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CORREIO DO ESTADO Editorial desta quinta-feira: "Doação e estrutura" Editorial desta quinta-feira: "Doação e estrutura" 1 OUT 2015 • POR • 00h00

A falta de estrutura em Mato Grosso do Sul pode ser fator de prejuízo ao atendimento a estes pacientes que precisam de transplante.

Conscientizar a população para a importância da doação de órgãos é trabalho constante e de suma importância. O ato salva vidas e dá esperança a pacientes que estão, há anos, agonizando na fila de espera dos hospitais do País. Em Mato Grosso do Sul, uma campanha foi lançada ontem, com este objetivo, porém, não há estrutura no Estado para que se faça o transplante da maioria dos órgãos. Até agora, segundo informações da secretaria estadual, este ano, apenas dois transplantes de rim foram realizados. Isso porque não há estrutura suficiente para que procedimentos semelhantes sejam feitos.

A campanha “Sou doador e minha Família já sabe” tem como objetivo fazer com que os doadores informem seus parentes da vontade de doar órgãos. Em caso de morte e consentimento dos familiares, a Central de Transplantes da secretaria é acionada e analisa quais pacientes podem ser compatíveis. O setor está conectado a sistema nacional, o que possibilita mandar o órgão para outros estados. Aliás, é somente assim que muitos pacientes podem ser beneficiados com as doações em Mato Grosso do Sul. Isso porque a estrutura existente não possibilita que sejam feitos transplantes de coração, córnea ou músculo esquelético. O transplante de rim já havia sido suspenso em 2013, depois que sete dos 45 pacientes transplantados morreram. Em 2014, sete meses depois da paralisação dos trabalhos, a Santa Casa foi autorizada a retomar as cirurgias, porém, a equipe precisava passar por treinamento em Brasília e  São Paulo. Nesse período, apenas dois procedimentos foram feitos, sob alegação de que o setor estava em reforma.

Não há números regionais sobre a fila de espera por órgão. O que se tem é o total nacional, com 40 mil pessoas aguardando por um transplante.  Desde 1999, segundo a secretaria de Saúde, foram 14 corações, 2,1 mil córneas, 603 rins e 63 músculos esqueléticos transplantados, a maioria, enviado para hospitais de outras regiões do País.

A falta de estrutura em Mato Grosso do Sul pode ser fator de prejuízo ao atendimento a estes pacientes que precisam de transplante. Por não ter como fazer o procedimento de vários órgãos, a lista é ampliada para outros Estados. O argumento é válido, pois a distância entre  a doação e o transplante pode ser a diferença do sucesso ou fracasso da cirurgia. 

O tempo que se leva entre captação e o aproveitamento estende-se e isso pode acarretar dano no órgão: um coração ou um pulmão duram de 4 a 6 horas; fígado, entre 12 e 24 horas e o rim, até 48 horas. Por isso, é preciso investir sempre mais na capacitação das equipes e na estrutura regionais, para que se busque a excelência do atendimento à saúde. A melhora no atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) pode auxiliar em dois fatores: na predisposição geral para a doação de órgãos e melhoria na fila dos transplantes. É uma luta contra o tempo, necessária e que precisa ser discutida. Uma parcela significativa dos pacientes candidatos a transplantes acaba morrendo na fila, pois a rede de captação ainda não conseguiu ter eficácia e alcance suficiente. É também imporante que as pessoas entendam a importância da doação. Cada pessoa pode salvar até 10 vidas com o gesto humanitário. Porém, é preciso mais que boa vontade para que isso seja possível.