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OPINIÃO Renato Veras e Martha Oliveira: "Um modelo eficiente no cuidado à saúde do idoso" Médico / Médica 10 SET 2015 • POR • 00h00

Recentemente, uma nova e importante série de artigos sobre saúde e envelhecimento foi publicada na revista científica britânica The Lancet, focada em uma advertência sobre a ineficiência dos atuais modelos de cuidado aos idosos. Nela, o autor John Beard argumenta sobre a necessidade de “reformas profundas e fundamentais dos sistemas de saúde e de assistência social” e estabelece como prioridade global “envelhecer bem”. 

Nas últimas décadas, as doen­ças crônicas não transmissíveis tornaram-se as principais causas de óbito e incapacidade prematura. Assim, o cuidado em saúde tende a emergir como um dos maiores desafios fiscais do Brasil nas próximas décadas. Em 2020, o número de pessoas com 60 anos ou mais superará o de crianças menores de cinco. Em 2050, o número de idosos deverá chegar a dois bilhões, bem acima dos atuais 841 milhões, e 80% deles viverão em países de baixa ou média renda.

O aumento da longevidade tem ocorrido principalmente em razão do declínio nas mortes por doenças cardiovasculares. Mas, embora estejam vivendo mais, as pessoas não são necessariamente mais saudáveis. Quase um quarto do total de mortes e doenças é observado em pessoas com idade acima de 60 – em geral, doenças de longo prazo, como câncer, problemas respiratórios e cardíacos, artrite e osteoporose. Esta carga de doenças afeta pacientes, suas famílias, os sistemas de saúde e as economias nacionais.

São necessárias estratégias de prevenção e gestão dessas condições crônicas, ampliando os cuidados de saúde e tornando-os acessíveis aos adultos mais velhos. Deve-se priorizar a prevenção e a detecção precoce de enfermidades de alta prevalência e é importante fazer melhor uso da tecnologia e capacitar as equipes de saúde para gerir múltiplas condições crônicas. Neste novo modelo, o sistema de saúde é que deve monitorar o cliente, estabelecer as rotinas a serem realizadas e as frequên­cias da visita ao médico. Isto implica intensificar o cuidado em locais mais adequados, não necessariamente no hospital.

Os custos da saúde não param de crescer, mas as fontes de financiamento são finitas. Assim, quando pensamos em prevenção para uma sociedade que envelhece rapidamente, não apenas falamos em mais anos de vida saudável à população. Defendemos ações eficientes que garantam ao setor de saúde, particularmente ao SUS, condições de ofertar atendimento de qualidade a todos. 

As transferências públicas, no Brasil, têm sido muito eficazes em reduzir a pobreza e a desigualdade, em particular para a maior parte da população mais velha. Queremos a manutenção e a ampliação da prosperidade e sabemos que o envelhecimento populacional continuará a pressionar os sistemas sociais. A escolha de modelos de saúde com foco na prevenção e no monitoramento é fundamental para os grupos vulneráveis e para o crescimento do País.