Este artigo traz o título do livro do psiquiatra David Eberhard sobre a realidade da sociedade sueca décadas após proibir palmadas nas crianças. A discussão tem gerado muita polêmica e dividido opiniões.
Para alguns especialistas, as crianças suecas são as mais felizes do mundo. Outros afirmam serem elas as mais mimadas e sem educação.
A Suécia inovou ao proibir castigos físicos na educação de crianças. Em 1979, o país incorporou em seu código penal tendo o Estado como proponente de outras formas de educação como, por exemplo, a colocação da criança no centro das preocupações sobre aquilo que for melhor para seu integral desenvolvimento. Ouvir as crianças apenas não basta.
O governo sueco desenvolveu um curso para os pais com dificuldades na criação dos filhos.
A dissolução afetiva entre pais e filhos, segundo o governo, é a grande responsável pela preferência aos castigos físicos que, a longo prazo, não significa garantia de adultos confiantes e autônomos.
Eberhard aponta as crianças suecas como extremamente mal-educadas. Elas decidem, por exemplo, o que assistir na TV; a hora de dormir; quais os alimentos comer; ou, a roupa que vestirão.
Depoimentos de educadores suecos reforçam a afirmação do psiquiatra. Um professor relatou que quando pediu para um aluno de cinco anos resolver um exercício em sala de aula, a criança respondeu-lhe: “Você acha que eu quero fazer isso?”
Ao longo de quatro décadas as ‘crianças no centro’ restringiram toda e qualquer forma de correção ou imposição de limites.
No Brasil uma conversa entre duas mulheres vazou na internet e tem movimentado as redes sociais. Para algumas pessoas trata-se de uma “preocupante inversão de valores na educação infantil”.
A conversa chamou a atenção pelo fato de um menino ter reclamado para sua mãe que não o deixaram brincar com um brinquedo.
A mãe tirou satisfações através de mensagens no celular. Questionou o porquê da proibição? A mulher explicou que possui peças colecionáveis, que além de serem caríssimas, não estavam na área social de sua residência.
A mãe questiona a possibilidade de o filho ficar doente e chamou a mulher de egoísta. Ela reforça seu argumento de indignação pelo ‘não’ que o filho recebeu, alegando que ele é apenas “uma criança”. Afirma que irá levá-lo novamente à casa da mulher e que ele brincará, ‘sim’, com os brinquedos.
Independente das culturas, a essência humana é a mesma. Isso não é um pensamento determinista. Isso é um fato biológico, psíquico e emocional. O ser humano, sem limites, é um aspirante a tirano.
Essa é a tese defendida por David Eberhard. Para ele, a Suécia criou uma geração de pequenos tiranos e talvez devesse se questionar se tal decisão não foi longe demais.
E no Brasil? Qual a melhor decisão a ser tomada? Certamente que as opiniões são as mais variadas, e isso é um bom sinal, pois a tão falada autonomia e autodeterminação dos povos confere ao indivíduo sua maneira subjetiva de entendimento sobre aquilo que é melhor para si. E isso bem que poderia ser respeitado.
Na esfera particular, todos os dias digo ao meu filho de três anos e meio que ele é forte, inteligente, um menino amado por seus pais e que, por tudo isso, deve retribuir os cuidados e o comportamento educado que recebe.
Quando cerceio suas vontades, a reação é imediata: “você é fustante papai; você não vai na minha festa hoje”. Ele diz que sou frustrante ao impedi-lo de fazer algo e, não satisfeito, ameaça de impedir minha participação na sua festinha de aniversário.
Digo a ele que quero muito estar na sua festinha, mas que ele não fará aquilo que bem entender enquanto estiver sob meus cuidados e responsabilidades de pai. Ganho um abraço e um “eu ti amo papai; eu tô feliz com você hoje”.