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estudo de juros Diretores do BNDES pedem demissão por divergir de presidência Diretores do BNDES pedem demissão por divergir de presidência 8 JUL 2017 • POR FOLHAPRESS • 07h33

Os diretores do BNDES Vinícius Carrasco e Cláudio Coutinho pediram demissão nesta sexta (7), por divergências com o presidente do banco, Paulo Rabello de Castro, em relação à proposta de mudança na taxa de juros de longo prazo, apresentada pelo governo em abril.

A decisão foi tomada após a divulgação de declarações de Rabello de Castro ao "Estado de S. Paulo" questionando a Taxa de Longo Prazo, que começaria a vigorar em 2018 e foi apresentada como alternativa mais aderente ao mercado do que a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), em vigor atualmente.

A nova taxa foi estudada durante nove meses pelas equipes dos dois diretores antes de ser apresentada, e a crítica foi considerada um desalinhamento do presidente à orientação de reduzir o volume de crédito subsidiado na economia.

Rabello de Castro disse ao "Estado de S.Paulo" que a TLP reduz a previsibilidade dos tomadores de financiamento do banco, que, "em um momento agudo (de alta de juros) podem não resistir".

"Gerou um desconforto quando a gente viu que, de certa forma, o presidente não concorda com o que está posto", disse Coutinho, que ocupava a diretoria de Crédito do banco, à reportagem.

"Eu trabalhei ativamente no processo que levou à MP 777 (que instituirá a nova taxa) e, mesmo com a substituição (na presidência do banco), a gente imaginava que teríamos continuidade", completou.

Carrasco ocupava a diretoria de Planejamento. Os dois chegaram ao BNDES por indicação de Maria Silvia Bastos Marques, que assumiu o banco em maio de 2016.

Na noite de quinta (6), Carrasco defendeu a TLP em um rede social, dizendo que a mudança "permitirá menores taxas de juros para todos, aumento de produtividade, melhoras distributivas e transparência na concessão de subsídios".

A mudança na taxa tem por objetivo reduzir os subsídios concedidos a grandes empresas implantando uma taxa mais alinhada com a praticada no mercado.

"A TLP proporciona à economia igualdade entre todos os tomadores de empréstimo, ao invés de ter subsídios apenas para quem tem acesso ao BNDES", defendeu Coutinho.

A proposta da nova taxa foi defendida pelo governo com o argumento de que, ao reduzir subsídios aos financiamentos do banco, ajudaria a reduzir a taxa de juros estrutural da economia.

"A política monetária fica mais potente", disse, na época do lançamento, o presidente do BC, Ilan Goldfajn.

Durante um período de transição de cinco anos, a TLP seria corrigida pelo IPCA mais o rendimento do NTN-B. Depois disso, será idêntica aos juros do NTN-B.

A mudança será implantada por meio da MP 777, em discussão no Congresso. O processo tem como relator o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE), que tem se manifestado a favor da aceitação da denúncia contra o presidente Michel Temer.

Gomes agendou audiências públicas para ouvir o mercado a respeito da TLP antes de concluir seu relatório.
A equipe econômica trabalha para aprovar a TLP, mas deve enfrentar a pressão política exercida por setores empresariais organizados e com influência sobre parlamentares.

Além da TLP, a administração de Paulo Rabello está voltando atenção a empréstimos para setores que no jargão técnico "não geram externalidades positivas", ou seja, não produzem os efeitos sociais e econômicos que seriam desejados.

A gestão de Maria Silvia elevou a importância desses fatores na análise na concessão de crédito.

Um exemplo é o reforço que está dado a linhas de crédito de capital giro a empresas, um tipo de crédito de curto prazo e que já é ofertado pelo mercado privado.