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Percepção Percepção 18 MAR 2010 • POR RAPHAEL CURVO, JORNALISTA E ADVOGADO • 07h59

A fala do presidente ao dizer que o governador governador paulista está inaugurando obras em maquete me levou a pensar nas obras do governo federal nestes oito anos. Penso e com sinceridade, não encontrei nenhuma obra que pudesse ser exaltada como magnífica. A maioria das universidades federais, por exemplo, inauguradas pelo presidente, estão inacabadas. Qual seria essa obra física concretizada, ou melhor, terminada que leva o presidente a emitir críticas contundentes ao opositor à sua “enteada política” nas próximas eleições? Um inaugura obra ainda em maquete e o outro, coisas inacabadas ou mal-acabadas. Como foi o caso dos apartamentos do programa “Minha casa, minha vida” nos subúrbios do Rio de Janeiro. Estas moradias, com as chuvas, obrigaram os moradores a usar guarda-chuvas dentro de casa. Isto sem falar nas rachaduras desses imóveis que tiveram a sua inauguração pelo presidente e “enteada” há pouco mais de 60 dias. Disse um pedreiro: “a pressa era tanta para inaugurar que deu nisso”. Esses infelizes proprietários vão ter ainda grandes despesas para manter o seu lar “em pé” e, com certeza, convivência diária com as goteiras, rachaduras e o medo delas. A lgu n s fa n át icos apoi adores do presidente dirão que está aí o pré sal, redenção do Brasil. Acontece que o pré sal é algo que a Petrobras já tinha em sua carteira de estudos de viabilidade desde os anos 70, quando foi descoberto o tal filão de petróleo. Todos sabem que os efeitos dessa exploração só virão pra lá de 2020. Outros dirão que o PAC 1 está aí para provar que o presidente faz. Pelos informes, foi atingida até agora apenas 38% da meta de obras estabelecidas e a grande maioria nem projeto tem. É preciso dizer que destas, uma grande parte da composição vem das obras que foram absorvidas pelo PAC 1, ou seja, já existiam, reduzindo a pouco mais de 21% aquelas realmente do projeto original do programa. E não é que dia 28 deste o presidente vai lançar mais um PAC? É bem verdade que o Brasil atravessa uma fase de grande expectativa positiva. Esta expectativa tem muito da propaganda governamental e de certos fatos que estão fora do alcance de algo consistente, sólido e de efeitos progressivos. Nosso PIB negativo, queda de 5% na indústria e 10% nos investimentos, e diz que é “marolinha”. O País avança celeremente para a desindustrialização, ou seja, estamos em declínio forte no processo industrial. A participação da indústria já está em meros 28% do PIB- Produto Interno Bruto. Estamos nos tornando um País de produção de commodities. O Brasil exporta matériaprima, sem valor agregado, e importa o produto acabado. Este tipo de economia não é geradora de empregos muito menos de qualidade. Não permite avanço de tecnologia de ponta e pesquisa. Impede o desenvolvimento de formação de mão de obra de alto grau de conhecimento e transforma o mercado de trabalho em gerador de empregos com exigência de baixa qualidade intelectual e péssimos salários. Estamos nos transformando em montadores de produtos industrializados lá fora. A tecnologia fica por lá. Presidente, o Sr. pisou no tomate na primeira fala sobre o preso político que morreu em Cuba. Ao comparar preso político com preso comum o Sr. pisou literalmente na merda. A sua fala Sr. Presidente, é de um asco sem precedente na história deste País e de uma “penosa fragilidade intelectual e com graves lacunas culturais”. O Sr. deu seu perdão a todos os crimes políticos cometidos no período militar, a todos as barbáries cometidas nos porões da ditadura ao justificar as ações do carrasco Fidel Castro. É duro imaginar que tudo aquilo que o Sr. representou nos anos militares era modo próprio, falso nas suas falas ao defender a liberdade, ardiloso nos seus objetivos, como grande parte da esquerda entreguista como sua “enteada”, que sonhava transformar Brasília, à época, na Moscou dos trópicos. O presidente disse que se todos os governantes do mundo fossem iguais a ele, tudo seria diferente. Demonstra estar em conflito político e de postura a olhos vistos. Está com comportamento agressivo e parece não aceitar largar o osso da presidência. As falas estão conflitantes com a realidade. Pense leitor. Temos que ter dos fatos, percepção.