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Opinião Antonio João Hugo Rodrigues: "O tempo é o senhor da razão" Antonio João é sócio-proprietário do Correio do Estado e ex-senador da república 25 NOV 2015 • POR • 08h19

Bom-dia. Manhã linda. Sol maravilhoso. Vinte e cinco de novembro de 2015. Aí pela meia-noite, os jornalistas do Correio do Estado já estavam buscando informações sobre a prisão de um “graudão”. Às 5 da manhã, nosso horário, mas 6 horas em Brasília, a Polícia Federal, devidamente autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, o STF, engaiolava o senador Delcídio do Amaral Gomez, o “Lindão do Pantanal”. Aquele pulha que, na campanha passada, dizia que eu era “pinguim” e especializava-se em processar a mim e ao Correio do Estado dia e noite, noite e dia.

O tempo é o senhor da razão. Eu estou aqui, escrevendo, livre, leve e solto; e, ele, na cadeia. O Lindão, ex-senador, agora é tão somente mais um presidiário. Fico feliz por mim? Não! Fico feliz pelo Brasil, que não merece um político deste tipo. Politicamente, o senador Lindão do Pantanal já estava semimorto, tipo um zumbi. Agora, politicamente, está morto e sepultado. Não lhe bastavam 7 palmos. Enfiaram-lhe a 14 palmos.

Tenho pena da família dele. E dos corumbaenses, que amanheceram chocados ao descobrirem que o Lindão que eles conheciam é, na verdade, um ser absolutamente maléfico. Não aquela figura especial. O ex-senador é corumbaense. Imaginem o choque da população da Cidade Branca...

Conheci Delcídio quando foi enviado para Campo Grande, na época da privatização da antiga Enersul. Ainda bem mais moço e com um sonho: governar Mato Grosso do Sul. Minha surpresa: ele, que havia sido ministro de Minas e Energia, era corumbaense, e ninguém, nem eu, sabia disso. O problema é que o senador de todos tinha vergonha de dizer que era corumbaense. Por isso, o desconhecimento.

Moço alegre, envolvente e boa conversa. Não deu para ser candidato ao governo e Delcídio voltou para Floripa, até se tornar diretor da Petrobras, por indicação do deputado Flávio Derzi. Saiu da estatal diretamente como candidato ao Senado, pelo Partido dos Trabalhadores, junto a Zeca do PT para governador. O Lindão elegeu-se e teve a mim como seu primeiro suplente.

Disputou o Governo do Estado contra Puccinelli e levou o maior sarrafo. Recolheu-se. Nunca imaginei de onde saía o dinheiro para a campanha dele. Agora, eu sei e todos sabemos. Da Petrobras, de Eike Batista e de inúmeros empreiteiros que o ajudaram depois de receber sua ajuda “valiosa” na diretoria da Petro. Camargo Corrêa, Engevix, UTC, Odebrecht e várias outras. Não estava mais na Petrobras, mas já estava na quadrilha do petrolão. E apresentava-se como vestal e santo do pau oco.

Na sua segunda eleição, ele, quando se julgava o “Senhor dos Anéis”, primeiro, tentou vender a primeira suplência para uma senhora douradense, esposa de um conhecido contrabandista. Dizem que por cinco milhões de reais em dinheiro vivo. Depois, para o missionário RR Soares. O suplente seria o filho do pastor. Também não deu certo. Finalmente, acertou-se com o magnífico Pedro Chaves dos Santos. Venceu o pleito, não com a votação esperada. Já se começava a conhecer a verdadeira face do senador.

Tentou, de novo, chegar ao governo de Mato Grosso do Sul e, vergonhosamente, perdeu para o atual governador, Reinaldo Azambuja. O mito de pés de barro começava a desfazer-se, de forma cada vez mais acelerada. A prisão dele ontem, na verdade, não chegou a ser uma surpresa tão grande, muito embora nunca tenha sido preso, antes, um senador brasileiro.

Mas ninguém deve preocupar-se tanto. O Lindão do Pantanal é um homem de muitos milhões de dólares. No exterior. Cerveró e os diretores de empreiteiras que o digam. No Brasil, dá pinta de que pouco tem. 

Ontem cedo, quando se confirmou a prisão de Delcídio do Amaral, fui lá na Pão e Tal. Conversei com a amiga Marcinha e encomendei, ainda para hoje, a melhor cesta de Natal que ela tinha. A mais completa. A mais bonita. A mais sortida. Hoje à tarde, vou encaminhar para ele, na prisão da Polícia Federal, em Curitiba. Feliz Natal, Lindão...