A rendição Japão na II Guerra Mundial deixou marcas profundas na comunidade espalhada mundo afora. No Brasil, muitos não acreditavam na capitulação; o imperador Hirohito era uma divindade e não poderia ser derrotada. Essa crença acabou se tornando fanatismo para alguns, que tiveram no grupo Shindo Renmei seu maior representante.
A organização secreta teria sido fundada em Marília, em 1942 para manter as tradições e culturas japonesas no Brasil. Após a derrota, a divisão foi inevitável; o presidente da Associação Okinawa, Jorge Tamashiro, explica que haviam os katsigumi (patriotas ou vitoristas), enquanto que os que aceitavam , eram os makegumi (derrotistas ou esclarecidos).
Em Campo Grande, a facção teve seus representantes, mas é assunto espinhoso. “Essa é uma lacuna, uma cicatriz que as pessoas querem que fique esquecida”, explica o engenheiro e pesquisador Celso Higa. Ele conta que o avô, Zenko Kiyan, era questionado por outros japoneses por ter aceitado a derrota na guerra. Higa explica que, embora não tenha ocorrido casos de mortes e extrema violência, como no interior de São Paulo, alguns japoneses residentes em Campo Grande participavam do Shindo Renmei contribuindo financeiramente.
Jorge Tamashiro contou que, mesmo antes do fim da II Guerra, o clima era de animosidade e muitos japoneses sofreram, já que o Japão lutou contra os aliados do Brasil. Em agosto de 1945, a casa e o comércio do casal Koki e Kamé Oshiro foram queimados. Do lado de fora, ouvia-se barulhos e gritos de “Quinta Coluna!”. Kamé foi salva pela vizinha e Koki sofreu grave lesões ficando quase cego depois do atentado.