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Política A arte a serviço da fé A arte a serviço da fé 26 MAR 2010 • POR • 05h29

Preparem-se: nos próximos meses, uma série de atrações com temática espírita invadirá telas de cinema e programas de televisão. Com isso, a doutrina lançada pelo francês Allan Kardec, no fim do século 19, ganhará maior visibilidade. A prática de unir religiosidade e manifestações artísticas não é exclusiva dos espíritas. Ao contrário. Católicos e evangélicos, há mais tempo, unem fé e arte, buscando arrebanhar mais fiéis às suas fileiras ou, então, reforçar seus espaços. Os exemplos são fáceis de observar: da minissérie “A história de Ester”, atualmente exibida pela Rede Record, ao sucesso do padre Fábio de Melo, passando pela cantora Aline Barros e pelos blockbusters com mensagens evangélicas, como “Desafiando gigantes”, de Alex Kendrick. “Com certeza, as manifestações artísticas com temas religiosos são eficazes para levar a mensagem das igrejas”, diz o presidente da Aliança Evangélica, Ronaldo Batista. “Deus nos deu a possibilidade de ouvir, ver e de ter sentimentos, com isso podemos apreciar as obras artísticas, que trazem conforto e mensagens importantes”, prossegue Ronaldo. Ele aponta que a música gospel é uma maneira importante de aproximação com a mensagem evangélica e detecta que, mais recentemente, os filmes passaram a ter papel de destaque no processo de evangelização. “Por exemplo, as pessoas podem chamar outras para assistir a um filme de temática religiosa, que mostra o assunto de forma atraente, com isso, despertando mais a atenção. Se aprecia como se fosse um filme qualquer e, depois, pode-se abrir para comentar, falar de coisas importantes destacadas na obra”, descreve Ronaldo. Esclarecendo equívocos No casos dos espíritas, o conteúdo da doutrina em filmes, músicas e peças serve, em muitos casos, para esclarecer questões que, em determinadas situações, podem levar a interpretações erradas. “As pessoas não calculam como a música, e a arte em geral, ajudam a aproximar aqueles que têm dificuldade para compreender certos elementos do espiritismo. Muitos não procuram os centros por medo e, quando chegam por lá, encontram um coral cantando bonito, muda muito aquela visão que tinham”, aponta o militar da reserva Pedro de Almeida Lobo “Palana”, que há 14 anos mantém o coral Voz da Cruzada Pantaneira, formado por 35 cantores, com faixa etária entre 10 e 80 anos. O diretor teatral Nelson Peixoto é outro que compartilha da opinião de que as manifestações artísticas podem alavancar maior contato com a filosofia espírita. Há 20 anos ele coordena o Grupo Arte Boa Nova de teatro. “Nossas peças têm a intenção de desmitificar a visão que muitos têm do espiritismo e estamos conseguindo isso ao longo dos anos”. Na avaliação do diretor, a arte é uma arma poderosa para colocar as pessoas em contato com temáticas religiosas complexas. “Muita gente tem até medo de ir ao centro espírita, mas por meio do nosso trabalho, entende vários aspectos que, de outra forma, seriam complicados”. No caso específico dos espíritas, o cinema tem um casamento com a doutrina há algum tempo, muitas vezes com roteiro que é apreciado por público amplo, inclusive de outras religiões. “No caso de ‘Ghost’, um filme totalmente baseado no espiritismo, foi assistido por gente de diferentes crenças e recebeu atenção sem qualquer preconceito”, avalia Nelson. No Brasil, o casamento dentre espiritismo com cinema tem exemplares no passado, como “Joelma 23º andar” (1980) e, mais recentemente, o segmento ganhou fôlego renovado com “Bezerra de Menezes – o diário de um espírito”, de Glauber Filho e Joe Pimentel que, sem muito alarde, levou mais de 500 mil espectadores às salas de cinemas. Em abril, comemorando o centenário de nascimento de Chico Xavier, um dos nomes mais importantes do espiritismo, será lançado o filme sobre sua trajetória. Dirigido por Daniel Filho, a expectativa é de êxito de público. Cerca de 300 cópias serão disponibilizadas – normalmente, esta é a quantidade dispensada às produções americanas.