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HOMENAGEM Portugueses ajudam a construir Campo Grande há mais de 100 anos Câmara Municipal fará sessão solene em memória de 29 filhos do além-mar 2 JUN 2015 • POR NILCE LEMOS • 00h00

Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário. 
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas. 
Se achar que precisa voltar, volte! 
Se perceber que precisa seguir, siga! 
Se estiver tudo errado, comece novamente. 
Se estiver tudo certo, continue. 
Se sentir saudades, mate-a. 
Se perder um amor, não se perca! 
Se o achar, segure-o!

         (Fernando Pessoa)


Se estiver tudo certo, continue”. O verso do poeta Fernando Pessoa (1888-1935) traduz o que os seus conterrâneos sentiram quando chegaram em 1911 à Vila de Santo Antônio - que viria a ser Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul - em busca da concretização de sonhos, embalados pela esperança de trabalho no então presente, com os olhos voltados para o futuro na nova terra, sem esquecer do passado de além-mar. Eduardo dos Santos Pereira, foi o primeiro. Nomeado em Cuiabá, então capital do Mato Grosso, como Tabelião e Oficial do 2º Ofício de Notas e 1ª Circunscrição do Registro Civil das Pessoas Naturais, aqui se instalou definitivamente (ele chegou ao Brasil aos 14 anos). Nos anos que se seguiram, outras famílias vieram e contribuíram para o desenvolvimento de Campo Grande, como os Tomé, Curado, Estevão, Damião. Mais de 100 anos depois, a Câmara Municipal homenageará 29 pessoas – in memoriam- que ajudaram na construção da cidade, em evento no próximo dia 03 de junho. Esses pioneiros, para manter as tradições, também criaram o Centro Luso Português

Durante entrevista ao Portal Correio do Estado, o presidente da Associação Luso-Brasileira, cônsul honorário Fernando Santos Gonçalves - que estava acompanhado por Maria Licina Tomé Veríssimo Gonçalves e Maria de Fátima Corado Gabriel, ambas integrantes da entidade -, disse que a família Tomé, por exemplo, ‘‘construiu cerca de 80% da cidade”. Ele citou construções como os quartéis no Bairro Amambaí, vila dos oficiais na Rua Barão do Rio Branco, Avenida Duque de Caxias, Praça e o colégio Newton Cavalcante, reforma e ampliação do Quartel General da 9ª região Militar, Cassino dos oficiais, Hospital São Julião, o hospital da Santa Casa na Avenida Mato Grosso, agência dos Correios da Calógeras, o Cine Santa Helena (no local hoje é um empreendimento comercial), Edifício São Tomé, antigo relógio, Hotel Colombo, o Obelisco, além do loteamento como Vila Independência.

Assim como os Tomé, várias famílias chegaram em 1912. Na época, segundo o cônsul,  o que atraía os portugueses era a oportunidade de trabalhar na construção da estrada de ferro, em busca de novas perspectivas para suas vidas. Fernando disse que  apenas os homens viajavam para o Brasil e, só depois de se estabilizarem, eles buscavam esposas e filhos. 

Com o passar dos anos, várias famílias já estavam em Campo Grande e para manter a cultura portuguesa viva na nova terra que escolheram, criaram em 1929  o Centro Beneficente Português, que reunia cerca de 15 famílias, um total de 100 pessoas. No encontro havia demonstrações de dança, grupos de folclore, gastronomia, entre outras atividades. A ideia era unir os portugueses que estavam aqui, onde um auxiliava o outro.

Hoje, o então Centro se tornou a Associação Luso-brasileira, localizada no Clube Estoril, que reúne cerca de 2.500 associados, entre portugueses, descendentes e não-portugueses. 

A tradição se mantém viva e não se perdeu o costume de festejar a cultura de origem. Para isso, há a promoção de duas grandes festas principais.

Em 12 de abril o clube realiza, por exemplo,  o arroz de braga. Aberto ao público, todos podem provar esta delícia da culinária portuguesa. Outro grande evento que reúne mais de mil pessoas todo ano, é a sardinhada, que acontece em outubro. Nesse evento, a associação recebe 600 kg de sardinha que servem todos os convidados da festa, além de petiscos como linguiças portuguesas e outras delícias.

Fernando Santos Gonçalves com  Maria Licina Tomé Veríssimo Gonçalves e Maria de Fátima Corado Gabriel

 O CLUBE 

 

O Clube Estoril – Centro Beneficente Português, foi fundado em 14 de Julho de 1929, pelos primeiros integrantes da Colônia Portuguesa que chegaram ao sul do Estado de Mato Grosso, ainda não dividido, atraídos pela construção da Estrada de Ferro. A princípio era chamado de Centro Beneficente Português, mas com o passar dos anos, foi intitulado Associação Luso-Brasileira e mais tarde, se integrou ao Clube Estoril. O objetivo da associação era manter viva as tradições culturais de Portugal, promovendo eventos, encontros culturais, esportivos e sociais. 

O nome do clube é uma homenagem a cidade portuguesa de Estoril, uma cidade nobre com casinos famosos, referência em Portugal.

No local, os associados têm serviços como pilates, natação, musculação, sauna, tênis, hidroginástica, quiosques para reunir a família e aproveitar o dia. Para ser um associado, entre em contato pelo telefone (67) 3312-0400.

 PADROEIRA 

A padroeira de Portugal é Nossa Senhora de Fátima. Em Campo Grande, nos dias 13 de maio e 13 de outubro de cada ano, celebram-se com grande festa em honra a Nossa Senhora de Fátima, missas, que representam sempre a primeira e última aparição de Nossa Senhora de Fátima, respectivamente. Essas celebrações são acompanhadas todos os anos por muitos portugueses, descendentes de portugueses e sócios do Clube Estoril, que prestam sua devoção a Nossa Senhora através da padroeira de Portugal, sempre mostrando muito amor, alegria e fé em todas as celebrações.

 HOMENAGEM

Na quarta-feira (03), a Câmara Municipal comemora as 19h, o Dia da Comunidade Portuguesa, homenageando 29 pessoas, in memoriam, que contribuíram para Campo Grande.
São eles:
Antonio Maria Seco Tomé
Antonio Pereira Veríssimo
Joaquim Gonçalves Corado
Joaquim Pereira Gabriel
Antonio Ferreira Damião
Manuel Dias Leal
José Joaquim
Luiz Lousinha
Ernesto Rodrigues
Jorge Évora Arcenço
Antonio Gomes Pedrosa
Arlindo Gomes Pedrosa
José de Oliveira
Manuel Secco Tomé
João Batista Fernandes
Agostinho Cação
José Francisco de Paula Brito
José Carlos da Paz
José Maria Alves da Rocha
Antonio Vendas
Manuel Estevão Junior
Antonio Gaspar
Eduardo Santos Pereira
Joaquim Secco Tomé
Antonio Rodrigues
Conceição Ferreira
Francisco Gonçalves da Cruz
João Figueiredo
Manuel Augusto Dias