da empresa. Na época em que era o homem-forte da Petrobras, prestigiadíssimo, Delcídio Amaral e Renan Calheiros disputavam a honra de tê-lo indicado. Hoje, só falta garantir que não o conhecem. E é aí que Delcídio despe as roupas de Clark Kent e se transforma num Incrível Hulk com dor de dente.

Delcídio entrou com ação inibitória contra o Correio do Estado, de Campo Grande (MS), para proibi-lo de divulgar qualquer notícia que vincule seu nome ao de Cerveró. Parou por aí. Nada fez contra a Agência Folhapress, que forneceu a notícia ao Correio do Estado; nem contra outros jornais que também publicaram a notícia, como O Globo, Folha de S.Paulo, Estado de Minas, Correio Braziliense. Não quer que a notícia saia no seu estado – e ainda por cima num ano eleitoral! O juiz Wagner Mansur Saad, da 12ª Vara Cível de Campo Grande, ameaça multar o jornal em R$ 20 mil a cada vez em que relacionar o nome de Delcídio ao de Cerveró. E quer obrigar o Correio do Estado a revelar a fonte. Ainda bem que este colunista não se formou em Direito: ficaria perplexo com uma medida que, a seu ver, ignora a inviolabilidade garantida pelo artigo 5 da Constituição (deve ser interpretação errada de leigo, claro – mas que parece certa, isso parece). Mas a atitude de Delcídio, além de revelar muito sobre ele, revela outras coisas a respeito dos políticos em geral:

1. Todos amam a liberdade de imprensa, enquanto nada é descoberto a seu respeito. Quando viram alvo, continuam amando a liberdade de imprensa, “desde que não se confunda liberdade com libertinagem”, ou que os meios de comunicação “não se dediquem a distorcer notícias com finalidades eleitoreiras”.

2. Todos adoram jornalistas enquanto divulgam notícias que possam beneficiá-los. Aquele jornalista maravilhoso de repente se transforma no símbolo vivo do mal absoluto, a quem é preciso conter custe o que custar.

3. Imprensa tem de ser livre, protegida contra censura – mas nada que impeça regulamentá-la, né? Tem um pessoal aí que adoraria regulamentar a imprensa para que esses jornalistas aprendam a exercer a liberdade com responsabilidade – ou seja, que falem mal o quanto quiserem, quando quiserem, sem limites, mas apenas dos adversários.