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Circuito fechado Circuito fechado 9 MAR 2010 • POR • 08h03

Carreira política, como todos sabem, é construída com base em grupos de apoio e alianças. Qualquer político busca aliados, mas sempre de olho nas vantagens que ele próprio terá ao incentivar determinadas pessoas. Ou seja, dificilmente um “político profissional” dá espaço para alguém que é ou pode vir a ser seu concorrente direto, mesmo que uma possível adesão possa significar reforço para o partido. As vagas para cargos eletivos são fixas e por isso os dirigentes das maiores agremiações literalmente fazem o rateio das vagas antes de qualquer disputa. Então, neófitos com efetivo potencial eleitoral só conseguem espaço em partidos nanicos. O conhecido Doutor Enéas, que ficou famoso por conta de seu pitoresco jeito de fazer campanha eleitoral, é um destes casos. Após disputar três vezes a Presidência da República, conseguiu notoriedade e fez uma montanha de votos em 2002 para deputado federal, 1,57 milhão, recorde nacional, e levou consigo para o Congresso outros cinco integrantes do Prona, sendo que o último deles obteve apenas 275 votos. Uma vez no Congresso, o folclórico deputado foi literalmente patrolado pelos grandes partidos e ele “desapareceu”, tanto que na eleição seguinte, em 2006, foi reeleito com “apenas” 387 mil votos, o quarto mais bem votado em São Paulo. O médico cardiologista faleceu vítima de leucemia em maio de 2007, aos 68 anos. Guardadas as devidas proporções, Mato Grosso do Sul está diante de situação semelhante agora. O juiz federal Odilon de Oliveira, conhecido por sua atuação contra o narcotráfico, lavagem de dinheiro e outras formas de crime organizado, está disposto a aposentar- se voluntariamente e entrar na vida política. O voto em Enéas, para muitos, significava uma espécie de protesto, ou desilusão com a política brasileira. O magistrado, porém, certamente seria visto como uma alternativa ao que está aí, uma terceira via com potencial para atrapalhar os interesses de muita gente. Partidos de significativa expressão até chegaram a convidá-lo, mas logo na sequência deixaram claro que não lhe dão garantia de que terá legenda para disputar vaga ao Governo estadual ou ao Senado, já que é esta, inicialmente, sua pretensão. O juiz certamente não é o primeiro nem o último novato com forte potencial eleitoral disposto a entrar na política que é barrado ou rapidamente expurgado pelos “profissionais”. Isto não significa que estes neófitos sejam necessariamente muito mais corretos ou competentes que os antigos, mas sempre existe a possibilidade, a esperança, de que algo poderá mudar para melhor. Esperar que algum destes faça milagres seria ingenuidade. Porém, o simples fato de as “velhas raposas” perceberem que existe gente disposta a destroná-las faz com que fiquem atentas e percebam o alto grau de insatisfação da população. O juiz, por mais respeitado que seja hoje, assim que deixar seu cargo passará a ser visto como um concorrente a mais e com toda a certeza não faltarão interessados em cortar sua carreira pela raiz.