Quando os Beatles lançaram o disco "Sargeant Pepper's Lonely Hearts Club Band", em 1º de junho de 1967, o mundo ganhou novas cores e sons.
O quarteto de Liverpool colocou nas lojas o seu trabalho mais inovador e ousado. Para celebrar os 50 anos do disco que mudou os rumos da música, o historiador e jornalista Fernando Benevides lança na data do aniversário da obra o livro "A Revolução no Rock - O Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band".
O autor ressalta que a obra foi "responsável pela transformação da indústria da música em indústria fonográfica".
"Até então, artistas vendiam muitos discos, mas o intuito era fazer com que esses discos promovessem os shows, as apresentações ao vivo. Era isso que gerava muita renda, que sustentava uma banda ou cantor, por isso faziam-se muitos shows. A venda de discos era secundária. O Sgt. Pepper surge após os Beatles decidirem abandonar os palcos. Ele cria a ideia de 'álbum de estúdio'. Seu impacto foi tão grande, que é como se tivesse criado um novo mercado", avalia.
Para Fernando, o Sgt. Pepper é o divisor do rock, que existe em duas fases: antes e depois do disco cinquentenário. O livro, segundo o autor, foi desenvolvido para entender essa divisão no gênero musical.
"O livro foi escrito justamente para tentar entender como isso aconteceu, porque ele foi um divisor de águas na história do rock. A resposta disso está na quantidade de contribuições inovadoras que o álbum trouxe para o rock, como a utilização de instrumentos musicais incomuns para o gênero, a adoção de novas técnicas de gravação, a ampliação das temáticas nas letras das canções e a quebra de fronteiras entre erudito e popular e entre ocidental e oriental. Eu procuro explicar tudo isso no livro", afirma.
Segundo o historiador, o livro aborda também o contexto histórico e o que se passava com os Beatles na época em que o disco foi produzido. Para isso, foram consultadas biografias e trabalhos de pesquisadores especialistas em rock, como Roberto Muggiati, Paul Friedlander e Jonathan Gould.
Para narrar o dia a dia dos músicos e demais pessoas que trabalharam no disco, Fernando conta que as principais fontes foram as memórias do produtor George Martin, publicadas no Brasil em 1995, e as obras do escritor Barry Miles, amigo íntimo dos Beatles e que, por isso, teve acesso ao cotidiano deles.
REVOLUÇÃO COMEÇA NA CAPA
Sgt. Pepper’s tem pela primeira vez os quatro Beatles uniformizados como militares e pela primeira vez de barba e bigode, o que chamou a atenção dos fãs. Ela foi criada pelos artistas britânicos Peter Blake e Jann Haworth.
Eles se basearam em um desenho de Paul McCartney feito em um pedaço de papel. Por trás dos garotos de Liverpool estão outros ícones da cultura e da história, como Bob Dylan, Marilyn Monroe, Marlon Brando, Muhammad Ali, Edgar Allan Poe, Gordo e o Magro e outros.
Os Beatles entraram no estúdio para gravar o disco em dezembro de 1966 e terminaram em abril de 1967. Os quatro queriam gravar algo nunca ouvido pelo público.
Paul McCartney admitiu que sua inspiração foi o álbum "Pet Sounds", de 1966, dos Beach Boys. Na época, John Lennon falou para George Martin que os quatro queriam um som vindo do nada e que abraçasse o universo. E abraçou.
O produtor George Martin tratou de reproduzir o que os Beatles queriam. Foram utilizados, apesar dos poucos recursos da época, metais, vozes dobradas, tambura e harmônica, sexteto de saxofones, violinos e violoncelos, fitas usadas de trás para frente, madeiras e percussão. Além dos Beatles, mais de 30 músicos foram utilizados. E mais. Todas as músicas interligadas. Algo inédito para a época.
ESPETÁCULO
O lado A do disco tem é um clássico atrás do outro. O disco inicia com a guitarra de George Harrison e em seguida a voz de Paul chamando os fãs para conhecerem o mundo do Sargento Pimenta.
Ringo aparece ótimo e alegre em "With a Little Help from My Friends" . John Lennon faz os fãs viajarem em "Lucy in the Sky with Diamonds". A história se repete na contagiante "Getting Better", na poética "Fixing a Hole", na romântica "She's Leaving Home" e na alegria circense de "Being for the Benefit of Mr. Kite!".
O lado B inicia com a indiana "Within You Without You", de George Harrison. Mais uma vez como ocorreu no disco anterior de agosto de 1966, "Revolver", o beatle mais quieto introduz sons indianos nas suas performances atingindo pioneirismo e sucesso.
"When I'm Sixty-Four" é uma das preferidas do público e crítica. Paul introduziu um som inglês dos anos 20 e 30. Paul em entrevistas sempre desejou chegar aos 64 anos e relembrar os bastidores da criação da música. Ainda bem que chegou!
Em "Lovely Rita" a criatividade dos Beatles chega ao ápice. Paul toca piano e George Martin faz solo no estilo Honk Tonk. John Lennon e Paul McCartney cantam em fantástica sintonia e usam pentes e pedaços de papel para criar sons engraçados.
Na alegre "Good Morning Good Morning" o grupo tem a ajuda da banda de Liverpool "Sounds Incorporated". Com eles os Beatles introduzem sons alegres e divertidos como cacarejar de uma galinha no fim da canção.
Já que o disco inicia com o grupo convidando a plateia para a viajar na obra, nada de estranho em fechar a apresentação agradecendo o público.
"Sargeant Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise)" agradece a todos por ter ouvido a banda. Diferente da faixa que abre o álbum, a reprise é mais ligeira. Em seguida chega "A Day in the Life". A canção, uma das preferidas do produtor George Martin, na verdade são duas composições. A primeira parte é de John e a segunda, de Paul. A junção da letra e melodia é a concepção perfeita para encerrar a obra-prima do rock mundial.
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