A hipertensão é um problema bastante conhecido entre os adultos. Entre a população mundial adulta, estima-se que um a cada três indivíduos tenha o problema – que corresponde a ter pressão arterial igual ou maior que 14 por 9. Contudo, essa condição também pode atingir crianças e, por ser assintomática, pode causar danos de maneira silenciosa. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) indica que 6% das crianças no País podem ter o problema.
Com o aumento do sedentarismo na infância e do consumo de sal, a hipertensão infantil vem se tornando um problema sério e que deve ser olhado com cuidado. De acordo com o cardiologista Delcio Gonçalves Junior, presidente da Sociedade Sul-Mato-Grossense de Cardiologia, os mesmos fatores que favorecem o aumento de hipertensos são os mesmos para adultos e crianças. “O estilo de vida, a alimentação e a obesidade. As crianças fazem pouca ou nenhuma atividade física, consomem muito sal e frituras, além de alimentos industrializados”, comenta.
Preconiza-se que crianças a partir dos três anos tenham a pressão aferida pelo pediatra. A SBC vem realizando ações no sentido de fazer com que os profissionais da saúde olhem com mais cuidado para a questão. Como a pressão saudável das crianças é variável, de acordo com a idade, o peso e a altura, é preciso atenção ao diagnóstico. Também é preciso um aparelho medidor adequado. “Via de regra, o pediatra tem o equipamento e a tabela que mostra a pressão correta para cada idade. Isso é mais difícil de acontecer em postos de saúde, com clínicos gerais”, explica Delcio.
Segundo o especialista, é incomum que crianças apresentem problemas decorrentes da hipertensão ainda na infância. Por se tratar de um problema assintomático, a atenção deve ser redobrada. Os efeitos do aumento da pressão sanguínea aparecem a longo prazo, trazendo danos aos órgãos. Os que mais são atingidos são o cérebro, o coração e os rins.
Se o paciente convive com a hipertensão arterial desde a infância, a chance de aparecimento precoce de doenças como insuficiência renal, hipertrofia e insuficiência cardíaca, demência senil ou acidentes vasculares cerebrais é maior. “Quanto mais tempo exposto, maior é o dano aos órgãos vitais. Eles vão entrar em falência mais cedo. O que temos visto é um crescimento de adultos jovens com esses problemas”, ressalta Delcio.
Se a descoberta do problema ocorrer ainda na infância, uma simples mudança no estilo de vida pode trazer efeitos benéficos. “Quando a hipertensão surge em decorrência da má alimentação ou da falta de atividades físicas, é preciso mudar isso. Tudo deve ser acompanhado pelo profissional. Nesses casos, medicamentos não são necessários”, comenta o especialista. Contudo, isso é diferente em casos ligados a problemas hormonais, renais ou alterações genéticas, conhecidos como “hipertensão secundária”. Segundo Delcio, nesses casos, a intervenção medicamentosa é importante.
Como em todos os quadros relacionados à saúde, a prevenção é a melhor escolha sempre. Por isso, é fundamental a atenção dos pais durante as consultas dos filhos. Pedir que o especialista afira a pressão da criança pode fazer toda a diferença.