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investimento Ascensão de firmas de recuperação de crédito evidencia tamanho da crise no Brasil Ascensão de firmas de recuperação de crédito evidencia tamanho da crise no Brasil 21 JUN 2015 • POR msn • 07h00

Os investidores sabem que os tempos são difíceis no Brasil quando as empresas de cobrança de dívidas estão entre os melhores investimentos.

É o caso da Gávea Investimentos Ltda., a firma de private-equity controlada pelo JPMorgan Chase Co., que acaba de fazer seu primeiro investimento de 2015 após levantar US$ 1 bilhão no ano passado. A firma com sede no Rio de Janeiro pagou mais de R$ 100 milhões (US$ 32 milhões) por uma participação minoritária na Paschoalotto Serviços Financeiros, maior empresa de cobrança de dívidas do Brasil, que conta com companhias como Banco do Brasil SA e Volkswagen AG como clientes, segundo uma fonte informada sobre o assunto.

Não é difícil ver por que poderia ser um bom momento para investir no ramo de cobrança de dívidas. Os economistas dizem que a maior economia da América Latina está a caminho de sua recessão mais profunda em 25 anos e que as famílias estão mais endividadas do que nunca. A Península Investimentos SA, gestora de recursos brasileira financiada pelo Credit Suisse Group AG, disse em março que estava levantando R$ 500 milhões para investir em ativos corporativos inadimplentes.

“Esse segmento do mercado irá ganhar muito mais força agora”, disse Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da TOV Corretora, em entrevista por telefone, de São Paulo. “Você vai começar a ter um aumento mais contundente do desemprego e, portanto, você vai começar a assistir a um aumento da inadimplência da pessoa física”.

Um alto funcionário da Gávea preferiu não comentar sobre a aquisição.

Empréstimos inadimplentes

Silveira projeta uma contração econômica de pelo menos 2 por cento para este ano. As famílias, já atingidas por uma inflação que corrói a renda real, estão começando a sentir o impacto da desaceleração econômica, disse ele.

A inflação, o desemprego e as taxas de juros maiores estão aumentando a dívida do consumidor e os custos dos empréstimos. Em abril, as dívidas das famílias subiram para um nível recorde dos últimos 10 anos, de 44,3 por cento dos ganhos anuais, segundo dados do Banco Central.

Os empréstimos de liquidação duvidosa, ou dívidas com atraso superior a 90 dias, subiram 0,1 ponto percentual em abril em relação ao ano anterior, para 3 por cento dos empréstimos, segundo o BC.

O sistema financeiro está crescendo na maior economia da América Latina, criando oportunidades de longo prazo que continuarão depois que o país deixar sua crise atual para trás, disse o vice-presidente da Paschoalotto, Eric Garmes, por telefone, de Bauru, no estado de São Paulo.

Ele disse que mesmo com a maior participação de mercado no Brasil, a Paschoalotto ainda possui apenas 7 por cento de participação de mercado. Mas a empresa visa a aumentar essa fatia para cerca de 20 por cento nos próximos cinco anos.

“O mercado de recuperação de crédito do Brasil ainda está muito fragmentado”, disse Garmes. “Ele tem uma oportunidade de crescimento tanto com o crédito quanto com o aumento da inadimplência”.