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Mensageiros da guerra Mensageiros da guerra 12 MAR 2010 • POR • 07h37

A imagem dos sete fuzis apreendidos pela Polícia Rodoviária Federal na quartafeira próximo a Miranda chega a ser assustadora, pois são armas de guerra das mais modernas e com poder de destruição capaz de intimidar qualquer força de segurança oficial. O arsenal vinha da Bolívia e tinha o Rio de Janeiro como destino, de acordo com a “confissão” dos dois presos, que se dizem pastores de igreja evangélica. Três dias antes, na região de Naviraí, no sul do Estado, a mesma corporação policial havia descoberto outras duas armas de grosso calibre e que também seriam levadas ao Rio de Janeiro. O assustador nestas apreensões é saber que elas foram, segundo a própria polícia, resultado de vistorias aleatórias e de rotina numa operação denominada formiguinha, em alusão aos pequenos traficantes que levam drogas e armas para as grandes cidades brasileiras. E, se em apenas uma semana ocorreram duas descobertas desta magnitude é de se imaginar a quantidade de armas de guerra que já saíram do Paraguai e da Bolívia para abastecer bandidos em todas as regiões do País ou até mesmo em outras partes do mundo, pois possivelmente os dois “pastores” não indicariam o destino correto do armamento que estavam transportando no Vectra com placas de Três Lagoas. E, se estavam usando carro de luxo com placas do Estado é sinal de que fazem parte de uma grande e bem organizada quadrilha preocupada com todos os detalhes para despistar as forças policiais. E, embora estas armas sejam levadas para outras regiões, mais cedo ou mais tarde as consequências serão sentidas aqui. O narcotráfico é prova disto. Chacinas e assassinatos quase diários nas cidades fronteiriças, presídios superlotados com traficantes de outros estados e integrantes de facções criminosas praticando assaltos em Campo Grande são algumas destas consequências, embora o Estado seja “somente” rota de passagem dos entorpecentes. A prisão do carioca Antônio Jorge Gonçalves dos Santos, conhecido como “Senhor das Armas”, em julho do ano passado, no Shopping Campo Grande, é outro indicativo de que a população local tem motivos suficientes para ficar assustada com o tráfico de armas, um problema que até hoje é considerado secundário na realidade local. Se bandidos de outros estados têm em mãos fuzis produzidos nos Estados Unidos e se alguns deles já estavam praticamente radicados em Campo Grande, é bem provável que parte deste armamento esteja nas mãos de bandidos daqui. Além disso, a apreensão desta quarta-feira demonstra que a prisão do “Senhor das Armas” não pôs fim à “importação” de armas que geralmente são desviadas das forças armadas da Bolívia. Quem trafega pelas estradas daqui ou de qualquer outro Estado sabe que blitz ou revista de veículos é fato raríssimo. É compreensível que não se pode fazer pentefino diariamente. Porém, o que se verifica atualmente é a liberdade total para que a bandidagem atue, inclusive nas regiões de fronteira. Há muito fala-se em reforçar a segurança na região de fronteira. Até poder de polícia foi dado às Forças Armadas. Porém, enquanto as forças oficiais permanecerem nos quartéis ou em salas com ar-condicionado, os criminosos continuarão com o caminho aberto.