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APRENDIZADO Seis meses de programa de tempo integral começa a dar resultado no ensino Comportamento, aprendizado e evasão escolar melhoraram 8 JUL 2017 • POR GLAUCEA VACCARI • 14h33

Passaram-se seis meses da implantação do tempo integral em escolas estaduais conforme determinou portaria do Governo Federal de outubro de 2016. Nesse período, quem vive a rotina escolar avalia que já é possível identificar melhorias no desempenho e comportamento dos estudantes que fizeram parte dessa mudança estrutura em unidade de Campo Grande.

Com atividades diversificadas e voltada ao protagonismo do aluno, as intituições, na avaliação de coordenadores, profesores e dos próprios estudantes, tornaram-se mais atrativas e humanas.

Em Campo Grande, são oito escolas estaduais que oferecem o programa, denominado Escola da Autoria, são elas: Amélio de Carvalho Baís, José Barbosa Rodrigues, Lúcia Martins Coelho, Maria Constança Barros Machado, Professor Emygdio Campos Widal, Professor Severino Ramos de Queiroz, Waldemir Barros Silva e Manoel Bonifácio Nunes da Cunha.

A proposta é trabalhar sobre a perspectiva da formação do jovem autônomo. Para isso, a matriz das escolas atendem as disciplinas da Base Nacional Comum, que são as matérias como português e matemática, e a parte diversificada, que incluem disciplinas eletivas, projeto de vida, estudo orientado, práticas experimentais, entre outros.

Na Escola Estadual José Barbosa Rodrigues, a diretora adjunta Célia Ferreira Gonçalves dos Santos disse ao Portal Correio do Estado que com várias atividades, estudantes podem escolher opções que se encaixem em seus perfis, o que aumenta o interesse pelo ambiente escolar.

“O comportamento muda bastante. Para nós, um problema que tínhamos muito era a evasão. Agora nós não temos, melhorou bastante, só fica o aluno que quer mesmo estudar”, disse.

Dados da Secretaria Estadual de Educação (SED) apontam que, no ano passado, taxa de evasão escolar foi de 25% em todas as escolas da rede estadual. Neste ano ainda não foram divulgados dados oficiais, mas expectiva é que o percentual diminua com as escolas de tempo integral.

SONHO DOS JOVENS

Célia disse ainda que o projeto de vida auxilia os jovens para além do ambiente escolar. 

"Tem o tutor que acompanha cada aluno, então ele vai falar: 'qual o seu sonho?, o que você precisa para conseguir sua meta?, qual disciplina precisa melhorar?, como você pode melhorar suas notas?, o que você está fazendo para alcançar os seus sonhos?'. Porque muitos pensam que por ser de classe baixa e escola pública não têm condições de realizar os sonhos, então a gente trabalha isso, de que eles conseguem, sim", explicou Célia.

O coordenador pedagógico José Carlos Ferreira acredita que as melhorias devem ser mais significativas a partir do segundo semestre.

“Já é notável uma mudança de comportamento, mas seis meses ainda é muito pouco para colher grandes frutos. No próximo semestre teremos o nivelamento de habilidades, que são orientações especificas, de agosto a novembro, onde terá tutor para conhecimentos como leitura, cálculo, para cada área que o estudante não domina”, disse.

COMPORTAMENTO E POLÊMICA

Na escola, professores e direção evitam entrar na polêmica que envolve a lei que ficou conhecida como Lei Harfouche, que prevê penalização para estudantes com mau comportamento. Em Campo Grande, a regra é válida, mas a Assembleia Legislativa tentou aprovar a medida válida para todo o Estado. Discussões contrárias conseguiram paralisar a tramitação da proposta.

Ao mesmo tempo, é unâmine a opinião de que o ensino integral auxilia no desenvolvimento pessoal dos alunos, em questões como vida em comunidade, trabalho em grupo e respeito.

Professora de língua portuguesa, Suzy Ranielly Roberto Ferro, responsável pela eletiva "Meu informante é você", onde alunos produziram um jornal da escola, afirma que as atividades desenvolvem várias capacidades dos alunos, como responsabilidade, compromisso com prazo e saber lidar com as pessoas.

"Está acontecendo muita coisa na escola por conta do (tempo) integral, então além das aulas normais, que a gente chama de Base Nacional Comum, tem essas diversificadas. Eles têm projetos de vida, estudo orientado, avaliação semanal, tem a eletiva, no horário do almoço tem os clubes. É muita função para eles na escola", disse.

OPINIÃO DOS ALUNOS

Estudantes do 1º ao 3º ano do Ensino Médio afirmam que a adaptação foi a parte mais difícil do processo, já que até ano passado o ensino era regular, em apenas um período. No entanto, os alunos ouvidos pelo Portal Correio do Estado são unânimes na opinião de que melhoraram tanto no aprendizado quanto nas expectativas para o futuro.

Wendy Fabielly, 14 anos, está no 1º ano e disse que é cansativo passar o dia todo na escola, no entanto, como as atividades são dinâmicas, acaba despertando o interesse e ajudando no desempenho escolar. 

"Por mais que seja cansativo e desgastante, algumas coisas acabam influenciando muito o nosso futuro e ajuda bastante", reconhece.

Os adolescentes citaram a base diferenciada de projeto de vida, onde um tutor auxilia os estudantes nas buscas pelos seus sonhos e a projetar o futuro.

João Gabriel Chaga, 17 anos, estudava no noturno e mudou de horário por conta das atividades oferecidas na modalidade integral. Segundo ele, além da carga horária maior nas matérias da base comum, as atividades diversificadas permitem um aprofundamento do conhecimento.

"A escola estava igual a nós, imaturos. Nós não estávamos preparados, mas com isso a gente foi se adaptando, tanto a escola quanto os alunos. Agora está tendo projetos novos. Tanto é que as eletivas do segundo bimestre são mais interessantes que as do primeiro, porque a escola está tentando se adequar e agora todo mundo está mais confortável, são coisas mais interessantes para fazer", revela.

Diretora adjunta, Célia explicou que as matérias eletivas e diversificadas, citadas pelos alunos, são atividades feitas de modo lúdico, mas aliada às da base comum. Os professores sugerem os projetos e os alunos se inscrevem e participam das que tenham a ver com seus perfis. Essas atividades não valem nota.

Aluna do 3º ano, Thais Malta, 17 afirma que, com mais responsabilidades dadas aos alunos, eles adquirem maior capacidade de entendimento e respeito, além de dar voz aos jovens. "A escola vai mudando e a gente vai ajudando".

FEIRÃO DAS ELETIVAS

Desenvolvidos pelos alunos desde fevereiro, nove projetos das disciplinas eletivas foram apresentados nessa semana durante a "Feira das Eletivas",  realizada pela primeira vez na Escola Estadual José Barbosa Rodrigues.

Foram apresentados projetos das eletivas chamadas de  "Desvendando os mistérios do corpo humano", "Educação em direitos humanos", "E se Joana D’arc encontrasse Afrodite no Instagram?", "Introdução aos Estudos de Astronomia", "JBR no teatro", "Meu informante é você", "Semeando ciência e colhendo tecnologia", "Show da Química" e "Somos El Mundo".

Temas escolhidos pelos alunos envolveram situações diretamente ligadas ao ambiente escolar, como bullying. Eles também tentaram desenvolver consciência sobre consumo consciente, por exemplo.

Entre os projetos, foi desenvolvido um jornal impresso que tratou sobre criação de uma horta, debates e palestras sobre suícidio e bullying na escola, teatro e apresentações musicais.

TEMPO INTEGRAL

O Governo Federal institutiu em outubro do ano passado o Programa de Fomento à Implantação de Escolas em Tempo Integral para todo o Brasil.

Em Mato Grosso do Sul, foram abertas 7,2 mil vagas em 16 escolas estaduais. Para cada vaga integral, com alunos permanecendo na escola, em média, sete horas ao dia, a União comprometeu-se a pagar à rede de ensino R$ 2 mil por ano, durante quatro anos.

A Secretaria de Estado de Educação criou 12 escolas, das 16 que estavam previstas. Por conta do período curto para estruturação dos planos de aula (determinação do Governo Federal foi dada em outubro de 2016 para implantação já neste ano), muitas dúvidas ficaram no ar se o sistema funcionaria e daria resultado. A avaliação oficial só deve ser realizada depois do primeiro ano de aula.