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Doença emblemática Doença emblemática 8 MAR 2010 • POR • 08h59

A dengue já pode ter matado em torno de duas dezenas de pessoas neste ano no Estado. Destas, pelo menos sete já estão confirmadas. Só na Capital suspeita-se que a doença seja a responsável por 12 mortes. É, literalmente, algo assustador, pois na grande epidemia de 2007, conforme dados oficiais, somente duas pessoas foram a óbito em Campo Grande em decorrência do problema. O assustador, neste caso, é que as autoridades em saúde simplesmente não sabem as razões de a epidemia estar provocando tantos casos graves. O médico infectologista Rivaldo Venâncio da Cunha, pós-doutor em Medicina Tropical e uma das maiores autoridades do País no assunto, afirmou ontem, em entrevista ao Correio do Estado, que “não temos conhecimento claro das razões que determinaram essas gravidades. Somente, algumas hipóteses, mas certeza ainda não temos”. E, quando os profissionais da saúde não conhecem as causas de determinado mal, fatalmente terão dificuldades para tratar destes pacientes. Longe de insinuar incompetência ou falta de preparo dos profissionais. Porém, é necessário admitir que o “tema dengue” ainda é envolto em muitos mistérios, os quais são solenemente ignorados pelas autoridades federais, que somente agora começaram a investir verdadeiramente em pesquisas para produção de vacina. E, segundo o médico Rivaldo Venâncio, esta é a única esperança para colocar um fim nas sucessivas epidemias. De acordo com ele, os testes em Campo Grande devem começar ainda neste ano e em menos de quatro anos será possível, se as pesquisas evoluírem conforme o esperado, fazer vacinação em massa. Ou seja, antes da provável próxima epidemia, já que elas surgem periodicamente, é possível que a imunização esteja à disposição. No caso da chamada gripe suína, que se alastrou em países do primeiro mundo, rapidamente foram feitos investimentos para descobrir a vacina, tanto que a partir de hoje começa a imunização de mais da metade da população de Mato Grosso do Sul. A dengue, por sua vez, ocorre preferencialmente em regiões mais quentes, normalmente menos desenvolvidas. E, geralmente é atribuída à população destas cidades boa parte da responsabilidade pelo surgimento dos surtos, a qual não adota as medidas necessárias para combater o mosquito transmissor da doença. Mas, de acordo com o médico, o aparecimento de grande número de casos não depende, ao que tudo indica, diretamente da quantidade de mosquitos, mas de pessoas que ainda não haviam sido infectadas por determinado tipo de vírus. Ou seja, até mesmo com relação às campanhas preventivas existem questionamentos que até agora não foram respondidos, pois por mais intensas que sejam as borrifações, as ações do setor de saúde e da própria população, a doença simplesmente explode periodicamente. Dizer que a população é deleixada, como é comum ouvir, ou que as autoridades são relapsas, parece ser simplismo. O que falta são estudos sérios a respeito de uma doença que sempre foi vista como algo sem gravidade, mas que neste ano está matando mais que qualquer gripe suína. E, se agora está matando aqui, no próximo verão fará vítimas em cidades maiores e nas quais o combate ao mosquito é bem mais problemático que em Campo Grande.