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EMBRIÃO NO ENSINO Ensino da medicina pode sofrer remodelações com tecnologia de MS Método ainda só é utilizado no Rio de Janeiro e pretende baratear curso 23 OUT 2016 • POR RODOLFO CÉSAR • 12h00

Uma nova proposta educacional, usando tecnologia desenvolvida em Mato Grosso do Sul, pode baratear um dos cursos universitários mais caros do Brasil: o de medicina. Ao mesmo tempo, essa novidade atua em uma polêmica questão que é o uso do ensino à distância para a medicina.

O embrião desse método está em utilização apenas no Rio de Janeiro, nas universidades UniRio e Severino Sombra. As instituições aceitaram a proposta de servirem de experiência para que a tecnologia seja testada. A Academia Nacional de Medicina e a Fundação Carlos Chagas também estão participando do processo de "tubo de ensaio" dessa plataforma.

A base tecnológica do conceito foi desenvolvida na empresa Master Case, que tem em Campo Grande sua central de desenvolvimento tecnológico e ramificações em São Paulo e Rio de Janeiro. O negócio começou em 1998 e se solidificou no mercado.

Alcir Abuchaim, natural de Três Lagoas e hoje vivendo no Rio de Janeiro, foi quem criou a plataforma. Formado em gestão de políticas públicas, o empresário entendeu que com o uso da tecnologia poderia ser possível criar novas formas do ensino da medicina. 

"Não nos posicionamos como um EAD (Ensino à Distância), mas sim uma nova modalidade de ensino. Queremos é democratizar a educação, dando mais acesso onde não seria possível. A plataforma tem várias aplicações e interações. O professor está presente na hora da aula, o aluno também. Eles só não ocupam o mesmo espaço físico", defendeu Abuchaim.

Diretor da Universidade Severino Sombra, João Côrtes, analisou que a médio prazo a plataforma deve influenciar o mercado. Uma mensalidade para o curso de medicina está em R$ 7 mil, valor inviável para muitas pessoas. Já em uma universidade pública, a maior dificuldade é a grande concorrência.

"Tudo que é novo vai assustar um pouco. O termo 'à distância' vai começar a ser questionado. O que se está fazendo agora é a fusão do real com o virtual. Estamos pegando o melhor de um (curso presencial) com do outro (à distância) e fundimos", opinou o diretor.

FALTA DE PROFESSORES

Ele comentou que a possibilidade do método espalhar-se para o Brasil deve levar algum tempo, mas pode acontecer para contornar a problemática de falta de professores. Para indicar que a plataforma online pode ajudar na educação, Cortês mencionou que mesmo em universidades públicas nem sempre sem tem profissionais para lecionar aulas.

"Vim recentemente de um congresso e foi falado lá que em Sinop, no Mato Grosso, a UFTM (Universidade Federal do Estado) abriu curso de medicina e não tinha professor para lecionar. A plataforma vai servir para suprir demandas assim também. Vai ser possível alguém que está em um lugar ministrar a aula em outro. Depois teremos os professores e técnicos para atuar nos laboratórios, que não tem como serem substituídos", explicou.

Na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, que iniciou as aulas de medicina neste ano, também enfrenta problemas para completar seu quadro de professores. No meio do ano, alunos relataram, em protesto, que faltam 90 profissionais.

"Rio de São Paulo concentram a maior parte dos professores da área. Outras regiões sofrem com a carência", disse o diretor da Severino Sombra, universidade que fica em Vassouras (RJ) e atrai estudantes de várias partes do país.

QUALIDADE OU NÃO

Os testes da plataforma têm sido feitos para aulas virtuais com até 50 alunos, que seria a capacidade de uma sala física.

Essa quantitativo seria o máximo permitido para que o professor possa interagir. Segundo os envolvidos na metodologia tecnológica, o número de estudantes podem diminuir para até 20 se quem ministra a aula avalia que é necessário.

Outra característica é que nesse novo modo de ensino o encontro tem horário para começar e terminar. Nesse caso, o universitário não pode estudar a qualquer hora. "O professor prepara a aula e tudo fica na plataforma. Materiais de leitura e outras indicações. E não existe aula sem interação, por isso o professor fica ao vivo. Sabemos que nada substitui a relação humana", indicou o criador da plataforma, Alcir Abuchaim.

Para tentar comprovar que não há risco da qualidade do ensino cair, a Academia Nacional de Medicina está auditando o processo.

CUSTO

A plataforma funciona a partir de uma espécie de cartão que o aluno recebe e pode conectar a qualquer computador. Isso funciona como se fosse uma "chave" para poder acessar as aulas ao vivo e outros serviços, dependendo do pacote que a universidade adquire.

Com investimento estrangeiro, o sistema tem custo atual de US$ 100 dólares por usuário ao ano, mas esse valor pode mudar dependendo da estrutura do projeto contratado.

A manutenção ainda permite que para cada 10 estudantes, um técnico fica disponível para auxiliar em caso de problemas na conexão.

OPINIÕES

Médicos e professores comentaram sobre o uso da tecnologia e o que acreditam que pode ser mudado. Eles também comentam o que defendem que é preciso renovar no ensino da medicina.

*Matéria editada às 14h50 de 09/11/2016 para acréscimo de informações.