Subindo em média pouco mais de 5 centímetros por dia na régua de Ladário, no período de um mês, o rio Paraguai deve alcançar 5,50 metros em meados de junho, na região de Corumbá. É o que aponta a projeção realizada pelo pesquisador Carlos Roberto Padovani, da Embrapa Pantanal, a partir da análise do comportamento e do nível do rio na estação de Bela Vista do Norte (MT), onde alcançou altura de 6,30 metros.
“Nossa estimativa é baseada na relação da régua de Bela Vista do Norte com a de Ladário. Estimamos que vá chegar, em média a 5,50 metros, isso tem variação é claro, mas a média seria 5,50 m. Não se caracteriza cheia extraordinária, já ocorreram várias dessas cheias ao longo do tempo, mas é uma cheia que pode afetar muitas pessoas que estão nas partes mais baixas, como por exemplo, as fazendas na região do Nabileque”, afirmou o pesquisador ao Diário Corumbaense. A previsão é de 5,40 metros em Porto Esperança e 4,60 metros em Forte Coimbra em meados do mês de junho.
Padovani explicou que a cheia do rio Paraguai na região de Corumbá e Ladário é um reflexo do que aconteceu meses antes no Mato Grosso. “A onda de inundação que chega todo ano a Corumbá vem lá do Mato Grosso. Nossa cheia é importada do Mato Grosso. Uma vez que você tem a quantidade de chuva que provoca inundação, essa água vai sendo drenada pelos rios e conflui para o rio Paraguai, que entra no Pantanal e traz essa onda de inundação”, observou.
“A grande quantidade de água que vem encher aqui em Corumbá vem da chuva que caiu lá no Mato Grosso. Esse ano, na região acima de Cáceres e da Bolívia, perto do Corixo Grande, que fica a oeste do Pantanal de Mato Grosso, caiu muita chuva. Nas cabeceiras da bacia do Paraguai e nessa bacia que faz fronteira com a Bolívia no oeste do Pantanal de Mato Grosso, teve muita chuva forte em fevereiro. Essas chuvas inundaram o Pantanal de Mato Grosso e essa grande quantidade de água drena aqui para o Pantanal. As águas vêm do Mato Grosso em direção ao Mato Grosso do Sul. Todos os rios, o Paraguai, Cuiabá, São Lorurenço, Piquiri sempre drenam aqui para a região do Pantanal Sul, de Corumbá”, esclareceu o especialista.
Trabalhando com imagens de satélites, dados semanais e mensais de chuva, e registro diário do nível do rio, o pesquisador destacou que haverá entrada de água na região do Porto da Manga, que compreende a Estrada Parque. “Em abril, choveu consideravelmente na região do Paiaguás e Nhecolândia. Essa chuva vai ser drenada no Porto da Manga, o que chove na Nhecolândia vai para o Porto da Manga, que é um lugar crítico porque a água acumula e se inundar muito causa transtorno”, disse.
A recomendação é que as comunidades de ribeirinhos, proprietários e arrendatários de terras para criação de gado que estejam na área sob influência do rio Paraguai fiquem atentos e tomem as providências necessárias para a sua proteção.
Maior cheia registrada na régua de Ladário foi em 1988
A maior cheia do século passado ocorreu em abril de 1988, quando o rio Paraguai, atingiu a marca de 6,64 metros na régua de Ladário, superando os 6,62 m de maio de 1905. A última grande cheia ocorreu em 1995, considerada a terceira maior, com pico de 6,56 metros.
Durante o período de 1964 a 1973, que antecedeu a essa cheia, o nível máximo registrado na régua ffffde Ladário tinha sido de apenas 2,74 metros. Cheia normal compreende de 5 a 5,99 metros. Cheia igual ou superior a 6 metros é considerada como uma cheia grande ou "super-cheia".
Nos 114 anos de observação do comportamento do nível do rio Paraguai em Ladário, 51 tiveram o valor máximo anual no mês de junho, 26 em maio, 23 em julho, 11 em abril, 2 em março e uma em agosto. Quanto aos valores mínimos anuais, 33 ocorreram no mês de dezembro, 32 em novembro, 28 em janeiro, 16 em outubro, 4 em setembro e uma em fevereiro.
Alertas sobre nível do rio
Os alertas sobre o nível do rio Paraguai são publicados pelo pesquisador na página do Facebook GeoHidro-Pantanal, uma iniciativa – mantida por pesquisadores da Embrapa e parceiros – que busca estabelecer uma comunicação mais direta com a população das regiões que podem ser afetadas pelas cheias. A página (https://www.facebook.com/pages/Geohidro-Pantanal/593932390647332) oferece mapas sobre as chuvas, dados e links de sites como a Agência Nacional de Águas (ANA) e Marinha do Brasil, de forma a criar um panorama mais detalhado sobre a cheia.