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CORREIO B Dietas e alimentos milagrosos não resolvem problema; é preciso aprender a comer bem Dietas e alimentos milagrosos não resolvem problema; é preciso aprender a comer bem 4 MAR 2016 • POR EDUARDO FREGATTO • 15h58

Sai estação, entra estação, novas dietas e promessas de emagrecimento surgem em revistas, sites e rodas de amigos. Mesmo sem respaldo de nutricionistas, as dietas da moda tornam-se populares, tão populares, que ganham adeptos.

Há alguns verões, a tendência era a contagem de calorias. A dieta dos pontos era a mais procurada nos sites de busca, e livros sobre o tema vendiam como água. Hoje, nutricionistas já alertam que o método tem eficácia duvidosa.

Agora, a nova promessa de emagrecimento e saúde é diminuir – ou retirar totalmente – os carboidratos do cardápio. O Correio B conversou com uma nutricionista para saber se esta alimentação é realmente positiva, ou se é mais uma armadilha para o organismo.

ESQUEÇA OS PONTOS

Você se lembra da dieta dos pontos? Por muito tempo, este tipo de alimentação, baseada no número de calorias de cada alimento, fez sucesso como uma promessa de emagrecimento. Até hoje, muita gente não ingere nenhum produto sem antes se certificar de quantas calorias está consumindo. Para cada altura e peso, há um limite calórico que deve ser consumido diariamente.

Felizmente, essa tendência está cada vez mais esquecida pela população. A nutricionista Mariana Corradi explica que contar calorias não é sinônimo de perda de peso e, muito menos, de saúde. 

“A contagem de calorias já foi muito forte, mas hoje é algo que nós nem sequer ensinamos no consultório. Se o paciente pergunta quantas calorias terá em seu cardápio, a gente não responde, porque ele não precisa aprender isso”, afirma a especialista. “O que importa é a fonte dessas calorias, e não o número.” 

Para entender melhor, Mariana cita o exemplo dos carboidratos. O arroz integral geralmente apresenta mais calorias que o arroz branco. Porém, quem consome a versão integral terá maior sensação de saciedade e passará mais tempo sem sentir fome. Já quem ingerir o arroz branco sentirá necessidade de comer novamente em menos tempo. Além disso, o alto índice glicêmico do arroz branco gera maior absorção do açúcar no sangue. Resultado: mesmo com maior quantidade de calorias, o arroz integral representa a melhor opção para quem quer cuidar do peso e, mais importante, da saúde. 

Nesse caso, e em muitos outros, ingerir mais calorias é muito mais benéfico para o corpo. É por isso que, hoje em dia, contagem de calorias é um conceito ultrapassado.

O NOVO VILÃO

Nas dietas mais populares, atualmente, o carboidrato se tornou o grande vilão do peso ideal. Se, antes, esse papel era atribuído às gorduras, quem leva a culpa agora são pães, massas, cereais e até legumes e vegetais.

As dietas milagrosas pregam a baixa ingestão de carboidratos, com exceção de alguns alimentos, como a batata-doce, que teria efeitos menos prejudiciais.

Para a nutricionista Mariana Corradi, qualquer alimentação baseada na restrição é perigosa. “Nós preferimos que o paciente tenha uma base alimentar com todos os grupos de alimentos e não exclua nenhum, porque todos são importantes”, afirma.

De acordo com a profissional, quando o corpo não encontra energia para retirar dos carboidratos e das gorduras, pode começar a retirar a gordura presente nos músculos dos órgãos. Os efeitos podem ser graves. “Toda restrição gera perda de peso, mas a pessoa também terá deficiência de energia.”

O que é possível fazer, segundo a nutricionista, é trocar os carboidratos de alto índice glicêmico, popularmente chamados de carboidratos ruins, pelos alimentos de baixo índice glicêmico, conhecido como os carboidratos bons (ver dicas no infográfico ao lado).

Os carboidratos bons causam sensação de saciedade, porque levam mais tempo para serem absorvidos pela corrente sanguínea. 

Outra dica é dar preferência à proteína de baixa gordura. Muitas dietas incentivam trocar o carboidrato pelo consumo, por exemplo, de bacon e outras carnes gordurosas. Para Mariana, a dica não é saudável. O ideal é manter os carboidratos bons no cardápio e sempre dar preferência a carnes menos gordurosas.

Falando em gordura, ela também é essencial para o equilíbrio do corpo. Gorduras boas podem ser encontradas no atum, salmão, azeite, ovo e até chocolate. O consumo deve ser moderado.

REEDUCAÇÃO

Atualmente, não se fala mais em dieta, em consultórios de nutricionistas. “Nós ensinamos a reeducação alimentar”, aponta Mariana.

Isto porque, não adianta passar uma dieta cheia de restrições para o paciente. As chances de ele abandonar o tratamento é grande. O ideal é passar uma cardápio que se adapte aos hábitos e condições financeiras da pessoa. “Se a pessoa comeu arroz e feijão todo dia, não adianta tirar, porque a tendência é ela voltar a comer”, pontua.

Por mais que revistas e amigos bem-intencionados insistam em passar dicas milagrosas, a verdade é que o tempo das dietas já ficou para trás. Quem busca perder peso e, principalmente, ter saúde, deve se alimentar bem. “O mais importante é a qualidade e frequência da alimentação. Mais do que nunca, aprender a comer é mais necessário do que fazer dieta”, finaliza a especialista.