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Política Dèbut à moda antiga Dèbut à moda antiga 12 MAR 2010 • POR • 00h44

Há 3 anos, o soldado da Base Aérea de Campo Grande, Thiago Mendes do Nascimento, 21 anos, pelo menos, duas vezes por mês repete um ritual: prepara com cuidado o uniforme utilizado em ocasiões especiais e espera, na própria base, transporte que o leve a um ponto diferente da cidade, onde é aguardado com ansiedade. No caso, não é somente o soldado que integra tal ritual, junto com ele, normalmente, mais 15 militares participam. Ao chegar, eles prosseguem a tradição de tornar a festa de aniversário de 15 anos de uma adolescente um evento mais do que especial – objetivo é fazê-lo inesquecível. Thiago faz parte do corpo de baile formado por soldados e sargentos da Força Aérea Brasileira da Capital, que há cinco anos é convidado para eventos de debutantes. “Quando foi formado a intenção do grupo era participar de formaturas de universidades e escolas, até chegamos a fazer, mas, com passar dos anos, fomos mais requisitados para festas de 15 anos”, explica o soldado Adam Henrique da Costa Ramires, um dos organizadores. No total, são 22 integrantes, mas nem todos participantes da festas. “É preciso ficar alguns de reserva, caso um ou outro não possa ir”. O grupo não representa a Base Aérea oficialmente, no entanto, tem seu apoio. Para integrar, o soldado precisa apresentar perfil adequado de comportamento e postura. Para integrar o grupo, o rapaz precisa receber o convite de um membro. “Depois de integrado recebe noções de como se comportar nas festas, desde como deve proceder com bebida e comida, até como agir na hora da dança e durante todo o decorrer da festa”, destaca o assessor de comunicação da Base Aérea, Paulo Cruz. O uniforme que vestem não é o de gala; é o utilizado pelos militares em cerimônias formais, sendo azul escuro com botões prateados. Durante a festa, o ponto alto é a participação dos militares, que são parceiros de dança das amigas da debutante, sendo que um é escolhido por esta para ser o príncipe, que a acompanhará na valsa. Normalmente, cada casal fica com uma vela, que é acessa pela aniversariante. No final, o salão, com pouca iluminação, é palco de movimentos leves dos casais. “É um momento lindo, glamouroso. Tudo é feito com muito cuidado e disciplina. A participação deles torna a festa inesquecível”, diz a comerciante Iracilda Graciela Escobar, que contou com a participação do corpo de baile da Base Aérea no aniversário das filhas, Isabela e Iara. “A primeira aconteceu há dois anos. Todos gostaram muito. Por esse motivo no aniversário da Iara, que aconteceu no último sábado, convidamos os militares para participar novamente. Quem assistiu elogiou muito”. Iracilda diz que quando fez 15 anos não teve festa de debutante, mas acha que é o “sonho de toda moça”. “É algo que marca muito, ainda mais com a participação do pessoal da Base Aérea”, elogia. Lurdes Vieira do Nascimento, que trabalha em organização de festa, diz que quando a filha fez 15 anos tentou levar os militares para participar, mas não conseguiu. “Acho que teve problema de agenda”. Na quarta-feira, ela marcou uma festa para julho de 2011. “Estou antecipando com medo de perder oportunidade. Acho que a procura pela participação deles é grande. A primeira vez que assisti uma festa com os militares foi há dois anos, fiquei impressionada com que vi”, lembra Lurdes. O grupo não cobra pela participação. As solicitações feitas são que os organizadores da festa garantam o transporte e disponibilize local seguro. “Não discriminamos nenhum local, apenas solicitamos que tenha condições de receber com tranquilidade o pessoal. Logo no início das atividades, aceitamos um local da cidade, mas que não oferecia a segurança adequada. Para evitar problemas observamos bastante este item”, pondera Paulo Cruz. Na lista de locais por onde passaram destacam-se salões de festas, clubes, centros comunitários e até chácara. Por sinal, este acabou se transformando numa aventura para o grupo. “O transporte que mandaram foi um caminhão frigorífico, tivemos que ir todos na parte de trás. Ao chegar no local, o pessoal estava de traje de fazenda. Foi um dos locais mais estranhos onde nos apresentamos”, lembra o soldado Thiago. Mas quem acha que os militares somente participam do ritual comum aos bailes de debutantes está enganado. Depois da cerimônia formal, eles tiram o uniforme e usam a roupa civil e permanecem na festa. “Eles animam totalmente, chamam o pessoal para dançar”, lembra Iracilda. “Costumamos até improvisar coreografias. Convidamos quem está parado a entrar na festa”, finaliza o soldado Fernando Conceição dos Santos.