Existe relação entre exército e república? Sim, e isso é o que, provavelmente, influenciará o futuro de nossa democracia. Um dos motivos que me levou a pesquisar um pouco de História foi para tentar compreender essa relação inacabada. Quando estudei na saudosa Academia Militar das Agulhas Negras (1976-1978) organizei, com recursos próprios, uma sala de leitura na ala dos apartamentos da 2ª. Companhia do Curso Básico.
Um dos livros que doei foi A República de Platão. Nele o filósofo narra a trajetória de Giges, que encontrou um anel mágico. Na construção do mito, Platão induz o seu personagem a perceber que a valiosa joia tinha o poder misterioso de torná-lo invisível aos olhares dos deuses e dos homens. Assim, poderia escapar da justiça. Com essa força poderosa ele seduziu a rainha, assassinou o rei e começou a sua própria dinastia.
O que Platão estava propondo é muito atual para explicar a crise que tomou conta da nossa jovem república. A pergunta milenar pode ser repetida agora: o que fariam os republicanos brasileiros tendo em mão um poder acima de qualquer outro? Não posso responder por milhares de brasileiros partidários do regime republicano, mas ouso interpretar o que o comandante do exército general Villas Boas revelou recentemente: “(...) a instituição foi sondada e rechaçou a hipótese de apoiar a decretação do estado de defesa nos dias tensos que antecederam o impeachment da Dilma” (Veja, 20/04/2017).
Até aquele momento a situação estava sob controle das forças de segurança do Estado.
O ilustre general estudara, antes de mim, na mesma Academia Militar das Agulhas Negras e “aprendeu a obedecer antes de comandar”, frase original atribuída a outro filósofo grego, o grande Solon. Não importa o quanto estudamos, nunca é o suficiente para se prever o futuro com absoluta segurança. Tenho plena convicção de que os comandantes militares brasileiros estão orientando corretamente o sr. ministro da Defesa e por consequência o sr. presidente da República. São muito bem formados, dignos e comprometidos com o Estado democrático de direito.
O que o general Villas Boas deixou claro é que não há nenhum interesse das Forças Armadas brasileiras de qualquer recuo em direção contrária ao fortalecimento de nossa jovem democracia. O que está valendo é o artigo 142 da 7ª. Constituição Federal Republicana, que completará 30 anos em 2018.
O lado exemplar do exército brasileiro está se revelando em todas as direções. Agora mesmo, o ilustre e digno general de exército Menandro está deixando o Comando Militar do Oeste para representar o nosso País, em Washington, na Organização das Nações Unidas (ONU). Fui seu aluno e posso assegurar que ele não fará nada para estimular guerras, violar direitos humanos ou destruir o meio ambiente, embora seja um Chefe Militar preparado para comandar qualquer exército no mundo, em circunstância de conflito armado. Sua missão na ONU será, felizmente, de paz. Como cidadão brasileiro e membro da reserva aérea estou me sentindo muito orgulhoso.