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OPINIÃO Gilson Cavalcanti Ricci: "Forte de Coimbra – a troia pantaneira!" Advogado 7 JUN 2017 • POR • 01h00

Majestosamente edificado às margens do Rio Paraguai, na fronteira tríplice Brasil-Paraguai-Bolívia, o Forte de Coimbra foi inaugurado na época colonial, em 13/9/1775, quando Espanha e Portugal disputavam territórios expandidos pelos bandeirantes paulistas, situados além dos limites previstos no Tratadodas Tordesilhas, o qual suprimia de Portugal direito às terras situadas além de trezentas e setenta léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde. Por este motivo, em setembro de 1801, os espanhóis subiram o Rio Paraguai com uma esquadra naval armada com pesada artilharia e guarnecida por novecentos homens sob o comando de D. Lazaro de Ribera, governador de Assunção, tomando posição estratégica próxima ao Forte de Coimbra.

D. Lazaro, alertando sobre sua superioridade em homens e armas, intimou à rendição os defensores do forte. O comandante, tenente-coronel Ricardo Franco, respondeu energicamente que ele e seus comandados, “se não repelissem os inimigos, se sepultariam sob as ruínas do forte”. A defesa de Coimbra consistia em quarenta e nove soldados e sessenta civis, apoiados por seis canhões e cento e dez fuzis. Mesmo diante dessa ostensiva inferioridade de homens e armas, os comandados de Ricardo Franco conseguiram heroicamente repelir o poderoso inimigo, após oito dias de combates e escaramuças, que se prolongaram de 16 a 24 de setembro de 1801.  

Após esses fatos, em 26 de dezembro de 1864, no limiar da Guerra do Paraguai, o Forte de Coimbra foi novamente atacado, desta feita por uma esquadra naval paraguaia, mais poderosa que a dos espanhóis no período colonial. Constituía 11 navios de guerra, 39 canhões de bordo e três mil e duzentos homens sob o comando do coronel Barrios, que intimou à rendição o comandante do forte, tenente-coronel Portocarrero, o qual, em uma atitude de extrema coragem, respondeu que somente pelas armas entregaria Coimbra. A guarnição sob seu comando era muito inferior em número de homens e armas na proporção de trinta por um, pois constituía 115 soldados, 40 civis, 18 presos, 10 índios guaicurus e 70 mulheres, a maioria esposas dos militares. Portanto, apenas 253 pessoas frente a 3.200 inimigos fortemente artilhados.

Os paraguaios atacaram Forte de Coimbra de 26 a 28 de dezembro de 1864, ocorrendo ferrenha resistência dos brasileiros, que lutaram até o último cartucho. Eles enfrentaram com imensa bravura o inimigo numericamente  superior, todos irmanados no fervor pela honra da Pátria Amada. As mulheres substituíram os soldados nos serviços de rancho (cozinha) e retaguarda, contribuindo dessa forma ao aumento do número de combatentes na linha de frente. Elas também se destacaram valentemente no reaproveitamento e adaptação de 3.500 balas de fuzil, com o inteligente tino feminil no improviso da emergência. Enquanto puderam improvisar tudo quanto fosse necessário a nutrir o poder de fogo dos defensores do forte, as intrépidas mulheres foram precioso reforço de retaguarda aos bravos combatentes do Forte do Coimbra.

Quando acabou a munição, e sem meios logísticos para sustento da defesa, Portocarrero ordenou a retirada, o que foi feito com sucesso sob a proteção de Nossa Senhora do Carmo, padroeira do Forte de Coimbra, cuja imagem fora conduzida fervorosamente pelos combatentes. Os retirantes  despistaram sagazmente os inimigos, e assim conseguiram embarcar em perfeita ordem na canhoneira Anhambaí rio-acima, deixando o forte totalmente vazio, sem qualquer objeto que pudesse ser utilizado na guerra pelos paraguaios.    

Com o passar do tempo, o Forte de Coimbra foi incluído no calendário turístico de Mato Grosso do Sul, como um rico legado de glória ao Brasil. Atualmente, é sede da 3ª Companhia de Fronteira do Exército Brasileiro, sentinela avançada da Pátria - a Troia Pantaneira, baluarte épico da bravura do soldado brasileiro na guerra e na paz!